Puxada pela alta de preços das matérias primas agrícolas, a inflação medida pelo Índice Geral de Preços Mercado (IGP-M)da Fundação Getúlio Vargas (FGV) atingiu 11,32% em 2010. O resultado é o maior desde 2004 e ocorre após a primeira deflação da história do indicador, de -1,72%, registrada em 2009.
Os efeitos da inflação anual na casa de dois dígitos não devem se esgotar neste ano. É que o IGP-M é o indicador usado como referência total ou parcialmente para reajuste de vários contratos do setor privado, como aluguéis, contratos para compra de imóveis em construção (INCC) e mensalidades escolares, por exemplo. Por isso, o resultado robusto de um ano contamina a inflação do ano seguinte.
“A inflação vai dar um certo trabalho em 2011“, prevê o coordenador de análises econômicas da FGV, Salomão Quadros. Mas ele não acredita que o IGP-M do ano que vem supere o resultado do indicador deste ano. Em cinco de 12 meses de 2010, o IGP-M mensal passou de 1%.
Quadros observa que boa parte da disparada do IGP-M registrada neste ano se explica pela recuperação das perdas registradas em 2009. No ano passado, o IGP-M fechou com deflação em razão dos efeitos da crise financeira internacional que eclodiu no fim de 2008. “Não é provável que haja recuperação ao longo de 2011”, diz. Nas suas contas, considerando a deflação de 2009 e o resultado deste ano, a inflação média do IGP-M em dois anos (2009 e 2010) seria, em média, de 4,6% a cada ano.
De toda forma, os resultados anuais de 2010 dos três índices que compõem o IGP-M não deixam dúvidas de que a inflação voltou com força neste ano, puxada não só pelas commodities, mas também pela demanda interna aquecida. O Índice de Preços por Atacado (IPA), que responde por 60% do IGP-M, aumentou 13,9% este ano, ante deflação de -4,42% em 2009.
O Índice de Preços ao Consumidor (IPC), que é 30% do indicador global, subiu 6,09% em 2010, com variação 50% maior que a do ano anterior (3,97%). A maior influência no IPC, que considera o peso do item e a variação, foi exercida pelas tarifas de ônibus urbanos, que subiram 11,47%, pelos aluguéis residenciais (4,15%) e planos de seguro e saúde (5,77%)
Impulsionado pelo bom momento da construção, com crédito imobiliário farto e as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o Índice Nacional da Construção Civil subiu 7,58% este ano, mais de duas vezes a alta acumulada em 2009.
Fonte: Estadão