Somos oito irmãos e quando éramos mais jovens nossa mãe sempre tinha a sapiência de nos orientar quanto aos riscos de adotarmos critérios simplistas de comparação frente a situações, atitudes ou mesmo na avaliação de bens de consumo. Com explicações claras nos fazia perceber que se não temos um mesmo denominador para a comparação corremos o risco de comparar “alhos com bugalhos“. Ensinava que “bugalhos” assemelham-se ao alho, mas é um “fruto” do carvalho e que poderia confundir uma pessoa desatenta.
Acredito que você esteja se perguntando. Mas o que alhos e bugalhos têm a ver com o cooperativismo de crédito? Ocorre que nosso modelo é uma ótima solução social e desfruta de uma pujança que nos encanta, contudo algumas vezes percebemos que poderíamos ser mais eficazes em nossos critérios de comparação mercadológica, em especial quando nos comparamos aos bancos de varejo massificado. É um segmento forte e profundo conhecedor do nosso mercado, mas, apesar de termos similaridades, é prudente não investirmos muitos esforços na busca de comparações com este segmento.
Este artigo visa apoiá-lo na estratégia de crescimento de sua Singular com macros informações e reflexões sobre o nosso mercado e explicitar algumas das diferenças que temos com os bancos de varejo que não nos permitem uma clara comparação. Vamos contextualizar diferenças:
PRINCÍPIOS PARA UMA COMPARAÇÃO: Se alguém lhe convidar para ir aos Estados Unidos e lhe informar que a temperatura média por lá é 22 graus, você pensará que a temperatura está agradável, mas de fato passará muito frio. Ocorre que a temperatura informada correspondente a 6 graus Celsius negativos, haja vista que os americanos adotam a escala Fahrenheit. Assim, ao desconsideramos regras e métricas estruturais de uma comparação, muito provavelmente tendemos a incorrer em alguns equívocos de análise quando nos comparamos com os bancos de varejo, já que abaixo veremos que eles têm histórico e variação de legislações distintas das nossas.
EQUÍVOCOS DE COMPARAÇÕES EM SINGULARES: Antes de explicitar as diferenças que temos frente aos bancos devemos recordar que já podemos estar cometendo equívocos em comparações quando analisamos a nós mesmos. Alguns destes foram apresentados em nossos artigos já postados em nosso site. Portanto, se fazemos comparações equivocadas, tendemos adotar ações menos eficazes. Abaixo sintetizamos alguns dos temas de nossos artigos para que você possa recordá-los e melhor contextualizá-los a este artigo quanto a equívocos na comparação:
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A prática de muitas Singulares compararem suas sobras com as co-irmãs, sem considerar se as duas remuneraram juros ao Capital Social. E em que percentual da Selic.
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Desconsiderar na gestão e nas comparações o efeito nocivo ou benéfico da evolução vegetativa de todos os valores gerenciados por uma Singular como: depósitos a vista e a prazo, carteira de crédito, capital social, sobras, renda dos sócios…
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Analisar ou comparar base de sócios aceitando como ativos aqueles que têm pelo menos uma movimentação no semestre, algo não pouco útil comercialmente… .
Poderíamos elencar alguns outros temas relevantes quanto a equívocos de comparação, mas estes acima já nos apoiam para demonstrar que “comparação” é um tema que poderia ser ainda melhor trabalhado por nós. Assim, passaremos a refletir sobre regras e cenários que impactam os bancos de varejo, mas não se aplicam as Singulares e assim, tendem a tornar pouco úteis nossas eventuais comparações com estes ditos concorrentes. Vamos analisar algumas delas.
COMPULSÓRIO – ENTENDER PARA COMPARAR: Pela sua relevância comercial, econômica e histórica, os bancos de varejo têm legislação muito mais rígidas que as nossas. Entre elas a que lhe impõe um alto custo que são os cinco tipos de compulsórios. Compulsórios são fortes ferramentas de política monetária utilizada pelo governo pela qual rapidamente injeta ou retira liquidez do mercado. Os percentuais compulsórios a serem recolhidos pelos bancos são dinâmicos, mas na média, recolherão ao Banco Central sem nenhuma remuneração, e ocasionam forte redução de ganhos e de liquidez. São estes os balizadores de seus compulsórios: 42% do seu Depósito a Vista, 20% do Depósito a Prazo, e 10% da Poupança, 5% do Leasing além de um quinto compulsório de 5% denominado exigibilidade adicional sobre depósitos anteriores. Desta feita, mesmo não tendo a necessidade de recolher, compulsoriamente e sem remuneração, estes valores ao Banco Central, seria prudente imaginar como ficaria a competitividade das Sobras de nossas Singulares ou o impacto no volume global a emprestar e nos ganhos sobre nossa carteira de crédito com recursos próprios.
TRIBUTAÇÃO – ENTENDER PARA COMPARAR: Os bancos têm um ônus extra de IOF de 1,5% a.a. em todos os créditos concedidos, os quais são pagos pelos seus clientes. Em uma negociação mais apertada, esta não tributação nos permite uma ótima diferença comercial.
