Educação Cooperativista: O Cooperativismo desconhecido

Por Mário José Konzen

Mário José Konzen é Vice-Presidente da Sicredi Pioneira RS

O segmento da economia onde estão inseridas as cooperativas é um dos que mais cresce no mundo e no Brasil. Este crescimento não é expresso por aumento de cooperativas e sim, por um aumento significativo de cooperados e uma gradativa compreensão de que essa forma de organização social proporciona efetivamente uma forma real de ganho de renda extra e também que se trata de um modelo de negócio sério. Podendo inclusive ser considerada uma das formas mais avançadas de organização da sociedade civil. Entretanto, esse crescimento pode estar, em alguns casos, sendo realizado de forma não sustentada,  o que pode gerar uma situação problemática para o sistema cooperativista brasileiro.

É verdade que as cooperativas estão investindo seriamente no preparo de seus dirigentes e colaboradores, o que é muitíssimo salutar para o sucesso econômico da instituição cooperativa. A falha, porém, ocorre no preparo dos associados.

As cooperativas ainda não se estruturaram adequadamente para prestar uma educação cooperativa que atenda as prerrogativas cooperativistas. Precisa-se encontrar a fórmula ideal para  operacionalizar este relacionamento, haja visto sua enorme importância no contexto da educação individualista/capitalista e neo-liberal e a contribuição e capacidade de modificação social que a educação cooperativa pode proporcionar no processo da educação/capacitação no nosso país. Todavia é essencial encontrarem-se atividades e intervenções de um processo de educação cooperativa e expelir as dificuldades e fatores impeditivos que de maneira geral ou concretamente impedem um dinâmico avanço nesta ordem.

Tem-se muito claro que de maneira geral, não há consciência do associado do seu verdadeiro papel na cooperativa e fica evidenciado que muitos não sabem identificar o que representa ser associado de uma cooperativa de crédito, por exemplo, muito menos especificar suas principais características. Há ainda a confusão do associado do que faz a cooperativa de crédito e os bancos comerciais. Está patente que o cooperativismo se faz insuficientemente presente na análise de diferenças entre as cooperativas de crédito e os bancos. Somente destacam as diferenças de tarifas, prestação de serviço, o bom atendimento e taxas de juros diferenciados. Em geral existe baixo grau de conhecimento de todas e das reais vantagens e desvantagens em ser associado de uma cooperativa de crédito. A Maioria, especialmente no início da associação, praticamente busca vantagens pessoais, sequer tem noção do fator da coletividade e cooperação. Ou quando o mesmo não é afetado com alguma particularidade, simplesmente acredita não existirem vantagens ou desvantagens na cooperativa.

As mesmas observações podem ser consideradas nas cooperativas agropecuárias, onde os associados muitas vezes não acreditam serem diferentes de “clientes”.

Cabe então aos que já puderam perceber e vivenciar o potencial presente na cooperação, quando pessoas se unem através de uma instituição jurídica, com todas as suas características, também ajudar a construir e contribuir para uma educação maior do cooperativismo. Aplicar a teoria de antepassados que diziam que “todos têm oportunidades para acender luzes”. Então, porque não fazê-lo em toda parte que andemos. Dizer e mostrar para as pessoas as oportunidades e benefícios quando se coopera. É claro que ninguém perderá quando o número aumenta, quando mais pessoas se juntam a nós. Mas com isso nós podemos acender uma luz para iluminar. Sem esquecer que “quem acende a luz é o primeiro a se beneficiar da claridade”.

Necessário se faz que os dirigentes de cooperativas brasileiras, além de vivenciar, valorizem e apliquem a educação cooperativa. Com uma adequada educação pode-se trazer ainda mais qualificação e participação e gerar um aumento de sentimento de pertencimento e de identidade com a sua cooperativa, alçando, com isso, uma maior fidelidade e confiança. O estudo e os processos educativos utilizados compreendem um resgate e uma construção de práticas solidárias pelos associados e sua gestão enquanto negócio coletivo. Então a educação cooperativista entra como ferramenta participativa na reestruturação de empreendimentos solidários como são as cooperativas, deixando fluir a relação entre cooperativa, associados, parceiros institucionais não governamentais e governamentais.

Por Mário José Konzen, Vice-Presidente da Sicredi Pioneira RS

2 Comentários

  1. Mário
    Muito interessante a sua reflexão, queira Deus que mais dirigentes de cooperativas sejam iluminados como você e despertem para esta problemática.
    O futuro sustentável do cooperativismo, passa, obrigatoriamente, pela solução desta lamentável lacuna em nosso sistema.
    Parabéns.
    Leone

  2. Senhores,
    Tenho uma grande adimiração pelo sistema cooperativista, acho que uma das formas mais justa de se desenvolver um processo produtivo e distribuitivo. Vou além, acho que o cooperativismo já deveria ser oficialmente considerado na teoria econômica, como um sistema economico, alternativo ao capitalismo, socialismo e comunismo. talvez até o sistema que tanto se procura, sistema sem patrão e sem empregado, onde todos os cotistas são patrões e empregados, donos e clientes ao mesmo tempo. será que não seria este um sistema que acabaria com a polemica sobre a mais valia?
    Nos meus cursos de economia, tenho me referido muito ao sistema cooperativista, como uma provavel, alternativa no processo de geração e distribuição de renda . Acredito seja essa uma alternativa para o processo produção e distribuição de renda.

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