Dos avanços do cooperativismo de crédito ao longo das últimas décadas, a organização sistêmica, hoje com amplo respaldo e forte indução no marco regulatório pertinente, revela-se uma das principais conquistas.
A atuação verticalmente integrada (articulação entre cooperativas singulares, centrais, confederações e, quando for o caso, bancos cooperativos) permite às cooperativas:
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obter ganho de escala maximizando retornos na negociação de remuneração/preços;
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promover economia de escopo – reduzindo custos processuais e operacionais pela eliminação e pelo compartilhamento de estruturas;
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ampliar a sua rede de atendimento;
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ter acesso a tecnologia de ponta;
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dispor de maior oferta de produtos e serviços (incluindo vasta e eclética lista de convênios de arrecadação),
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entre inúmeros outros benefícios
É desejável, portanto, fortalecer o trabalho em conjunto, e sempre refletir de maneira crítica sobre iniciativas que possam vir a fragilizar a atuação sistêmica. Assim, por exemplo, após estudo mais detido, constata-se que a abertura de contas de liquidação no Banco Central, cuja regulamentação ocorreu por meio da Circular do BC nº 3.438/2009, provoca aumento de até 80% nos custos operacionais e administrativos para aquelas entidades já inseridas em sistemas organizados que contemplem bancos próprios, dada, em especial, a necessidade de montarem estrutura específica para realizar as novas atividades.
Ademais, a pretensa “autonomia”, mediante rompimento com o sistema associado, traz consigo o descredenciamento da rede de atendimento (própria e conveniada), impedindo a realização de depósitos e saques pelos associados nas cooperativas coirmãs e nos demais canais interligados, sem contar o aumento significativo do preço deste e de outros serviços em função da perda de escala. Além disso, a cooperativa singular terá de contratar processadora de cartões de débito, pois, com o novo número de compensação, precisará emitir novos plásticos, além de assinar convênio visando à adequada disponibilidade de pontos de saque para seus associados, aumentando, dessa forma, os custos operacionais.
A realização de investimentos para a adaptação dos sistemas de TI ou desenvolvimento/aluguel de novos será inevitável, pois é complexa e de alto risco a integração com o sistema de pagamentos brasileiro. Também por essa razão a cooperativa deverá dispor de componentes organizacionais especializados para as atividades operacionais e de controle.
Afora tudo isso, quem, eventualmente, tomar o caminho da “independência”, deixando de lado seu próprio banco e abrindo mão da força do Sistema, perderá inúmeras oportunidades de negócio, soluções essas concebidas de forma já customizada – com esforço financeiro diluído – no interesse dos associados.
Quanto às cooperativas que não contam com a prerrogativa e os benefícios do banco próprio, e que já optaram ou venham a eleger a faculdade da conta de liquidação, têm nos bancos cooperativos a possibilidade de proveitosa parceria para um conjunto de itens essenciais e de alto valor agregado. Com efeito, transações de tesouraria (permitindo a realização de operações compromissadas que evitem perda de rentabilidade dos recursos “travados” para absorver o resultado da Compe/liquidação financeira do dia); cartões de débito e crédito; cobrança; (centenas de) convênios de arrecadação; interligação com a rede/os canais de atendimento do respectivo sistema associado e de suas extensões, entre tantos outros, constituem ótimas oportunidades de aproximação. O Bancoob, a propósito, com o amparo da estrutura sistêmica e devidamente preparado para esse momento, já firmou vários acordos nesse sentido, partilhando os frutos da associação – cooperativa – de interesses.
Em síntese, em qualquer caso, a motivação (intra e inter) sistêmica e, por decorrência, a escolha de entidades familiarizadas e comprometidas com o negócio cooperativo, ainda que para complementar o portfólio de soluções oferecidas aos associados, sempre conduzirão a um bom investimento. A força da unidade cooperativa, inequivocamente, constitui a pedra angular para o desenvolvimento sustentável do cooperativismo de crédito brasileiro. Por isso, quem avalia racionalmente o custo-benefício de estar, de alguma forma, inserido em um sistema cooperativo, estará seguindo rotas certeiras e, assim, navegando com horizontes firmes nesse mar de “águas agitadas e profundo” que é o mercado financeiro.
Por Ênio Meinen, diretor operacional do Banco Cooperativo do Brasil e especialista em cooperativismo de crédito.
Parabens, Enio. Uma excelente reflexão.
O caminho é esse.
O Grande desafio é harmonizar as lideranças das singulares, centrais e confederação, para que haja mais convergência e confiança.
O alinhamento dos interesses maiores dos sistemas têm de prevalecer sobre os particulares e vaidades… Aí vamos encontrar o desenvolvimento e consolidação do cooperativismo de crédito.