E o virtuosismo persiste!
Com efeito, dados colhidos (pessoalmente) junto aos seis maiores (sub)sistemas cooperativos do ramo financeiro – de dois e três níveis – dão conta que em 2014 o setor manteve a sua trajetória histórica de alta performance.
Enquanto a economia como um todo perdeu fôlego, as instituições financeiras cooperativas, situadas no grupo serviços do PIB, novamente apresentaram forte evolução em cinco de seus principais indicadores: patrimônio líquido, depósitos, operações de crédito, ativos e resultados.
No item patrimônio líquido a expansão nominal média (valores não ponderados) foi de 22,5%, com destaque para o conjunto das cooperativas ligadas à Cecred, que cresceu 30,7%. Já na rubrica depósitos (à vista, a prazo e poupança) o avanço foi de 24% (consideravelmente acima do crescimento percentual do SFN), repetindo-se a liderança do (sub)sistema Cecred, com 36,5%.
Em crédito (carteira total), por sua vez, o crescimento foi de 21,66% (contra 11,3% do SFN), sendo que o grupo Cecred liderou com 32,1%. Nos ativos o incremento médio foi de 23,33%, outra vez com a distinção do conjunto Cecred, que expandiu 33,6%.
Por fim, o resultado (sobras mais juros pagos ao capital) consolidado dessa parcela de cooperativas evidenciou uma progressão histórica de 35%, âmbito no qual o destaque vai para o (sub)sistema Uniprime, que apresentou a impressionante marca de 60,37%!
Além desses (bons) números, que denotam confiança e solidez no/do cooperativismo financeiro, há que se ressaltar – em linha com o 7º princípio universal do movimento cooperativo – os efeitos benéficos representados pelo impacto socioeconômico do reinvestimento da poupança e dos excedentes nas próprias regiões de origem, ao lado das ações beneficentes e socioambientais nas respectivas comunidades.
Some-se a isso a contribuição para a inclusão financeira de cidadãos e de micro e pequenos empreendedores, notadamente nas 560 remotas localidades em que as cooperativas são as únicas instituições financeiras disponíveis, bem como a agregação de renda aos, hoje, 8 milhões cooperados advinda i) da diferença (x preços praticados pelos bancos tradicionais) das taxas dos empréstimos comerciais (a menor) e da remuneração das economias dos associados (a maior); ii) do custo das tarifas de prestação de serviços (a menor) e, também, iii) da devolução das sobras.
A propósito de agregação de renda, apenas no Sicoob a estimativa é de que os ganhos para os seus cerca de três milhões de associados tenha sido da ordem de R$ 5 bilhões!
Em síntese, o cooperativismo financeiro – embora esteja ainda (bastante) aquém de seu efetivo potencial -, vem avançando com consistência e cumprindo com os seus quatro grandes objetivos institucionais: inclusão financeira, desenvolvimento regional, geração de vantagens econômicas e atendimento de qualidade para os seus cooperados e, como corolário, protagonismo na regulação do mercado financeiro.
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Ênio Meinen é advogado, pós-graduado em direito da empresa e da economia (FGV), em advocacia empresarial em ambiente globalizado (Unisinos/RS) e em gestão estratégica de pessoas (UFRGS), e autor/coautor de vários artigos e livros sobre cooperativismo financeiro – área na qual milita há 31 anos -, entre eles a obra “Cooperativismo financeiro: percurso histórico, perspectivas e desafios”. Atualmente, é diretor de operações do Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob).
Os numeros agregados apresentados são animadores e indicam a evolução do modelo no Brasil. Entretanto, quando segmentamos as operações de creditos realizadas pelas cooperativas financeiras nos deparamos com uma forte enfase aos produtos para pessoas fisicas. O compromisso com o desenvolvimento local somente será cumprido com ações estratégicas direcionadas para o atendimento aos microempreendedores individuais (4,5 milhoes formalizados) e MPE. a ultimA edição do GEM 2013 afirma em suas conclusões a existencia de 40 milhões de adultos exercendo algum tipo de atividade empreendedora no Brasil. Deste contigente em torno de 10 milhões tem menos de 1 ano na atividade. De qualquer forma é um mercado imenso a espera de acesso ao credito adequado para o empreendimento, alem de assistencia tecnica para melhorar a gestão de seus negocios. AS cooperativas financeiras tem aí uma grande oportunidade para ultrapassar os 2 digitos de participação no mercado, atraves do credito produtivo para as MPE de acordo com as ações previstas no PNIF de aprimoramento do marco regulatorio para expandir o credito para estes segmentos. Com as mudanças promovidos o Banco Central cumpriu a sua parte, o desafio é mudar o modelo de negocio das cooperativas construido sob forte influencia das instituições financeiras.