Qual é o real sentido da palavra parcimônia que é apresentada junto ao parágrafo que define a Selic nas duas últimas atas do Comitê de Política Monetária (Copom)?
Para um grupo de analistas sinaliza que ainda não terminou o ciclo de afrouxamento monetário, iniciado em agosto do ano passado, já que o BC adotou desde 08/2011 uma sequencial redução de 4,5% na taxa Selic, chegando aos 8% a.a. que é o menor patamar desde 1996 quando foi criado o Copom. Se eles estiverem certos em suas inferências poderemos ter Selic de 7% a.a. o que daria uma rentabilidade líquida de menos de 2% a.a. para os investidores em papel atrelados ao CDI (balizado pela Selic), já que o resto será inflação prevista para mais de 5 % a.a. e impostos.
O que pensa o outro grupo de analistas? Eles julgam a expressão parcimônia, contida na ata do Copom, como um sinal claro de que nada pode ser previsto para a próxima reunião, podendo inclusive, se elevar, já que a crise internacional afeta sobre-maneira nossa economia, mesmo que indiretamente.
Ou seja, apesar das últimas atas conterem inúmeras e substanciadas dissertações dos cenários econômicos nacionais e internacionais, deixando transparecer um cenário macro aparentemente sob controle das autoridades monetárias, já não é raro vermos analistas sinalizando uma Selic próxima de 11% a.a. (ou mais) para o final de 2.013. Portanto, com parcimônia, façamos nossas apostas, mas não nos esqueçamos de estar preparados para sempre sermos muito competitivos em nosso mercado, seja com Selic alta ou baixa.
Em inúmeros artigos postados em nosso site tratamos do elevadíssimo impacto da Selic na gestão de uma Singular. E em função da relevância do tema explicitado nos parágrafos acima e da certeza que a forte baixa da Selic afetará sua Singular, resolvemos compartilhar reflexões para que tenhamos tempo e astúcia para gerir melhor nosso modelo de negócio e, assim, reverter ou suavizar este impacto sobre suas Sobras projetadas.
De forma sintética, a forte e rápida queda da Selic pode ter os seguintes impactos em uma Singular:
1. Impactos potencialmente saudáveis:
1.1. Menor custo real na captação de depósito a prazo
1.2. Menor custo para remunerar o capital social em 31/12/2012, podendo também ser um bom momento para iniciar esta caminhada para quem ainda não o remunera
1.3. Potencial elevação da carteira de crédito, haja vista terem seus custos finais diminuidos pela redução do custo da captação, maiores prazos, etc.
1.4. Maior busca por linhas subsidiadas de repasse do governo para investimento de longo prazo
1.5. Maior evidência para as receitas advindas de serviços, crédito massificado e outras soluções
1.6. Maior atenção ao uso da conta corrente como um indicador eficaz de aderência do cliente
2. Impactos potencialmente preocupantes:
2.1 Geral:
2.1.1. Sobras projetadas com reais dificuldades de se realizarem
2.1.2. Sobras menos atrativas, gerando o enfraquecimento de um de nossos grandes diferenciais
2.1.3. AGOs com menor valor a ser rateado, ou até com “inesperados” prejuízos
2.1.4. Fusões intempestivas
2.1.5. Reservas e Fates com menor aporte nas AGOs
2.1.6. Possibilidade de maquiar a inflação sobre os resultados e soluções
2.1.7. O Planejamento Estratégico perde a coerência se não tiver sido refeito em junho deste ano
2.1.8. Governança Corporativa com menor receptividade por estar iniciando sobre um cenário de extrema turbulência
2.1.9. Necessidade de elevar substancialmente a renda com serviços, algo “fácil”, mas inelástico
2.1.10. Ações desregradas na elevação da base de clientes para mais demanda de crédito ou captação
2.2 Captação:
2.2.1. Elevada perda com a centralização, em especial, nas Singulares com excesso de liquidez
2.2.2. Aceitar um ainda maior apetite de risco da Central, para que possa remunerar medianamente os recursos lá estocados, seja por regulamentação ou por excesso de liquidez
2.2.3. Tendência de vermos Singulares pagando facilmente acima de 100% do CDI, com o objetivo de manter atrativas suas captações, o que é um risco histórico à perpetuação de qualquer instituição
2.2.4. Necessidade de capacitação do pessoal de venda focando em argumentações assertivas para manter satisfeitos os antigos investidores em Depósito a Prazo (e Capital Social), evitando que fujam para investimentos de maior risco, imóveis ou mesmo investindo em sua “empresa”
