A hora e a vez do cooperativismo financeiro, por Ênio Meinen

“Cooperativismo é sinônimo de boa sociedade”.
(Robert J. Shiller, Nobel de Economia em 2013)

Estamos experimentando (ou “experienciando”) uma nova e revolucionária era nas relações entre tomadores e provedores de produtos e serviços, em que as condições são ditadas não mais pela oferta e sim pela demanda.

Andam cada vez mais em evidência as soluções que, sensíveis à intervenção do usuário, combinam qualidade, preço justo e conteúdo socioambiental. Se a isso tudo puder ser associado algum propósito – algo que, ultrapassando a mera relação comercial, cause impacto para mais pessoas –, tanto melhor.

Nesse contexto, o cooperativismo habilita-se com força total para merecer a preferência do neoexigente consumidor.

Com efeito, no empreendedorismo cooperativo não há oponentes. Todos jogam no mesmo time. O dono é também o cliente; o anfitrião, ao mesmo tempo o convidado. É um convívio sem intermediários. Logo, além da garantia da qualidade e adequabilidade das soluções, não se estabelece o habitual conflito entre o querer cobrar mais e o desejar pagar menos. O preço será aquele suficiente para dar sustentabilidade e longevidade ao empreendimento comum.

Some-se a isso o ativismo da cooperativa no processo de desenvolvimento socioeconômico local, engajamento natural pelo fato de os donos residirem e empreenderem nas respectivas comunidades. Sendo do mesmo lugar, os cooperados direcionam a sociedade cooperativa para o bem comum, melhorando a qualidade de vida do maior número possível de pessoas. Eis o propósito, a causa, em perfeita sintonia com o 7º princípio cooperativista, definido globalmente como “interesse pela comunidade”.

No caso, especificamente, do cooperativismo financeiro os predicados que o qualificam para os dias atuais passam pela sua decisiva contribuição nos programas de inclusão e educação financeiras; pelo reinvestimento local da poupança, gerando emprego, renda, consumo, novas riquezas, receitas tributárias e desenvolvimento social nas comunidades; pela prática de preços justos na oferta de produtos e serviços financeiros; e pelo seu protagonismo (como agente concorrencial à altura) no aperfeiçoamento das práticas bancárias como um todo.

Estima-se que as cooperativas sejam os únicos agentes de prestação de serviços financeiros em dez por cento dos municípios brasileiros, assumindo a responsabilidade exclusiva pela inclusão bancária e pelo fomento do pequeno negócio em mais de seiscentas remotas comunidades do país.

Quando se trata de comparar preços de soluções bancárias, as cooperativas – dada a sua condição de entidades sem fins lucrativos – aparecem, com larga vantagem, como a opção mais econômica para os usuários. Apenas no âmbito do Sicoob, que tem presença em todo o país, com mais de 2.600 agências, os seus cooperados (3,6 milhões) tiveram em 2016 uma economia – ou agregação de renda – na ordem de R$ 10,3 bilhões pelo fato de terem escolhido a cooperativa como a sua instituição financeira. A diferença decorre de menores taxas de juros, tarifas reduzidas ou mesmo inexistentes, melhor remuneração dos investimentos e retorno do resultado do exercício proporcionalmente ao volume de negócios de cada cooperado (“cliente”).

Empreendimentos autogeridos e com vocação para promover a justiça financeira,  tais organizações conseguem oferecer aos proprietários-usuários um conjunto completo de produtos e serviços com margens diferenciadas, que vão de múltiplas opções de investimento às mais variadas linhas de crédito; de cartões a adquirência bancária; de consórcios a seguros.  Em sintonia com a revolução tecnológica em curso – mas sem descuidar do relacionamento pessoal sempre que o cooperado assim o preferir –, asseguram, ainda, aos seus beneficiários todas as facilidades digitais que os clientes acessam nos grandes bancos nacionais, apesar de operarem com um orçamento bem mais modesto.

Esses são alguns exemplos do virtuosismo cooperativista, cujo movimento, também por sua reputação – vez que alicerçado em valores e princípios universais –, é o antecedente, legítimo e sustentável, do que se conhece, atualmente, como economia compartilhada, colaborativa ou, ainda, de rede, reunindo todos os méritos dessa nova abordagem.

Enfim, como já ocorre em vários outros países dos cinco diferentes continentes, as cooperativas constituem, hoje, uma alternativa real no segmento bancário nacional, cuja indústria apresenta forte concentração e opera com elevadas margens.

Daí, portanto, a hora e a vez do cooperativismo financeiro!

___________

Ênio Meinen, diretor de operações do Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob) e autor do livro “Cooperativismo Financeiro: virtudes e oportunidades – Ensaios sobre a perenidade do empreendimento cooperativo” (Confebras, 2016).

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *