As cooperativas via de regra nascem da vontade coletiva em atender necessidades comuns. De preferência, e inclusive sendo basilar neste modelo de negócio, que se obtenha vantagem econômica neste arranjo. As cooperativas eliminam intermediários, que somado à escalabilidade, geram ganhos financeiros para seus sócios. Normalmente estes ganhos são distribuídos ao final do exercício, se assim sobrar após todas despesas e desembolsos quitados, para seus associados na proporção do que cada um ajudou a gerar, ou outra regra previamente acordada entre seus donos. E faz tempo que é assim.
Desde que cooperativas existem, e elas existem formalmente como conhecemos há mais de 170 anos, funciona neste modelo de colaboração, da valorização do coletivo. Mas o sonho coletivo de prosperar juntos remonta aldeias indígenas e povos bárbaros da idade média. E ainda mais antigo é o ato de cooperar, uma habilidade inata de uma cooperativa, e podia já ser observado quando o homo sapiens resolveu caçar um mamute pra satisfazer uma necessidade básica, matar a sua fome e a de seus familiares, e entendeu logo que só seria factível se fosse uma empreitada coletiva e não individual.
Ou seja, desde que existe a humanidade, cooperamos. E sempre pra atender necessidades comuns.
Pegando o exemplo do caçador do tempo das cavernas, ele possivelmente tentou uma primeira caçada individual. Mas com certeza não teve êxito e viu-se impelido, pela fome e pelo fato inquestionável de sua pequenez frente à presa, que era preciso unir forças pra se ter sucesso no projeto de ‘saciar a fome’. O que este homem das cavernas aprendeu desde cedo é que o coletivo produz o bem. Ou melhor, o bem é mais facilmente reproduzido pelo coletivo. Por isto, o bem comum.
Corta para o século XXI. Estados Unidos. Uma escola primária em uma cidade do interior. Homem atira e mata dezenas de alunos e professores. Vejam que o mal pode ser poderoso, mesmo que solitário. Uma só pessoa, movida de sentimentos ruins, pode causar muita maldade. E dor permanente.
Claro que a maldade pode ser potencializada se praticada em conjunto, vide as guerras e o terrorismo, mas não é condição fundamental ter mais pessoas pro mal ser poderoso e permanente.
Por sua vez, o bem, pode ser feito isoladamente. Vejamos inúmeros exemplos de pessoas que doam mantimentos e brinquedos no Natal. É o bem sendo feito, muitas vezes de forma individual. Mas notem, é um bem passageiro, de difícil resíduo com o passar do tempo.
Mas o bem, quando praticado junto, tem um poder avassalador muito superior que o bem praticado sozinho, ou que o mal praticado sozinho, ou até que o mal praticado junto.
Quando milhares de pessoas se mobilizam mundo afora, coisas incríveis podem acontecer. Mas como juntar pessoas pra produzirem o bem? Há várias formas, e inclusive no mundo digital que vivemos, cada vez mais há meios eletrônicos pra se fazer o bem sem sair de casa, como crowdfunding pra financiamento de causas sociais. Ou doações para os Médicos sem Fronteiras.
Porém, nas comunidades menores, quer seja pelo preferir e gostar do contato humano ou até pela menor adesão ao digital, ainda há ambiente para espaços físicos que congregam pessoas que querem ajudar, fazer o bem. Tanto é fato, que nas comunidades menores, mesmo dentro das grandes cidades, ainda tem papel importante as associações de bairros, sociedades culturais, corais, Lions, Rotarys, e outros movimentos civis.
Mas existe um outro ente social que há muitas décadas já une pessoas e promove o bem: as cooperativas de crédito. Com sua vocação de captar, emprestar, manter riqueza na região, promove o desenvolvimento econômico. E cada vez mais assume protagonismo no desenvolvimento social, ao apoiar programas sociais ou a manter seus próprios programas sociais.
No livro “Economia Donut” de Kate Raworth fala sobre a importância de sistemas auto-organizados, que não dependa somente de soluções estatais, mas que saiba se aproveitar dos bens comuns. As cooperativas são um ótimo exemplo de auto-organização, com atuação independente dos governos, e que se aproveita da força do coletivo, dos bens comuns, pra gerar o bem pra todos. Se trata de gerar riquezas através de uma gestão profissional que busca eficiência operacional e eficácia comercial, e distribuir prosperidade pra todos os impactados pelo ecossistema da cooperativa.
Com isto as cooperativas extrapolam seu papel estrito de instituição financeira provedora de P&S, ampliando seu papel como uma entidade, preocupada com o bem comum, produzindo bem comum. Desde já, mas cada vez mais, as agências das cooperativas de crédito serão um hub social, onde a comunidade irá se encontrar, não só pra fazer suas transações financeiras fundamentais para o melhor funcionamento das mesmas, mas também pra gerar riqueza e distribuir prosperidade através da atuação social.
Solon Stapassola Stahl, Diretor Executivo da Sicredi Pioneira RS