A aprovação da atuação das cooperativas de crédito com as prefeituras tende a sair em 2017. Com crescimento de dois dígitos no setor e redução nos calotes, projeto será benéfico para os dois lados, mas ainda pode atrasar por pressão contrária dos bancos.
O Projeto de Lei Complementar (PLC) 100 de 2011, que já está em pauta no Plenário, possibilitará a atuação das cooperativas de crédito com entidades públicas.
Segundo Manfred Dasenbrock, presidente da Central Sistema de Crédito Cooperativo (Sicredi), o segmento está “esperançoso” com a aprovação até o final do segundo semestre, principalmente porque “seria uma conquista para ambos os lados”.
“Temos os produtos, a liquidez e, em muitos municípios, somos a única instituição financeira. Neste cenário, a ‘maior empresa’ é a prefeitura e o repasse de recursos entre cooperativa e o setor público alavancaria as duas entidades”, diz o executivo.
Para Hugo Rodrigues Pereira, gerente da área estratégica do Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil (Sicoob), apesar do otimismo, a pressão dos bancos e a incerteza política ainda podem trazer dificuldades.
“Os bancos se posicionarão no Congresso e o que nos resta é ver o que pesa mais: o lado social ou o poder econômico dessas instituições”, questiona o executivo.
Por outro lado, com a última decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de, em caso de desoneração, diminuir o repasse por parte da União aos municípios, mantendo o percentual de direito às prefeituras, muitos das cidades, sem a capacidade financeira de sustentar suas máquinas administrativas de maneira independente, também tendem a pesar os prós da PLC 100.
“As prefeituras estão em estado crítico, e isso deve agilizar a aprovação do projeto. O momento de incerteza política, no entanto, nos torna mais conservadores”, comenta Pereira.
Ele completa que, a depender do governo em 2017, o posicionamento das cooperativas ainda pode mudar.
“Os desdobramentos da [Operação] Lava Jato não dá certeza sobre quem estará governando no ano que vem, e tudo ainda depende muito de como será a manutenção da linha de Estado. Se houver uma troca de governo, tudo mudará, e teremos que rever toda a nossa posição de atuação para a PLC 100”, ressalta o gerente do Sicoob, Hugo Pereira.
‘Omissão Bancária’
Já em relação à estimativa de crescimento do sistema cooperativo em 2016, todas as três maiores cooperativas preveem crescimento de dois dígitos.
A expectativa do mercado para as cooperativas de crédito é de expansão entre 10% e 12% em 2016. Em anos anteriores à crise econômica, essa média de avanço chegava à casa dos 20% anuais.
“Em um momento de recessão, os grandes bancos priorizam clientes com maior liquidez e acabam tirando o crédito de quem realmente precisa. E é nessa omissão de atuação bancária que as cooperativas têm posição de oportunidade. Isso aconteceu muito em 2016”, entende Pereira.
Os executivos ouvidos pelo DCI ainda destacam que, nesse cenário, a oportunidade também aparece para as cooperativas por conta da taxa de juros, mais barata e atrativa do que no crédito bancário.
De acordo com Luciano Fantin, CEO da Unicred, tanto as taxas de juros ativas (oferecidas para empréstimos), como as passivas (em relação a produtos de investimento e poupança) aparecem como estímulo aos associados.
“O cooperativismo enxerga o mesmo risco de crédito que qualquer outra instituição, mas o lucro volta para o cooperado, seja como participação ou sobra da cooperativa. Isso nos permite oferecer taxas menores e ainda continuar emprestando em cenários adversos”, destaca Fantin.
O presidente do Sicredi, Manfred Dasenbrock ressalta que frente à greve dos bancos do terceiro trimestre, que paralisou mais de 50% das agências bancárias no País, as cooperativas “permanecem com uma sequela positiva”.
“Falo em sequela porque, no curto prazo, a estrutura da cooperativa não está montada para atender o público que demanda produtos bancários. Mas o movimento é crescente e, no longo prazo, a migração de um grande banco para a cooperativa acaba acontecendo”, explicou o presidente.
Já em relação à inadimplência, a expectativa do mercado é que o sistema cooperativo feche em torno de 2% a 3,5%, também acima da média do mercado em anos anteriores (entre 0,5% e 1,5%).
“Em meados deste ano, a inadimplência começou a ter leves quedas. Neste quadro, a provável tendência é de contínuo arrefecimento, para que possamos alcançar patamares anteriores no final de 2017 e começo de 2018”, acrescenta Fantin, da Unicred.
Águas agitadas
Apesar do “quadro de otimismo reinar” no sistema cooperativo, os ambientes econômico e político do País permeiam um cenário difícil para o ano que vem.
“Estamos bem posicionados e o objetivo é uma atuação pró-ativa, com investimentos e programas de renegociação para os cooperados com dívidas não pagas. Ainda será um ambiente de águas agitadas, mas persistiremos com braços fortes pra continuar remando”, conclui Dasenbrock.
Por Isabela Bolzani
Fonte: www.seteco.com.br
Ocorre que os bancos em geral, exceto os oficiais, também não podem gerir recursos (disponibilidades de caixa) de entes públicos. A limitação a que sujeitas as cooperativas também se aplica a eles (art. 164, parág. 3o, da Constituição Federal).