Ainda quanto a tributação é sabido que, em função de nosso modelo de negócio circunscrito entre sócios e sua entidade, devemos despender esforços para que continuemos a não ser tributados sobre os valores distribuídos nas Sobras provenientes dos saldos médios de Depósito a Prazo e a Vista ou valor recebidos como juros ao Capital, como exista.
Nesta seara de tributos poderíamos elencar outras formas de tributos devidos pelos bancos e que não incidem sobre o nosso modelo de negócio. Portanto, a tributação é um real diferencial ao nosso favor e que devemos os capitalizar aos sócios como ganhos sociais diretos do nosso modelo.
OUTRAS COMPARAÇÕES: Há outras diferenças, mas abaixo elencamos de forma breve duas delas:
Fila: Cada vez mais Singulares só atendem seus sócios em suas unidades. Já os bancos devem atender 100% da população que o procura, cliente ou não. Diante desta tendência fica frágil a comparação quanto à qualidade de atendimento e de serviços com foco na fila, em especial quando esta é analisada quanto a seu volume e estresse nas agências. Pretendemos enviar em breve um artigo com reflexões analisando detalhadamente esta nossa seletividade no atendimento.
Sindicato: É sabido que os bancários têm elevados benefícios e melhores salários conquistados durante décadas por sindicatos muito fortes, e como contra ponto temos insipientes sindicatos frente aos funcionários do cooperativismo de crédito. Pode parecer algo discreto, mas afirmo que devem ser mais um relevante ponto que nos alerta para os equívocos de compararmos aos bancos de varejo, pois trabalho há uma década em nosso modelo e trabalhei por outras três décadas em um banco privado. Quanto mais forte o sindicato, maiores serão os custos patronais.
Comparações Macros: abaixo três outras comparações para que possamos finalizar o artigo:
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Mesmo que pareçamos muito com os bancos de varejo massificado, temos propósitos sociais diferentes para os quais não se emolduram os pesados ônus acima descritos e que são aplicados a estes bancos. Parece-nos coerente evitar despender esforço nestas comparações e passar a focar todas nossas energias no crescimento vigoroso e duradouro sobre o mercado.
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Na grande maioria das Singulares são disponibilizados produtos e serviços em igual quilate que os existentes nos bancos concorrentes, e assim conseguimos atender de forma muito satisfatória nossos sócios. Portanto é prudente mais discrição, pois o mercado onde atuamos é o mesmo deles, e para nós crescermos, eles têm que necessariamente perder fatias deste bolo.
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Temos um enorme diferencial social e precisamos investir comercialmente e politicamente na sua venda, mas isto deve ser feito com muita astúcia, maestria e energia, pois precisamos e devemos continuar merecedores de um tratamento diferenciado dos órgãos reguladores.
Comparações Finais: Competimos em um agressivo modelo capitalista e nele precisamos alocar diariamente todas nossas forças visando crescer com substância e saber defender socialmente e politicamente nosso Cooperativismo de Crédito.
Diante dos argumentos deste artigo, nos parece desproporcional e desnecessária a energia gasta com comparações macros com os bancos de varejo. Nosso modelo de negócio evolui de forma brilhante, mas ainda por um bom tempo seremos medianos frente a eles. É hora de discrição e de ganhar fortes músculos, pois quanto mais crescermos, mais forte o vento irá soprar contra nós.
Concordar é secundário. Refletir é urgente.
Ricardo Coelho Consult – Consultoria e Capacitação Estratégica e Comercial para o Cooperativismo de Crédito – www.ricardocoelhoconsult.com.br
O cooperativismo de crédito é sem dúvida uma ótima alternativa aos produtos bancários, mas tendo um público mais específico a dimensão dele sempre será inferior ao de um banco.
Trabalho em uma cooperativa de crédito e há muito venho me questionando:
* SE PASSARMOS A TER UMA PARTICIPAÇÃO MAIOR NO MERCADO FINANCEIRO NACIONAL, NÃO CORRERÍAMOS O RISCO DER SERMOS LIGISLADOS MAIS SEVERAMENTE COMO OS BANCOS SÃO HOJE?
* NÃO SERÍA NECESSÁRIO GARANTIR A COMPETITIVIDADE? OU APENAS TAXAS MENORES DEVIDOS AS VANTAGENS LEGAIS ATUAIS, NÃO GARANTEM POR SÍ SÓ COMPETITIVIDADE?
O sistema cooperativo atual conta com muitos benefícios que nos proporcionarão inúmeras vantagens por um longo período ainda, creio eu. Abraços…
Seria importante ter bom senso na recompensa aos colaboradores das cooperativas de crédito. Até pelo crescimento rápido devemos ter o cuidado em aumentar as exigências para trabalhar em alto nível e também a recompensas. Remuneração justa é importante. Para quem tem de usar o cérebro para criar algo novo, não pode ficar preocupado com a remuneração.