Na abertura dos trabalhos de segunda-feira, o CEO do WOCCU, Brian Branch, apresentou um panorama das cooperativas de crédito no mundo e o Sicredi foi citado como um dos exemplos de sucesso. Principalmente pelo trabalho próximo aos agricultores, oferecendo, além de crédito, consultoria para que o associado saiba quais os melhores investimentos e, até mesmo, os equipamentos e insumos mais adequados. A atuação em sistema e os serviços oferecidos nas áreas urbanas também merecerem destaque.
As instituições financeiras cooperativas de países menores, como Haiti e Peru, que estão desenvolvendo um belo trabalho junto à população, foram citadas por ele, que apresentou exemplos de inclusão, com a entrega de serviços digitais em áreas remotas, que enfrentam desafios de mudanças climáticas.
Outro tema abordado foi a inclusão cada vez maior das mulheres no movimento cooperativista, tanto como associadas, como gestoras das cooperativas de crédito – movimento que ganha cada vez mais força por meio do trabalho da GWLN.
Ele também falou que as cooperativas sempre dão apoio aos países que passam por dificuldades, mostrando seu DNA colaborativo, de que se importam com as pessoas e querem vê-las bem. “Não são os números que contam sobre as nossas nossas vidas, são nossas histórias”, destacou.
O ponto alto da manhã foi a palestra de Chris Skinner, consultor e escritor especializado em FinTechs, autor dos livros Digital Bank, Value Web e Digital Human. Ele lembrou que esse novo modelo de instituição financeira já nasceu com a mentalidade de colaboração. “Elas são ancoradas em tecnologia, tanto em serviços, quanto em administração de riscos – tudo pensado individualmente, cliente a cliente. E muitas delas já estão trabalhando com esse conceito de peer to peer, que é o modelo das cooperativas há mais de 200 anos”, lembrou.
Mas essa vantagem pode se tornar um risco se as instituições financeiras cooperativas não se atualizarem, não investirem em tecnologia e se reinventarem, principalmente em relação ao modelo de gestão e governança. “Tudo está mudando graças à inteligência artificial (IA), aplicativos, modelos de atendimento e ferramentas de análise para processar os dados. E isso tudo oferece uma melhor experiência aos clientes. Mas, na maior parte dos casos, essas soluções inovadoras são pensadas pelos jovens, por pessoas disruptivas, que ainda não encontram muito espaço para crescer nas cooperativas de crédito”, ressaltou.
Muitos bancos já estão utilizando essas tecnologias avançadas, como inteligência artificial e machine learning: “eles descobriram que as máquinas conseguem analisar contratos em poucos segundos – enquanto os advogados gastariam milhares de horas. Ou seja, o backoffice está sendo automatizado, porque é humanamente impossível analisar manualmente todas essas informações. Somente 0,5% dos dados armazenados hoje são utilizados como fonte de informações. E essa tecnologia tem revolucionados os serviços, pois os bancos de hoje em dia só falam quanto eu gastei. Já as FinTechs analisam os dados e me oferecem uma consultoria, preveem gastos, etc.”.
Outros modelos citados pelo palestrante foram os aplicativos Venmo, que promove a conectividade entre quem tem dinheiro e quem não tem, e Stripe, um software criado por dois irmãos que vale mais de 9,2 bilhões de dólares.
Segundo ele, quem está por trás de todas essas mudanças e do nascimento dessas startups são adolescentes, que estão mudando o planeta porque sabem programar. “Os modelos de negócios estão sendo transformados pela IA, blockchain e API’s (aplicações). E as cooperativas precisam entender isso e olhar para esse novo mundo, dando oportunidade aos jovens. Tudo está em mutação, mas os bancos ainda são administrados por pessoas que não são digitais, que não entendem de códigos e programação. E isso, na maioria dos casos, atrapalha”, apontou.
Na visão de Skinner, as novas instituições financeiras conseguem crescer rápido (e mudar na velocidade que o mundo precisa) porque não têm uma hierarquia rígida: “é uma liderança de legado. São instituições digitais com liderança digital”. É o caso do AliPay, do grupo AliBaba, que projeta ter dois bilhões de usuários até 2015. “É uma empresa de tecnologia que pode se tornar a maior instituição financeira do mundo, sem ter nascido como uma empresa do setor de finanças. Na verdade, ela é uma empresa de soluções”, argumentou.
Ele alertou que os gestores das cooperativas de crédito precisam entender essas mudanças e “puxar” para os cargos de liderança esses jovens disruptivos. “É necessário proporcionar o acesso a essas pessoas, que vão determinar o futuro dessas empresas centenárias. Muitas gigantes não se atentaram a isso e perderam o posto de maiores empresas do mundo para Facebook, Google, Uber, Airbnb e outras”, ressaltou.
Na mensagem final, o palestrante lembrou que as cooperativas podem continuar crescendo porque têm na sua essência o foco nas pessoas, o chamado peer to peer. “Ancoradas nesse alicerce é que elas devem investir no esforço digital, de transformação e de quebra de paradigmas”, concluiu.
Para João Tavares, diretor do Centro Administrativo Sicredi, a conta digital Woop é um excelente exemplo: “acreditamos que, apesar do longo caminho que temos pela frente, nós já estamos avançando neste sentido”. Para ele, a palestra foi inspiradora e apresentou os desafios que as instituições cooperativas têm pela frente. “O Sicredi já deu muitos passos nesse sentido e queremos continuar avançando para prover aos nossos associados as melhores soluções, sem perder a nossa essência do bom atendimento e do relacionamento próximo”, finalizou.
Fonte: Sicredi e Central Press