“A melhor maneira de dizer, é fazer.” José Marti
Em todos os eventos do cooperativismo de crédito é alardeado e defendido por todos que usam da palavra que as cooperativas de crédito, para crescerem e obterem um resultado verdadeiramente expressivo, devem ser unir através de incorporações e fusões. No último do qual participei não foi diferente.
Concordo entusiasmado com a retórica. Sem dúvida as singulares, unindo-se, ganhariam muito, teriam maior número de cooperados, aumentariam seus depósitos à vista e a prazo, seu capital social teria incremento, diminuiria seu custo fixo e o tão desejado resultado financeiro – as sobras – seriam maiores.
Olhando a mesa de honra do evento foi possível vislumbrar os presidentes dos dois bancos cooperativos e os presidentes dos maiores sistemas de cooperativas de crédito do Brasil. Pensei: realmente, eles têm razão! Os bancos estão se unindo para vencer no competitivo mercado financeiro. As últimas de que me recordo foram a união do Itaú com o Unibanco e a do Santander com o Real.
E imaginei como seria se o Bancoob e o Banco Sicredi se unissem e formassem um só banco para atender todas as cooperativas de crédito do nosso país. Quanto ganharíamos com esta união? Quanto ganharíamos se as linhas de crédito, cartões de crédito e débito, cobrança e etc atendessem às necessidades dos nossos cooperados? Quanto ganharíamos se o sistema operacional que utilizamos fosse rápido e eficaz? Quanto os custos diminuiriam? Quanto o ganho aumentaria? Honestamente, não consigo “precificar” estes ganhos, mas com certeza são de algumas centenas de milhões de reais ou de bilhões.
E mais, se os sistemas de cooperativas de crédito se tornassem um só? Qual seria nossa força de representação junto ao Banco Central? Qual seria nossa postura perante os bancos que possuem uma só representação? Qual seria nosso ganho com esta união de forças focada num objetivo comum?
Passado este breve momento imaginativo, a realidade que se impõe era que as tais incorporações e fusões valiam somente para as singulares. Não havia nenhuma palavra sobre a união dos bancos cooperativos ou sistemas.
Nenhuma referência sobre a aplicação deste amargo e necessário à base e ao centro da “pirâmide invertida”, usada como representação ideal do cooperativismo de crédito (assim descrita: base: federações; centro: centrais; topo: singulares e cooperados). Federações e centrais que têm como finalidade maior “servir”, prover tudo que for necessário para o crescimento seguro e contínuo das cooperativas singulares, onde são gerados os recursos financeiros que as mantêm.
Concorremos de “igual para igual” com os bancos. Igualdade somente na busca incansável de melhor atender nossos cooperados e eles aos seus clientes. Pois na comparação entre nossos produtos, serviços e infraestrutura, “quanta diferença”! Não ousarei dizer algo sobre a nossa realidade sobre estes itens, pois com certeza me tornaria piegas.
E mais, só para reflexão, aqueles que atendemos, “os cooperados”, possuem a seguinte dualidade: no dia a dia se comportam como clientes, buscam atendimento rápido e personalizado, querem as menores taxas de juros, tarifas zero ou quase inexistentes, serviços/produtos de primeira qualidade e nas assembleias gerais ordinárias se comportam como sócios, exigindo o maior resultado financeiro para rentabilizar seu capital social. Difícil equação.
Injusto seria não reconhecer que muito já foi feito até aqui, que muitos dedicam suas vidas de forma apaixonada e integral ao crescimento das cooperativas de crédito. Mas uma verdade se impõe: se cooperativas singulares, a galinha dos ovos de ouro que gera dinheiro para manter as centrais, as federações, as confederações, os sistemas cooperativos e os bancos cooperativos – não satisfizerem integralmente as necessidades de seus cooperados/clientes, não venceremos, não haverá futuro para os sistemas cooperativos, não haverá futuro para os bancos cooperativos, não haverá futuro para o cooperativismo de crédito.
Oxalá as mentes que comandam os destinos do cooperativismo de crédito neste país se iluminem, a realidade dite o tempo para as reformas e a necessidade vença as resistências humanas, pois a melhor maneira de dizer, é fazer.
Por Marco Antonio Mendes Sbissa – Presidente de uma cooperativa singular