O recado dos bancos para funcionários e acionistas é claro. Daqui para a frente, as instituições financeiras terão de se esforçar para gerar cada vez mais receita com o menor gasto possível.
Itaú Unibanco, Bradesco, Banco do Brasil, Santander e Caixa Econômica Federal estão em meio a programas de melhoria da eficiência. O movimento não é sem causa. A queda da taxa de juro básica da economia vai trazer uma nova realidade para os bancos brasileiros. Segundo analistas e banqueiros ouvidos pelo Valor, os ganhos menores com as taxas de juros cobradas dos clientes vão escancarar eventuais ineficiências das instituições financeiras no Brasil.
Na comparação com seus pares pelo mundo, os bancos brasileiros são hoje menos eficientes, segundo relatório do Goldman Sachs. No Brasil, as despesas operacionais representam 6% dos ativos médios, quase o dobro da média apresentada por instituições nos Estados Unidos e no resto da América Latina. Em parte, segundo o Goldman Sachs, esse é um problema causado por custos trabalhistas e tributários mais altos. Mas não é só isso. Ainda há gordura para queimar, na avaliação do Goldman. “Ao se esforçar consistentemente para melhorar a eficiência e reduzir as despesas, os bancos brasileiros podem neutralizar o impacto das margens financeiras menores”, escreveram os analistas do banco. A avaliação deles é que, até os projetos de ganho de eficiência estarem concluídos, as instituições financeiras no Brasil ainda verão seu retorno sobre o patrimônio (ROE) cair, um fenômeno que vem sendo observado ao longo deste ano.
Depois de 2013, porém, deve voltar a patamares próximos de 20%. Itaú, Banco do Brasil e Santander estão hoje abaixo disso. Na corrida pela eficiência ninguém fica de fora. O Bradesco anunciou neste mês que pretende alcançar um índice de eficiência de 39% em 2014. Em junho, o indicador estava em 42,4%. Quanto menor esse número, mais eficiente é um banco, já que ele mede a razão entre despesas operacionais e receitas. O Itaú Unibanco quer atingir 41% em 2014 ante os atuais 45%. O Banco do Brasil quer, a partir de 2014, voltar ao patamar de 42%, nível observado em 2011. Hoje está em 43,4%. O Santander, com 41,9%, busca uma redução de dois a três pontos percentuais por ano.
Dona do pior índice entre os maiores bancos do país, de 69,1%, a Caixa Econômica Federal também quer reduzir a distância que tem das demais instituições. Por isso acabou de contratar uma consultoria estrangeira para traçar um plano com o objetivo de tornar o banco mais eficiente. Em meio à decisão do governo de forçar a redução dos spreads nos empréstimos via bancos públicos, o índice de eficiência da Caixa fechou junho com 3,2 pontos percentuais a mais do que um ano antes. “Há um novo padrão de taxa de juros no país. Por isso é preciso estabelecer um outro modelo de produtividade dos bancos”, diz Marcio Percival, vice-presidente de finanças da Caixa. Embora a Caixa procure se aproximar dos demais, Percival ressalta que, por ser um banco que dá crédito estudantil, faz o pagamento de programas governamentais e tem a maior carteira de crédito imobiliário do país, a Caixa tende a enfrentar mais dificuldade para obter uma eficiência igual àquela dos seus pares.
O Itaú tem deixado claro ao longo dos últimos trimestres que uma das vertentes do seu projeto passa pela redução do quadro de funcionários. Do início de 2011 para junho deste ano, o número de empregados do Itaú caiu 9,85%, para 99 mil. Se uma pessoa sai do banco, a vaga não é preenchida. A iniciativa do Itaú já tem levado analistas de bancos a considerar que o Bradesco também pode em breve iniciar algum movimento parecido. Luiz Carlos Angelotti, diretor de relações com investidores do Bradesco, nega. O banco criou um comitê de eficiência com 20 executivos para discutir estratégias na área. O executivo explica que dois fatores exigem que o Bradesco tenha mais empregados do que o Itaú. Um deles é que o banco da Cidade de Deus tem 545 agências a mais do que o concorrente. Só no ano passado, o banco abriu mais de mil agências, com o objetivo de engordar suas receitas, vendendo mais produtos e serviços à clientela. Além disso, a estrutura do Bradesco engloba uma seguradora, enquanto o Itaú tem uma participação minoritária na Porto Seguro.
No Banco do Brasil, o projeto também abarca mudanças no quadro de funcionários, deixando cada vez menos gente na área administrativa. “A ideia é liberar mão de obra para as agências, para a linha de frente das vendas”, diz Marco Antônio Mastroeni, diretor de estratégia e organização do Banco do Brasil. Não é só com a tesoura que os bancos buscam mais eficiência. Quem engordar o denominador do índice de eficiência – ou seja, as receitas – sem mexer na parte de cima da fração também vai se tornar mais eficiente. Por isso a estratégia do Banco do Brasil de colocar mais gente nas agências para vender produtos e serviços. O crédito imobiliário certamente estará no rol de empréstimos que os gerentes mais devem buscar ofertar. “O financiamento da casa própria é um produto que fideliza muito o cliente. Em média, quem tem um crédito imobiliário tem outros nove produtos“, afirma Mastroeni.
Ao abrir mais de mil agências ao longo do ano passado para aumentar as vendas, em um primeiro momento o Bradesco teve de sacrificar a eficiência, aumentando as despesas. Apesar das mais variadas fórmulas que os bancos estão adotando para se tornar mais eficientes, todos têm como regra comum os investimentos em tecnologia para reduzir custos. O atendimento nos caixas eletrônicos, por exemplo, precisa se tornar mais ágil, com sistemas mais rápidos. Até 2014, Angelotti, diretor do Bradesco, diz, por exemplo, que o tempo que cada pessoa gasta em frente a um caixa cairá 25% por causa de melhorias tecnológicas. O executivo não informa qual o tempo médio hoje. Só neste ano, o banco está investindo R$ 5 bilhões em sistemas. O Santander está em meio a um projeto para digitalizar todos os documentos que precisam transitar entre agências, escritórios e a sede. “Em um prazo de seis meses, o banco quer eliminar o transporte de papéis como contratos e ofícios legais”, afirma Marcelo Zerbinatti, diretor de organização, tecnologia e processos do Santander.
Fonte: Valor Econômico