Na véspera da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o mercado modificou suas apostas, concentrando-as numa elevação mais forte da taxa básica de juros (Selic). Antes divididos entre uma alta de 0,50 ponto ou 0,75 ponto, ontem os operadores convergiram para a elevação maior, o que levaria a taxa para 9,50% ao ano.
Alguns até arriscavam que o aumento poderá chegar a 1 ponto porcentual, o que ajudaria a poupar o Banco Central (BC) de elevar a taxa no período eleitoral. A mudança na expectativa foi acompanhada pela elevação dos juros no mercado futuro.
A movimentação foi provocada por declarações do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Suas palavras agitaram os negócios desde cedo. “A mensagem que eu daria aos players (agentes) é de que não tentem ler nas entrelinhas o que o BC disse nas atas ou no Relatório de Inflação (e tentem encontrar) um sinal dado por um membro ou por outro. Não há sinais”, disse ele em entrevista à agência Dow Jones.
Meirelles explicou que os textos do BC, como o Relatório de Inflação e as atas do Copom, não dão “nenhum sinal sobre se há um número versus outro”. Em outra entrevista, à Reuters, ele passou mais um recado. “O BC vai adotar medidas fortes para garantir que a inflação atinja a meta no horizonte relevante.”
Para alguns analistas, Lula pode ter dado o “sinal verde” para Meirelles agir com força e segurar a inflação. O presidente tem dito nos bastidores que quer entregar o cargo com a inflação “nos trilhos” ao sucessor.
Diante das afirmações, começaram a ser ouvidas avaliações de alguns analistas de que uma alta do juro mais forte concentrada nas próximas reuniões também teria como efeito a derrubada das projeções de inflação, o que diminuiria a necessidade de aumentos expressivos da Selic perto das eleições. “O BC está avisando que o comportamento mudou e não está mais disposto a ficar atrás do mercado, atrasado“, diz um economista de banco em São Paulo.
Focus. Na pesquisa semanal feita pelo BC, o mercado aumentou a previsão para o nível da Selic no fim do ano de 11,50% para 11,75%, o que indica aposta em uma subida de 3 pontos até dezembro. A pesquisa também teve a 14.ª alta seguida das previsões para o IPCA, que passou de 5,32% para 5,41%. A meta é de 4,50%.
Fonte: Estadão