“Elevar a participação e a governança dos membros a um novo patamar“, este é o objetivo central do Plano de Ação desenvolvido pela ACI (Aliança Cooperativa Internacional) para a chamada Década Cooperativa.
A participação democrática dos membros é a característica mais conhecida das empresas cooperativas, e o que principalmente as distingue das empresas tradicionais. O membro individual tem um papel a desempenhar que ultrapassa a relação econômica básica de cliente, trabalhador ou produtor. Os membros detêm coletivamente a cooperativa, e através de compromissos democráticos participam na sua governança. Individualmente têm direito de ser informados, uma voz, e representação.
Os pioneiros do cooperativismo, que criaram cooperativas nos séculos anteriores, tinham uma visão clara: viam que levando as pessoas a colaborar e trabalhar em conjunto, podiam satisfazer as suas necessidades individuais e coletivas de acesso a bens e serviços, ou trabalhar. Para eles participar era o meio para um fim, não um fim em si mesmo. Envolveram-se ou empenharam-se para satisfazer as suas necessidades: era parte do processo de consolidar a sua cooperativa e fazê-la funcionar melhor.
O contemporâneo mundo consumista das economias desenvolvidas é muito diferente. Através de modernos meios de transporte, multiplicidade de fornecedores em competição, e mais recentemente o poder da internet, a falta de acesso foi substituída em muitos casos por ampla gama de escolhas. Prevalece uma cultura consumista. Isso, não apenas remove a necessidade de iniciativas de autoajuda a nível comunitário, mas a nível individual tem tendência de nos tornar apáticos, complacentes, ou apenas totalmente preguiçosos. Desencoraja a participação cívica, e encoraja a prossecução do prazer pessoal e satisfação.
A crise financeira global e o falhanço das economias desenvolvidas e suas instituições em satisfazer as necessidades dos seus cidadãos, mudaram dramaticamente a paisagem atual. Com crescente desigualdade, e colapso da confiança nas instituições comerciais, governamentais e até religiosas, recostarmo-nos e esperar que alguém venha resolver os problemas parece que não pode continuar. A análise referida das Tendências Globais identifica como primeira das três tendências globais “o empodeiramento dos indivíduos, que contribui para um sentimento de pertença a uma só comunidade humana“. O desencanto e o não empenhamento dos jovens já transparece, à medida que percebem que instituições e sistemas vão herdar, de par com os desafios econômicos imediatos que enfrentarão.
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“A PARTICIPAÇÃO VOLTA A SER UM DOS MAIS VALIOSOS TRUNFOS DO SETOR COOPERATIVO”
Neste contexto, a participação – incluindo mais ampla participação democrática – torna-se um fim em si mesmo, uma forma de enfrentar a acumulação de poder nas mãos de uma pequena elite, e uma via para contestar os métodos obsoletos das gerações precedentes que parecem ter fracassado.
As cooperativas não necessitam de – e não devem – abandonar a sua definição de participação pelo voto; mas se não permanecerem abertas a novas formas de participação e empenhamento e com vontade de inovar, podem perder oportunidades de inspirar e envolver a nova geração de membros. Acresce que, se arriscam a parecer mais lentas e com menores respostas quando comparadas, quer a novos movimentos de base em rede como Occupy, quer a empreendimentos guiados por lucros com audiências e consumidores a partir de novas formas interativas.
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O propósito é elevar a participação social e a governança a um novo patamar, e fazê-lo realçando os aspetos práticos da participação
Centrando-nos especifica e diretamente nos jovens adultos, explorando os seus mecanismos de formação e manutenção de relações, e considerando se os mecanismos estabelecidos de participação e envolvimento tradicionais necessitam ser adaptados. O setor cooperativo tem de oferecer boas vindas genuínas aos jovens, convidando-os a ter um papel ativo e a ajudar a moldar o futuro. Devem ser envolvidos na planificação da implementação deste Plano de Ação. Isso implica considerar uma gama de questões:
- Será que as novas gerações constroem mecanismos próprios de colaboração que levem o setor cooperativo estabelecido a aprender com eles, e a adotá-los?
- Será que as cooperativas oferecem aos jovens os mais apropriados pontos de acesso?
- Estarão empenhadas em criar um espaço ou plataforma, que lhes permita construir o futuro?
- Estarão mesmo a usar a linguagem apropriada?
A estratégia a ser desenvolvida deve incluir e desenvolver boas práticas na comunicação, tomada de decisões, reuniões (físicas e virtuais) e abertura. Inclui também explorar formas de encorajar, manter e construir a participação fornecendo benefícios e incentivos aos membros.
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Como alcançar este objetivo?
- Encontrar novas formas de ‘JUNTAR‘ cooperadores no setor cooperativo para criar redes de cooperadores;
- Reunir e compilar informação sobre BOAS PRÁTICAS; procurar e partilhar as melhores ideias, nomeadamente nas áreas da idade e igualdade de género; identificar tendências negativas ou prejudiciais, ajudar a expor más práticas e desenvolver instrumentos e técnicas para as melhorar;
- Reunir e compilar informação que demonstre como esses exemplos de boas práticas estão positivamente ligados ao FORTE DESEMPENHO numa vasta gama de indicadores, por exemplo, sucesso financeiro, envolvimento dos trabalhadores, empenhamento social e sustentabilidade ambiental;
- Trabalhar com jovens adultos e jovens e a indústria das MÍDIAS SOCIAIS para explorar a motivação das gerações jovens no que diz respeito a atividades de colaboração ou afinidade; como é que a comunicação e a formação de relações estão a mudar on-line e off-line; examinar as práticas desenvolvidas por movimentos recentes;
- Examinar e desafiar as práticas existentes de DEMOCRACIA COOPERATIVA, reunindo provas de práticas inovadoras, encorajando avaliações de abordagens alternativas e coligindo informação;
- No que respeita à participação de MEMBROS INVESTIDORES NÃO UTILIZADORES, reunir provas de modelos e práticas existentes;
- Empenhar as COOPERATIVAS DO GLOBAL 300 a fortalecer a visibilidade do sucesso e impacto cooperativo e amplificar a voz cooperativa, por exemplo através de uma Mesa redonda de Líderes.
Fonte: Plano de Ação para uma Década Cooperativa