O Voo do Zangão, obra de Ivano Barberini

O autor deste ensaio, Ivano Barberini, compara o voo do abelhão (zangão) com as atividades do movimento cooperativo. Assim como o inseto voa baixo porque, segundo as leis da física, sua abertura de asas não se correlaciona bem com seu peso corporal, assim, atendendo-nos às leis da economia, nem a empresa cooperativa poderia desenvolver-se no mercado, já que não persegue fins de lucro.

Desde que nosso mais arcaico antecessor, o australopiteco, desceu das árvores na savana africana, está implícito na natureza humana a união em grupos para fazer frente aos perigos do meio. As raízes da cooperativa são antigas, mas a primeira delas, que atingiu o êxito, viu a luz na Inglaterra em 1844, com o objetivo de melhorar as condições de vida pessoais da gente.

A associação de pessoas em forma de cooperativa surgiu, em diferentes partes do mundo, com o propósito de combater a pobreza, criar trabalho digno e desenvolver uma sociedade melhor.

As vantagens que oferece o método cooperativo ficam demonstradas pelo florescente desenvolvimento progressivo destas empresas.

Os membros delas se beneficiam, coletivamente, com tais atividades, aportando melhoras à comunidade e criando um patrimônio social que é local e, ao mesmo tempo, global.

A forma da empresa cooperativa se mostra, assim mesmo, como a mais apta para favorecer o crescimento do capital humano e demonstrar o enorme potencial deste na economia da sociedade na qual se desenvolve. Em todas as partes do mundo, um número considerável de sócios de cooperativas se encontra comprometido com a difícil tarefa de fazer-se valer na gestão de empresas e na organização econômico-financeira.

Este excelente ensaio põe em evidência a ampla e vasta experiência de Ivano Barberini. O autor, em sua percorrida pelo caminho do cooperativismo internacional – sem deixar de olhar para trás, às origens – até os tempos modernos, afirma que este sistema não se contrapõe à ética da convivência civil. Os resultados obtidos pelo sistema cooperativo demonstram a capacidade das pessoas e organizações para construir redes, baseando-se na responsabilidade e na solidariedade.

Como expressa o autor, “A verdadeira solidariedade é compartilhar e difundir conhecimento, e ajudar às pessoas a crescer e melhorar-se”.

As cooperativas representam a colaboração entre grupos de indivíduos e organizações para obter um desenvolvimento econômico equitativo e sustentável e, com ele, paz e justiça social. O valor social e ético do movimento cooperativo é posto de relevo pelo autor. Os objetivos da empresa cooperativa apontam à obtenção de bem estar individual e coletivo, modelo em grau sumamente útil para afrontar os desafios econômicos e sociais de começos deste terceiro milênio.

O frondoso desenvolvimento das cooperativas, em um período tão crítico como o atual, demonstra a importância da colaboração e a sinergia que tal sistema põe em marcha: um movimento mundial, que Ivano Barberini tem guiado com grande competência. Considero um privilegio estar unida a ele por uma viva amizade, um profundo afeto e admiração, e pela capacidade de superar momentos difíceis, que demonstrou em sua esplêndida percorrida à cabeça das mais importantes instituições do setor cooperativo e da própria Aliança Cooperativa Internacional.

Em seu livro Barberini menciona 3 cidades cooperativistas que conheceu ao longo de sua vida:

No século XIX, um notável impulso ao nascimento e crescimento da empresa cooperativa moderna proveio das grandes ideologias e da crença religiosa. Esta última foi a que, na Europa, e especialmente na Alemanha, inspirou a experiência de Raiffeisen. Décadas mais tarde, outro grande impulso foi o que veio da doutrina social da igreja.

Tive a oportunidade de conhecer aos cooperativistas de uma pequena cidade do sul do Brasil com população de origem alemã. Nova Petrópolis. Esta cidade nos oferece um exemplo pouco comum da história cooperativa; para começar, alberga a mais antiga cooperativa de crédito da América do Sul, impulsada a começos do século XX por um sacerdote alemão, o padre Theodor Amstad, que adotou o modelo cooperativo de Raiffeisen. De sua tenaz obra educativa, dirigida a um amplo número de imigrantes provenientes sobre tudo da Alemanha e da Itália, nasceram trinta e quatro cooperativas ao cabo de uns poucos anos. Mesmo que nem todas sobreviveram, puseram em marcha um processo virtuoso que tem levado a uma importante presença cooperativa em todo o estado de Rio Grande do Sul, sobre tudo no setor rural, no creditício e, mais recentemente, no âmbito de trabalho e de serviços.

Questionado sobre ter conhecido outras cidades cooperativistas, Ivano respondeu:

Claro que sim, no país Vasco (Espanha) está o grande Grupo Cooperativo de Mondragón, promovido por outro sacerdote, o padre José Maria Arizmendarrieta. Na República Argentina a cidade de Sunchales, no estado de Santa Fé, tem sido designada Capital Nacional do Cooperativismo.


Introdução de Rita Levi-Montalcini

Entrevista a cargo de Miriam Accardo


O italiano Ivano Barberini foi presidente da ACI – Aliança Cooperativa Internacional, tendo sido eleito para o cargo em 2001. Faleceu em 2009, em Modena, na Itália.

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