Cancún – México: No primeiro dia em que realizou-se no Cancún a Assembleia Geral da ACI (Aliança Cooperativa Internacional) ocorreu um seminário organização pela Associação Internacional dos Bancos Cooperativos (ICBA) e pelo Comitê Regional de Cooperativas Financeiras e Bancos Cooperativos da Aliança Cooperativa (COFIA). Neste painel foram analisadas as diferenças e especificidades do setor bancário e financeiro cooperativo com o objetivo de mostrar sua importância no contexto mundial.
O painel foi conduzido pelos Sr. Tomas Carrizales (Presidente Cofia) e pelo francês Jean-Louis Bancel, Presidente da ICBA. A ICBA é um departamento da ACI que trata especificamente das cooperativas bancárias. Ela não possue uma equipe de trabalho permanente (funcionários), sendo muito importante o auxílio das cooperativas filiadas para dar andamento às demandas do setor. As Cooperativas Financeiras são muito importante para construir um mundo sustentável e para obter uma reforma do sistema financeiro.
Segunto o Sr. Jean-Louis, em um relatório recente do B20 (grupo semelhante ao G20, porém com foco financeiro) foram apresentados dados mostrando que no mundo existem 2 bilhões de pessoas que necessitam assistência financeira. Este número, comparado com o 1 bilhão de pessoas que atualmente já são associadas a cooperativas no mundo nos dá uma dimensão do crescimento no número global de associados, visto que as 2 bilhões de pessoas com necessidades financeiras poderiam tranquilamente serem associadas a uma cooperativa de crédito.
Atualmente as 100 maiores cooperativas financeiras do mundo tiveram US$ 194 bilhões de faturamento, valor este bastante considerável no universo do Sistema Financeiro Mundial. No seminário destacou-se que hoje estas cooperativas são grandes, mas que em algum momento no passado elas já foram pequenas, servindo isto como motivação para as cooperativas atuais que ainda não tem um grande ganho de escala.
Para 2012 a ICBA quer publicar uma lista dos países que não incentivam a existência de cooperativas financeiras. O Reino Unido é um exemplo pois lá as “cooperativas” tem de ser constituídas como S/A, não podendo ser cooperativas de fato. O objetivo é evidenciar onde existe necessidade de um trabalho mais focado, buscando-se o reconhecimento das cooperativas como instituições financeiras.
Destacou-se também que devemos sempre nos apresentar como cooperativa, pois isto demonstra e transmite segurança. Na França e nos EUA, durante a crise financeira, muitas pessoas sacaram dinheiro dos bancos e depositaram nas cooperativas. Atualmente está ocorrendo um forte movimento nos EUA com pessoas sacando dinheiro dos bancos e depositando-os nas Cooperativas de Crédito, em um movimento que tomou as ruas de Wall Street.
Um dos apresentadores, Jean-Claude Detipresi, Presidente de uma Cooperativas francesa lembrou que os bancos cooperativos são tão importantes, a ponto de em muitos países existirem regras específicas para eles. Lembrou também que desde 2003 buscam-se alterações na contabilidade reconhecendo as diferenças entre as cooperativas e os bancos tradicionais.
Jean-Claude falou da batalha que busca reverter a ICPC-14 que prevê a contabilização do capital social no Passivo Exigível e não mais no Patrimônio Líquido. A orientação dada é que as cooperativas busquem negociar com as entidades reguladoras nacionais para contornar a situação atual. Segundo Jean Claude esta é uma briga política e não técnica e já existem países conseguindo a reversão da situação. Segundo ele, deve haver o reconhecimento de que o que interessa em uma cooperativa não é a forma com que é tratado o capital social e sim o tipo de negócio que é realizado, baseado em democracia e justiça. Para ele, em uma economia ideal deve haver diversidade de modelos e concorrência. Não é saudável que hajam apenas grandes bancos. Na Europa, por exemplo, as cooperativas financeiras tem um papel muito importante no financiamento das PME’s (Pequenas e Médias Empresas).
A grande expectativa dos painelistas é de que no ano de 2012 possamos aproveitar a divulgação do Ano Internacional das Cooperativas para conquistar o reconhecimento regulatório mundial e em alguns países.
Por Márcio Port, de Cancún, México