Desempenho do Brasil está fortemente atrelado aos rumos da realidade econômica mundial, mas deve manter o crescimento do mercado interno
O cenário econômico internacional, principalmente o europeu, deverá ser o principal termômetro também para a economia brasileira no próximo ano. A avaliação foi apresentada pelo Sicredi durante a palestra “Cenário Econômico e Perspectivas 2012”. O evento contou com a participação do diretor de Economia e Riscos do Banco Cooperativo Sicredi, Júlio Cardozo, do gerente de Análise Econômica e Riscos de Mercado, Alexandre Englert Barbosa e do consultor econômico Marcelo Portugal.
O Sicredi acredita que a economia terá um desempenho menor, de 3,7% e 3,0% em 2011 e 2012, respectivamente. “A menor demanda de produtos manufaturados é um indicador de desaceleração mais forte no futuro, especialmente para zona do Euro”, explicou Marcelo Portugal. Entre os três principais motores da economia global, Estados Unidos, China e Europa, esta última é a que apresenta os principais fatores de fraqueza no crescimento, pouco compensados pela moratória grega ou pelo auxílio de US$ 1,4 trilhão.
“O pior cenário futuro é o de um default desordenado, com a saída, da zona do Euro, de países como Portugal, Grécia e outros de economia mais fraca. No entanto, a estratégia atual tem sido de conceder mais prazo para possibilitar o ajuste fiscal, como vem funcionando com a Irlanda e Portugal”, assinalou. No momento, o que se tenta evitar a todo custo é uma crise bancária, mas Portugal apontou que há sinais desanimadores: os bancos americanos não financiam os bancos europeus; o dólar está se valorizando e o crédito para exportação já é mais escasso no Brasil.
Ainda, segundo o consultor, nos Estados Unidos, haverá recuperação, mas apenas gradual, com o agravante do desemprego elevado e desempenho fraco no mercado imobiliário e de crédito, com problemas políticos na concessão de estímulos fiscais e monetários. “A China apresenta um crescimento mais robusto, mas, ainda assim, descendente, com inflação em desaceleração e risco de bolha no mercado imobiliário, que está muito aquecido”, afirmou.
Cenário brasileiro é de força no mercado interno
Baseado neste contexto internacional, a projeção de Alexandre Englert Barbosa é, para 2012, de crescimento de 3,3% no PIB, inflação de 5,6%, ainda longe do centro da meta de 4.5% estabelecida pelo governo e taxa Selic na casa dos 10%. “O final de 2011 está evidenciando uma desaceleração na economia – inclusive com desempenho negativo no terceiro trimestre -, que deverá apresentar recuperação ao longo do próximo ano, balizado pelo setor de serviços, que não sofreu com a crise de 2008 e se encontra aquecido pela forte demanda interna”, comentou, salientando ainda o crescimento da renda fomentado por um aumento do salário mínimo previsto para 14% em 2012. “O crédito também deve seguir crescendo, diante da queda dos juros e do afrouxamento de medidas macroprudenciais como a redução da exigência de capital, depósito compulsório, entre outras”, disse Barbosa.
O câmbio brasileiro é que deve sofrer grandes oscilações, devido ao nervosismo do mercado. Apesar da taxa de R$ 1,75 para o dólar valer tanto para o fim de 2011 quanto para 2012, o período deve ser marcado por altas e quedas ao redor desse valor. “Em parte isso acontece pelos choques vindos do mercado internacional, que afetam a entrada e saída de dólares do Brasil”, esclareceu. Se a crise se intensificar, o gerente assinala a possibilidade de a redução da Selic ficar ainda mais abaixo dos 10% estimados pelo Sicredi. Os principais riscos para o Brasil estão em uma eventual ruptura da economia internacional, e estão localizados principalmente na indústria, que pode sofrer mais com os segmentos ligados a investimento e crédito, além das exportações para os países europeus mais atingidos pela crise.
Investimentos refletem incerteza da crise
O diretor Júlio Cardozo concluiu com a análise do mercado financeiro, apontando uma apreensão dos investidores relativa à inflação no médio e longo prazos, visíveis no comportamento da bolsa e do mercado de juros. “Em 2011, o mercado de juros futuros sofreu um choque no sentido de queda das taxas. O prêmio de risco agora é negativo. A extensão desse choque e suas consequências ainda são incertas”, observou. Cardozo acredita numa maturidade maior da economia brasileira, resultando na aproximação do Brasil com a avaliação de risco dos países mais desenvolvidos, a julgar pelo spread pago hoje, graças à crise de dívida soberana europeia.
Para a Bolsa de Valores, o diretor nota um comportamento mais favorável do Ibovespa quando comparado às bolsas americana e europeias no curto prazo. “Resta saber se este é um movimento duradouro: como a bolsa é o mercado mais sujeito à atuação do investidor estrangeiro, a crise europeia e a situação fiscal americana vão ditar, mais uma vez, o rumo do Ibovespa no próximo ano. A diferença é que estamos em um preço cada vez mais atrativo”, considerou, apontando a queda de cerca de 18% sofrida pela Bovespa em 2011.
Fonte: Sicredi