Poucas empresas gaúchas adquiriram tanta relevância ao longo dos últimos dez anos quanto a Central Sicredi Sul, que congrega a rede de cooperativas de crédito do Sistema Sicredi no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Desde 2000, o volume de ativos nas mãos dessa célula se multiplicou por dez, chegando a R$ 8,3 milhões em maio deste ano. No mesmo período, o número de associados também saltou de 287 mil para 1,02 milhões. Pode parecer muito, mas o fato é que o Sicredi não está disposto a parar tão cedo. Com o recente acordo societário firmado com o Rabobank, da Holanda, a instituição de crédito ganhou fôlego para crescer ainda mais.
Nos bastidores do Sicredi, o avanço do sistema cooperativo de crédito é encarado como um simples começo. “Nos países em que é mais desenvolvido, como França e Holanda, o cooperativismo de crédito supera 20% do PIB financeiro. No Brasil, é apenas 2%”, compara Orlando Müller, presidente da Central Sicredi Sul. Segundo ele, até mesmo no Rio Grande do Sul, Estado brasileiro com mais tradição em cooperativismo de crédito, onde o Sicredi está presente em 418 dos 496 municípios, a participação do setor equivale a cerca de 8% do PIB. “Não estamos criando nada novo. Estamos usando exemplos de organizações econômicas em países onde o cooperativismo de crédito tem participação mais efetiva no mercado”, analisa Müller.
Para se tornar o que é, o Sicredi aproveitou as mudanças nas normas de atuação das cooperativas de Crédito. Primeiro, com a autorização, recebida em 1995, para criar um banco próprio e atender a demanda dos associados sem intermediários – até então, era necessário captar recursos em instituições de varejo. Depois, o governo deu aval para a formação de cooperativas de livre admissão, que não precisavam ficar restritas a uma categoria profissional. Isso abriu o sistema para novos associados. O desafio, agora, é conquistar espaço nos grandes centros urbanos. “A nossa origem é o meio rural. Quando passamos para pólos regionais, o desenvolvimento é mais lento, até porque eles já têm um sistema financeiro bem articulado”, afirma Müller.
Um dos trunfos para vencer esse desafio é a parceria com o Rabobank – que, em junho deste ano, pagou R$ 100 milhões por 30% do capital do Banco Sicredi. Com rating “triple A” em renomadas agências de risco, o Rabobank deverá facilitar o trânsito da cooperativa junto a grandes investidores. Assim, o custo de captação de dinheiro deverá cair – e o Sicredi poderá acenar com ofertas mais tentadoras para atrair os clientes urbanos. O interesse inicial do Rabobank, aliás, era ter uma fatia ainda maior do banco. Mas o Sicredi optou por limitá-lo aos 30%. “Novas parcerias são sempre bem-vindas se atenderem aos interesses dos nossos associados”, garante Ademar Schardong, presidente do Banco Sicredi. “Mas não temos nada em vista no momento”, diz ele.
Fonte: Revista Amanhã