Cooperativas de crédito continuam sendo a melhor alternativa aos bancos tradicionais mesmo após o governo decretar o fim da isenção da alíquota adicional do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para essas instituições. Prova disso são as taxas sempre mais baixas oferecidas por elas. De acordo com dados mensais do Banco Central do Brasil, os juros cobrados pelas cooperativas de crédito são sempre menores do que os do mercado para quase todas as modalidades de crédito. Isso porque essas instituições não visam lucro.
O Consignado em Folha, cujos juros cobrados no mercado partem de 1,85% a.m. (24,60% a.a.) e 2,32% a.m (31,68% a.a.), de acordo com o Banco Central do Brasil, ficam muito mais baratos nas cooperativas, partindo de 1,50% a.m. (19,59% a.a.). O Cheque Especial tem juro médio de 12,46% a.m. (309,24% a.a.), segundo dados da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), contra taxas a partir de 3,20% a.m. (45,93% a.a.) nas cooperativas. A mesma realidade é válida para o cartão de crédito, cujo juro anual gira em torno de 486% ao ano no mercado, contra 151,81% a.a. nas cooperativas.
Ênio Meinen, diretor de operações do Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob), é categórico: “é impossível dizer que essa cobrança vai ter um impacto representativo a ponto de equiparar as cooperativas aos bancos tradicionais no custo final”. Ele ressalta que além de emprestarem com juros muito abaixo dos praticados no mercado, as cooperativas continuam competitivas também por outros diferenciais, como a devolução das sobras para os associados ao final de cada exercício. “Nas cooperativas não há clientes, mas sócios”. Além disso, frisa, que em 564 cidades do país, elas são a única instituição financeira presente.
A nova regra para o IOF, imposta às cooperativas pelo governo, entrou em vigor nessa segunda-feira (3/4). Com a isenção, incidia apenas 0,38% sobre as operações de crédito, câmbio, seguros e títulos financeiros dessas instituições. Agora, também passarão a incidir sobre elas a alíquota de 3% ao ano em cada operação. Mesmo assim, “não há dúvida de que as cooperativas continuarão sendo o meio de crédito mais viável às famílias que precisam solucionar problemas financeiros ou que desejam antecipar projetos de vida”, observa o planejador financeiro da Consultoria Economia Comportamental Rogério Nakata.
Nakata lembra que bancos e cooperativas de crédito possuem objetivos distintos. “O banco visa não somente conceder o empréstimo, mas a obtenção de lucro em suas operações. Já a cooperativa possui um caráter social, democratizando o acesso àqueles que necessitam de crédito através de seus próprios participantes”, avalia o planejador financeiro.
O presidente do Conselho de Administração do Sicoob Executivo, Luiz Lesse Moura Santos, ressalta que a cooperativa não está aumentando os seus custos, pois o IOF é um tributo e vai direto para o governo, não fica retido na instituição financeira. “O valor do IOF está equiparado com as demais instituições financeiras, mas como nossas taxas de juros são sempre menores, o associado sempre pagará menos juros em relação aos bancos”, ressalta.
Reação do setor
Na semana passada, a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) publicou nota lamentando a decisão do governo sobre o IOF nas cooperativas. A OCB pretende se reunir com representantes do Ministério da Fazenda e do Banco Central para tentar reverter a cobrança. “A reação à medida foi de rejeição no meio cooperativista. As cooperativas sempre tiveram tratamento diferenciado por permitir que a população acesse serviços bancários a preços mais justos. E de uma hora para outra, sem aviso ou conversa com o meio houve a mudança. O Sicoob tem um sistema já preparado para a cobrança, mas há cooperativas que não conseguem aplicar imediatamente esse novo cálculo”, pontua Meinen.
Para Meinen, a cobrança desestimula a atividade das cooperativas. “Apesar de não tirar a competitividade das cooperativas, significou a perda de um atrativo. A Constituição Federal diz que o ato cooperativo deve receber tratamento adequado e afirma ainda que a lei apoiará e estimulará o cooperativismo. Essa medida vai contra tudo isso, já que 80% da carteira de crédito está nas mãos de cinco bancos. É importante que fiquemos atentos para que não venham outras mudanças repentinas que não são favoráveis para o meio cooperativista”, conclui o diretor de operações do Bancoob.
Fonte: www.sicoobexecutivo.com.br