Inadimplência e endividamento: como evitar os vilões da conta bancária, por Felipe Azevedo

Inadimplência e EndividamentoComo resistir à tentação do consumo? Uma smart TV de última geração, um banho de loja, mais um sapato para a coleção, um carro novo, uma viagem para o exterior… São tantas as aspirações que o salário do mês não dá conta de suprir as despesas fixas, os gastos necessários e os custos extraordinários. Isso somado ao cenário de recessão prolongada em que o País atravessa – e considerando ainda a alta taxa de desemprego –, resulta em índices elevados de inadimplência.

Segundo dados da Serasa Experian, o Brasil começou 2016 com 59 milhões de consumidores inadimplentes. É o maior número desde que a pesquisa começou a ser feita, em 2012. Ao todo, as dívidas não quitadas somam R$ 225 bilhões. Isso demonstra que a saúde financeira de grande parte dos consumidores está fragilizada e muitos deles envolvidos em verdadeiras bolas de neve movidas a altas taxas de juros.

Diante disso e do exercício diário de fazer render o salário para suprir todas as dívidas, a pergunta que não quer calar é: como manter a saúde financeira da conta corrente, suprindo as despesas fixas e ainda reservar uma renda para gastos extras?

 O primeiro passo é realizar um detalhamento das receitas e das despesas para se ter uma visão clara do que se ganha e onde se gasta o dinheiro. Após isso, deve-se realizar um levantamento completo das dívidas e juros com o objetivo de repactuar o saldo devedor em um único empréstimo a juros menores (notadamente, tentar substituir dívidas com juros elevados como cheque especial e rotativo de cartão de crédito por crédito pessoal). E, obviamente, deve-se atentar para que as dívidas caibam dentro do orçamento para que não haja necessidade de novas repactuações com nova incidência de juros – aumentando o custo total da dívida.

 O segundo passo é programar o orçamento, como forma de manter o fluxo de caixa saudável. Para isso, sugerimos seguir a regra dos 50-15-35. Até 50% da renda líquida deve ser direcionada ao pagamento das despesas essenciais (moradia, saúde, alimentação, educação, transporte, etc.). No mínimo 15% da renda deve ser destinada a formação de uma reserva financeira, que pode ser uma poupança ou uma previdência, visando a manutenção do padrão de vida no futuro, aquela viagem de férias tão sonhada, ou mesmo para alguma despesa não planejada que venha a ocorrer.

 Após garantir que os gastos essenciais e a reserva financeira foram atendidos, os 35% restantes serão destinados a despesas pessoais e voluntárias, como academia, lazer, restaurantes, ou mesmo aquela nova smart TV de última geração, diluída em suaves prestações ao longo do ano. Essas despesas representam uma escolha de estilo de vida em que se prioriza o que mais se gosta. É essencial o entendimento de que essas despesas devem sempre vir depois de atendidas as despesas essenciais e a reserva financeira.

O ideal é que se consiga poupar os valores antecipadamente, para negociar descontos em uma compra à vista e evitar os juros de um parcelamento. Agora, caso o parcelamento da compra seja realmente necessário, as parcelas devem ser programadas de forma que caibam no bolso justamente para não ter que recorrer a novos empréstimos. É recomendado que se mantenha sempre uma reserva financeira de pelo menos três vezes a receita bruta mensal da família. É sempre importante frisar que, permanentemente, deve-se avaliar se o estilo de vida está condizente ao salário recebido. Se estiver fora desse contexto, o certo é rever o valor das parcelas para que seja possível cumprir os compromissos do mês.

 Uma tabela para controle de despesas e manutenção do fluxo de caixa pode ser uma boa alternativa para você ter consciência do rumo que a sua vida financeira está seguindo. Assim terá claramente um panorama geral da condição financeira e disponibilidade de caixa para novos parcelamentos.

 O controle do fluxo de caixa mensal é uma questão de hábito e desta forma é possível passar rapidamente do papel de devedor para o papel de poupador. Isso é reforçado pelo Sicredi no relacionamento com seus associados por meio de assessoria no planejamento financeiro. Inclusive, vale ressaltar as Cooperativas de Crédito costumam trabalhar com taxas de juros inferiores às principais instituições financeiras do mercado. Naturalmente, quanto menor o juro sobre uma determinada dívida, menor será o desembolso financeiro para quitá-la. Ao ser associado a uma Cooperativa de Crédito, existe ainda a garantia de um recurso extra para incrementar o orçamento, pois há a participação nos resultados (sobras) da Cooperativa. Esse recurso pode auxiliar na quitação ou antecipação de pagamento de eventuais dívidas/compromissos ou ainda aumentar a poupança (ou qualquer outra reserva) para necessidades futuras.

 Felipe Azevedo é Gerente de Produtos de Investimento do Banco Cooperativo Sicredi

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