Diante de um cenário de debate sobre a necessidade de redução do spread bancário – diferença entre o custo de captação e aplicação – no sistema bancário brasileiro, as cooperativas de crédito sobressaem ao fechar 2011 com R$ 86,5 bilhões em ativos, acréscimo de 25,8% ante 2010, o que representa um total 8,7% superior às demais instituições financeiras. De acordo com os representantes da Organização das Cooperativas de Crédito (OCB) e do Sescoop-SP, a função está na inclusão bancária e regulação das taxas de juros, já que o objetivo não está no lucro.
Até fevereiro, o saldo de empréstimos concedidos para pessoas físicas por meio de cooperativas de crédito totalizou R$ 32,956 bilhões, crescimento de 24,5% em 12 meses, segundo dados do Banco Central. Mas no acumulado total, em 2011, o estoque de financiamentos concedidos atingiu R$ 37,8 bilhões, alta de 25% na comparação com 2010.
No que se refere ao total de ativos, o segmento acumulou até dezembro do último ano R$ 86 bilhões, com a entrada de R$ 17,8 bilhões em recursos financeiros, enquanto em 2010 os ingressos somaram R$ 15,9 bilhões. Em depósitos, o saldo ficou em R$ 38,1 bilhões, alta de 26,3%, enquanto o sistema financeiro nacional apresentou expansão de 14,1% no mesmo período. Já em patrimônio líquido, as cooperativas somaram R$ 15,9 bilhões em 2011, contra R$ 13,1 bilhões do ano anterior, o que representa um acréscimo de 20,6%.
Questionado sobre o papel das cooperativas de crédito para estímulo da economia, o gerente do ramo Crédito da OCB, Sílvio Giusti, explica que a função, também estimulada pelo Banco Central, está na regulação, além da inclusão bancária. “As cooperativas servem como reguladores de preço com taxas mais atrativas e, assim, o banco tem a pressão de fazer com que as taxas caiam. Quanto maior for a participação, maior será a eficiência de promover a queda.”
No entanto, a média de participação no Brasil ainda é pequena, de 2% do sistema financeiro nacional ante outros países, como a Alemanha, que detém até 30%, ou a França, na qual 43% do crédito estão nas cooperativas. “Apesar do crescimento acima do do mercado, estamos expandindo em torno de 2%. Mas temos o objetivo a perseguir de 10%, porque o nosso papel é de desconcentrar o mercado com alternativas para a sociedade”, ressalta Giusti.
O consultor do ramo de crédito do Sescoop-SP, Gil Agrela, concorda: “No interior de São Paulo, as cooperativas têm um poder de regular o mercado com força muito maior. Em certas cidades a movimentação é superior do que em agências de banco”.
Outro ponto a ser destacado em 2011, segundo o gerente do ramo Crédito da OCB, Sílvio Giusti, foi a entrada de novos associados: 700 mil, para 5,8 milhões. Giusti explica que o conceito garante o crescimento, no qual a relação é de dono e não cliente.
Presente em 45% dos municípios brasileiros, há 4,8 mil pontos que somam cooperativas e postos de atendimento cooperativo (PACs), saindo da marca de 4,5 mil em dezembro de 2010. Do total de PACs -3,159 mil-, 354 novos foram implantados no último ano. “Este foi o melhor desempenho dos últimos seis anos e permite a inclusão financeira das classes C,D e E, além de manter a característica que não visa ao lucro, com o objetivo de atender o quadro social com taxas de juros mais justas”, diz o gerente da OCB.
As cooperativas de crédito são instituições financeiras reguladas e fiscalizadas pelo Banco Central, e o consultor do ramo de crédito do Sescoop-SP explica que as instituições devem ser vinculadas a algum segmento ou de livre admissão, também chamadas de cooperativas abertas. No último caso, a legislação permite a atuação livre somente com patrimônio líquido de mais de R$ 25 milhões, caso contrário fica restrito ao limite máximo de população por município.
Na Grande São Paulo, Agrela revela que mais de 80% são ligadas a alguma empresa, como do Grupo Pão de Açúcar, que concentra 68 mil associados. “Mas de 2003 para cá têm crescido muito as de empresários, que basta ter um CNPJ para participar.”
Outra tendência observada no estado e Região Sudeste, também repetida na Sul, está na consolidação das cooperativas. “Há um incentivo do BC para a aglutinação de cooperativas para aumentar a eficiência e reduzir custos.” Essa convergência deve continuar em 2012 junto com a expansão da área de atuação. “Hoje estamos em 52% dos municípios e trabalhamos para chegar mais próximo dos cooperados”, pontua o consultor do Sescoop-SP.
Fonte: Agronotícias