O fim da exclusividade no setor de cartões, que eliminou a necessidade de manutenção de duas máquinas de pagamento pelos varejistas, transferiu a disputa entre as gigantes do setor para a tecnologia. As credenciadoras correm para ocupar o potencial de expansão dos pagamentos via celular no País: a Cielo compra e faz parcerias com empresas do segmento, enquanto a Redecard busca integrar o telefone às máquinas do comércio.
A Cielo montou uma parceria com o Banco do Brasil e a operadora Oi para reforçar o Oi Paggo, braço de pagamentos da operadora móvel que atende cerca de 75 mil estabelecimentos em todo o País, sendo especialmente forte na Região Nordeste. É o segundo negócio da credenciadora em dois meses: em agosto, a empresa havia desembolsado R$ 50 milhões para assumir o controle de outra companhia similar, a fluminense M4U. Desde o início do ano, circulam notícias de que a Oi buscava um parceiro para ajudar na operação do serviço de pagamentos.
De acordo com Eduardo Tude, presidente da consultoria Teleco, a parceria estratégica faz sentido tanto para a Oi quanto para a Cielo. Ele afirma que, para o pagamento por celular crescer no País, as credenciadoras, que têm este mercado como negócio principal, precisam estar envolvidas na operação. “Assim, fica mais fácil de o serviço se tornar mais universal, de o pagamento de compras ser um serviço usado por clientes de várias operadoras”, diz o especialista.
Interesse. Conforme pesquisa da Teleco e da empresa Acision, o uso do celular para pagamentos no Brasil ainda é baixo: durante o primeiro semestre de 2010, somente 3% dos usuários de telefonia móvel no Brasil disseram ter usado o aparelho para comprar um produto ou pagar uma conta. Um levantamento feito no fim de 2009 mostra que, apesar das ressalvas relativas à segurança, 71% dos entrevistados afirmaram que usariam o celular para substituir cartões de crédito ou de débito, enquanto 66% disseram que o telefone poderia ser uma opção válida para consultar saldo ou movimentar a conta no banco.
Apesar de o Brasil já ter mais de um telefone celular por habitante, segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), o uso da tecnologia para pagamentos está bem aquém de mercados desenvolvidos, como o Japão, onde 50% dos clientes de telefonia móvel usam o aparelho para este fim, e também de nações mais pobres, como o Quênia, onde o celular se tornou uma alternativa para a população sem acesso a bancos.
“Ponte”. Para vencer a desconfiança do consumidor com relação à migração do cartão para o celular, a Redecard desenvolveu um serviço que usará as máquinas do comércio como “ponte”. Estará disponível em testes, a partir do mês que vem, um sistema em que o cliente vai cadastrar o celular no banco emissor do cartão. Depois disso, poderá ir às lojas e digitar o número de telefone na máquina, seguido da senha do cartão. Para confirmar a compra, receberá um código por SMS, que também deverá ser informado à máquina.
A partir de outubro, o projeto estará disponível para clientes Itaucard-Vivo, em 600 mil estabelecimentos do País. A meta é estender o serviço para as 1,3 milhão de máquinas da empresa no início de 2011 – clientes de todas as bandeiras, bancos e operadoras poderão usar a novidade.
“Cada consumidor poderá fazer o cadastro de até nove cartões, incluindo o ticket alimentação”, explica Milton Iuki, diretor executivo de produto e marketing da Redecard.
Fonte: Estadão