2.2.5. Perda de liquidez, com descasamento da carteira de crédito pela potencial evasão dos médios e grandes aplicadores em depósito a prazo, “capital social” e depósito a vista
2.2.6. Migração instável de recursos da poupança para o depósito a prazo, ou vice-versa
2.2.7. Necessidade de mudar o perfil da captação em depósito a prazo travando para prazos bem acima de 31 dias, a fim de, com isto fazer frente minimamente ao prazo médio dos créditos
2.2.8. Metas podem ter se tornado dificílimas ou facilitadas pela extrema baixa da Selic
2.3 Crédito:
2.3.1. Necessidade de novas políticas populares e suavizadas de crédito para elevar o volume e manter a mesma rentabilidade
2.3.2. Desenvolver um pró-ativo setor de acompanhamento de crédito, evitando inadimplência acima da precificada
2.3.3. Elevação ou mesmo a manutenção da inadimplência sem a realista precificação na taxa
2.3.4. Redução abrupta de renda atual e futura nas carteiras de crédito atrelado ao CDI
2.3.5. Maior endividamento de clientes pelo prazo mais elástico do crédito de varejo
2.3.6. Necessidade de alongar os prazos dos créditos para ajustar ao novo cenário de taxas baixas, sem que tenhamos sapiência ou tecnologia para tanto
2.3.7. Necessidade de adotar taxas fixas de juros no varejo para prazos de 24 meses ou mais
2.4 Vendas:
2.4.1. Necessidade de maior profissionalização em vendas, com astutas segmentações, metas, meritocracia etc
2.4.2. Necessidade de valorizar outras soluções a disposição de nossa força de venda
Senioridade na Contextualização Política e sua Retórica
Quanto mais seniores nos tornamos, mais facilmente reconhecemos que as ações do governo tendem a ser populistas ao se aproximarem de um importante pleito político, em especial, aqueles que mobilizam os municípios e impactam diretamente o cidadão. A senioridade também nos aponta que o governo não é eficaz na gestão dos seus custos com a máquina pública pagos com elevados impostos, sendo também fraco no apoio a infraestrutura para o aumento da produção de bens com mais valor agregado e no escoamento da produção agrícola. Isto sem falar da área da saúde, educação, segurança pública, etc.
Diante deste cenário desfavorável ao governo, ele elege quase sempre o Sr. Mercado como culpado, haja vista ser uma “entidade” impessoal e desprovida de autodefesa formal. De tal sorte que veremos seus dirigentes utilizando frases e palavras de retórica que permitem inúmeras interpretações sem qualquer compromisso formal por parte de quem a fala. Para tanto, vejamos, por exemplo, a fala do Alexandre Tombini, presidente do Banco Central, em teleconferência com jornalistas estrangeiros em 23/07/2012: “O Brasil atravessa uma típica desaceleração cíclica”. Assim, cada um de nós fará uma interpretação desta frase, sem termos certeza da nossa conclusão, pois sabemos que seu viés será positivo ou negativo dependendo do nosso foco.
Reflexão Final: A forma parcimoniosa que o Banco Central conduz sua política monetária baseada na taxa da Selic é impactante para o Cooperativismo de Crédito, seja para o bem ou para o mal. Neste cenário, quanto mais cedo compreendermos as complexas e sutis interações deste tema, mais preparado estará o Cooperativismo de Crédito para conviver com qualquer nível de Selic.
Certamente, podemos desde já reduzir o impacto da nossa dependência de uma ação populista eleitoreira ou monetária, como pode ser a forte redução da Selic. Para tanto, basta que foquemos no ainda esquecido e elementar objetivo de nosso modelo de negócio que é…
Ser eficaz em nosso mercado vendendo soluções úteis e bem precificada aos bons clientes.
Ricardo Coelho – Consultoria e Treinamento Comercial para Instituições Financeiras – www.ricardocoelhoconsult.com.br
Ricardo
Se bem entendi a sua matéria, com excessões, a partir de agora as cooperativas de crédito deverão passar por um processo de profissionalização, com consequente aumento aumento de criatividade na gestão de seus negócios?
Ou seja, as cooperativas de crédito deverão sair da sua zona de conforto e operar como se fossem bancos, conservando seus princípios?
Se for este o caso, é um desafio e tanto.
Abraços