A Organização das Nações Unidas – ONU – declarou 2012 como o Ano Internacional do Cooperativismo. É uma grande conquista deste importantíssimo mecanismo de organização econômica da sociedade, assim como o sindicalismo é o seu braço político.
Porque razão a ONU estaria prestando tão expressiva homenagem ao movimento cooperativista?
Embora a doutrina cooperativa (cujo conceito fundamental é o de “corrigir o social através do econômico”) seja muito antiga e venha sendo estudada há alguns séculos, as cooperativas só tiveram sucesso e se firmaram como empresas competitivas após a Revolução Industrial ocorrida na Europa em meados do século XIX.
Por que só então? A Revolução Industrial, que mostrou mais claramente as diferenças entre as classes sociais, produziu duas consequências desastrosas para o equilíbrio das sociedades: por um lado, excluiu milhares de trabalhadores – substituídos pelas máquinas operatrizes – gerando um grande desemprego; e, por outro lado, concentrou riquezas nas mãos daqueles poucos que, por quaisquer circunstâncias, tinham conseguido o capital necessário para montar indústrias.
Os excluídos se juntaram em uma cooperativa de consumo – e isso começou em Rochdale, pequena cidade do interior da Inglaterra, perto de Manchester – com a ideia de que, comprando junto, teriam mais escala e comprariam mais barato. O projeto deu certo, foi se replicando pelo país todo, depois pela Europa e por fim ganhou o mundo, estando presente hoje em praticamente todos os países.
Ao combater a exclusão social e a concentração de riqueza, o movimento cooperativista passou, de forma indireta, a ser um aliado da democracia e da paz, na medida em que estes fundamentos não se sustentam onde imperam aquelas condições. E governos democráticos ao redor do mundo apoiaram o cooperativismo, admitindo ser este movimento um formidável aliado para o desenvolvimento harmonioso dos povos, uma vez que seus objetivos são os mesmos difundidos pelos verdadeiros democratas.
Os 7 princípios cooperativistas, hoje aceitos globalmente e defendidos pela Aliança Cooperativa Internacional (órgão de cúpula do movimento), são todos baseados nos mesmos valores que a democracia incorpora: igualdade de oportunidades, distribuição de renda, segurança alimentar e do alimento, defesa do meio ambiente, pleno emprego e empregos cidadãos, educação e saúde para todos, enfim, as bandeiras da democracia e do cooperativismo são extremamente afinadas.
E a defesa da paz está no DNA de ambos.
Ocorre, adicionalmente, que existe atualmente quase 1 bilhão de associados ao cooperativismo em todos os continentes. Se cada um deles tiver mais 3 agregados, isso representa 4 bilhões de pessoas ligadas a uma única doutrina: talvez nenhuma religião tenha tamanha expressão numérica em termos de adeptos ou seguidores. Isso faz do cooperativismo o maior contingente humano do planeta trabalhando de forma articulada em prol da paz e da democracia.
Isso é mais do que suficiente para justificar a importante homenagem que o movimento internacional recebe da ONU. E este galardão terá, sem dúvidas, desdobramentos muito positivos para o movimento e para a própria doutrina. As celebrações ocorreram globalmente, sempre centradas no primeiro sábado de julho, reconhecido como o Dia Internacional do Cooperativismo.
Um exemplo relevante: o novo Diretor Geral da FAO, o ex-Ministro José Graziano da Silva, criará um setor do cooperativismo na sua poderosa instituição. Ele reconhece que as cooperativas podem ser um precioso instrumento para o desenvolvimento agrícola dos países mais atrasados, na África, na Ásia e na América Latina. E tem razão.
Ora, dadas todas estas condições, por que não almejar também para o cooperativismo o Prêmio Nobel da Paz?
Nada seria mais justo do que isso. Outras instituições já receberam a distinção, como Médicos sem Fronteiras, por exemplo, aliás, muito importante também.
ROBERTO RODRIGUES – coordenador do Centro de Agronegócio da FGV e professor de Economia Rural da UNESP/Jaboticabal
Fonte: Revista Mundo Cooperativo