Nestes últimos dois anos, vários seminários, reportagens, reuniões e, até nas conversas informais, as três letrinhas ESG (Environmental, Social and Governance, que traduzido significa Ambiental, Social e Governança) estiveram presentes, aparentemente, como algo inédito, pois para muitos o conceito por trás dessas letras e a correlação com o mundo dos negócios ainda era desconhecida. Contudo, para algumas organizações, falar dos impactos gerados no contexto ambiental, social e como sua governança norteava a tomada de decisões, já era algo relativamente presente nas estratégias. Mas então, o que aconteceu para que, repentinamente, esta sigla ganhasse tamanha relevância?
É importante pontuar que o termo ESG apareceu formalmente em 2005, em um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), como uma sugestão estratégica a ser seguida pelos investidores em todo o mundo no momento em que tomassem a decisão de investir ou não em determinadas empresas. Segundo o relatório apresentado, as empresas que não têm preocupações quanto aos seus impactos sobre o meio ambiente e a sociedade e que não oferecem um processo maduro de governança deveriam ser evitadas, devido ao futuro incerto destes negócios, além dos possíveis riscos diretos e indiretos.
No entanto, como antes da pandemia o mercado estava aquecido, e as empresas conseguiam, através de seus processos produtivos, gerar recursos necessários à manutenção e expansão dos negócios, a busca por investimentos externos não era tão intensa e, na grande maioria das vezes, o recurso era captado no mercado interno, sob regras não tão rígidas relacionadas ao ESG. Foi sobre este contexto que a pandemia impactou diretamente, pois a manutenção dos negócios ficou comprometida. Por exemplo, devido à baixa produtividade, escassez de insumos, descontinuidade de algumas relações comerciais importantes e protecionismo de alguns países, a perenidade de alguns negócios ficou ameaçada.
Neste momento, a busca por capital, para viabilizar a continuidade dos negócios, tornou-se uma necessidade primordial e mais rígida em seus critérios de concessão. As empresas que já consideravam em suas estratégias os aspectos relacionados a uma gestão comprometida com a sustentabilidade, identificando os impactos, trabalhando para minimizar os negativos e potencializar os positivos, os critérios ESG não foram uma surpresa. Contudo, as que estavam fechadas para este horizonte foram pegas desprevenidamente e estão numa luta contra o tempo para se adaptarem às novas regras do mercado de investidores.
Como cooperativa, está em nossa essência, pautada nos sete princípios cooperativistas, o interesse pela sociedade, meio ambiente e por uma gestão transparente e participativa, tendo o cooperado no centro de nossas estratégias. Portanto, arrisco em dizer que nosso estilo de negócio nunca foi tão atual e de que fomos inovadores desde nossas origens, lá em 1844. Temos ciência dos desafios diários ao atuarmos em nosso segmento, por este motivo, para nós, a apresentação de evidências relacionadas à vinculação de nossos diferenciais cooperativos à estratégia e práticas é tão relevante, e o monitoramento quantitativo e qualitativo da efetividade de nossas estratégias e cultura é fundamental, pois possibilita que, através de nossa postura ao nos relacionarmos com todos os públicos, possamos influenciá-los a adotarem um comportamento mais colaborativo.
Eis aí uma grande oportunidade que surge, pois, ao atuarmos sob critérios que consideram a interdependência entre o sucesso da sociedade e da cooperativa, favorecemos o fortalecimento de um comportamento de apoio como, por exemplo, preferência por nossos produtos e serviços, interesse em trabalhar nas nossas cooperativas, naturalidade ao nos indicar para possíveis cooperados, engajamento às nossas causas, entre outros comportamentos que contribuem para o sucesso dos negócios.
Talvez, alguns de vocês que estão acompanhando a construção deste raciocínio, os quais não estão em busca de investidores e nem necessitam se submeter às regras baseadas no ESG, pensem que não há motivos para preocupações e que não necessitam se adaptar a esta nova realidade.
Para estes, gostaria de expressar minha conclusão, a de que estamos todos conectados, fazendo parte um da rotina do outro, e não há como adiarmos mais a necessidade de identificarmos, compreendermos e trabalharmos os impactos que geramos, tendo ciência de que a cobrança de nossa postura não é mais uma questão de “se”, mas “quando” seremos cobrados a apresentar nossas evidências de uma gestão comprometida com a Sustentabilidade e o ESG.
Ivo José Bracht, diretor executivo da Central Ailos