Sobre taxa de juros, eficiência operacional e competitividade das cooperativas financeiras, por Ênio Meinen

A eficiência operacional é, sem dúvida, uma das principais dificuldades a serem enfrentadas pelo segmento. (…) há boas oportunidades para melhora dos indicadores, seja por meio dos ganhos de escala a serem gerados no processo de consolidação por que passa o segmento, dos avanços tecnológicos e da intercooperação, seja por meio de outros esforços no sentido de conter a expansão dessas despesas e, assim, melhorar a eficiência. (Banco Central do Brasil, Panorama do Sistema Nacional de Crédito Cooperativo. Data-base dezembro/2018)

Há pouco, o Comitê de Política Monetária (Copom), vinculado ao Banco Central do Brasil (BC), fixou a Selic – meta da taxa de juros básica da economia brasileira – em 5,5%, renovando seu valor mínimo histórico. As últimas projeções do mercado (Relatório Focus) indicam uma taxa ainda menor, de 4,75%, para o final deste ano. Já para 2020, a mais recente estimativa é de que encerre no patamar de 5%.

Que repercussões esse cenário-realidade traz para o cooperativismo financeiro, afora a necessidade de qualificação de sua plataforma de investimentos para continuar atraindo as economias da sociedade? Dado que a Selic é o referencial de precificação intramercado, a sua redução reflete, adversamente, na remuneração do funding livre de custo financeiro ou sujeito a taxas prefixadas. Ou seja, haverá diminuição das receitas com a aplicação dos saldos de depósitos à vista, do capital circulante disponível e das captações líquidas com taxas prefixadas.

Além disso, o spread nominal da intermediação financeira também será impactado. Em compensação, o corte fará reduzir despesas na captação (indexada em DI), implicando ganhos para as cooperativas cuja carteira de ativos (estoque) estiver alocada em taxas prefixadas.

Não há dúvida, contudo, que a medida, salutar para toda a sociedade, trará desafios adicionais para o sistema financeiro cooperativo, que terá de buscar a recomposição de seu resultado e de sua sustentação econômico-financeira, enfrentando esta nova condição estrutural em duas frentes de batalha (simultâneas): o aumento na escala negocial e a redução/diluição dos custos.

Esse quadro, por sinal, faz lembrar dos princípios da eficiência, da economicidade e da utilidade, de aplicação geral para o mercado e particularmente encomendados às cooperativas no âmbito da Resolução nº 4.434/2015, do Conselho Monetário Nacional (art. 34).

Ou seja, não faltam motivações para repensar e revigorar o movimento. Junto com a forte ofensiva no mundo digital, a sua sustentabilidade reivindica um aumento nada modesto no número de cooperados (nos atuais e em novos territórios) e considerável elevação da densidade operacional, pois estamos, ainda, bem distantes de sermos a principal – quanto mais, a única – instituição financeira dos nossos associados.

Do lado dos custos, por sua vez, é tempo de revisitar e consolidar estruturas. Há cooperativas singulares e centrais pouco protagonistas, que, se unindo a entidades coirmãs, poderiam ser mais eficientes e gerar melhor retorno aos seus quadros presentes e futuros. De igual forma, poder-se-ia reduzir e concentrar as empresas de serviços/soluções comuns, com ganhos de escala e desoneração dos sistemas cooperativos. Por fim, é possível corrigir paralelismos de papéis e, sobretudo pelo incentivo e aprimoramento da verticalização, racionalizar componentes organizacionais em todos os níveis sistêmicos.

Dito de outra forma, há espaço para acentuar a cooperação e a intercooperação, e com isso intensificar o poder competitivo das instituições financeiras cooperativas.

Ênio Meinen, coautor (com Márcio Port) do livro Cooperativismo financeiro: percurso histórico, perspectivas e desafios, e autor de Cooperativismo Financeiro: virtudes e oportunidades. Ensaios sobre a perenidade do empreendimento cooperativo, publicação também disponível no idioma inglês sob o título Financial cooperativism: virtues and opportunities. Essays on the endurance of cooperative entreprise (todos da editora Confebras, lançados em 2014, 2016 e 2018, respectivamente).

1 comentário

  1. Dr. Ênio
    Análise perfeita e oportuna. A fatura da demora para desmontar o modelo estrutural do século passado – decisivo para o sucesso no modelo de atendimento presencial -, da desorganizada sobreposição de centrais, empresas, cooperativas e agências intra e entre sistemas e a nova e agressiva onda de abertura de agência em direção oposta aos bancos e Fintechs parece estar sendo apresentada.

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