IBGC vem reunindo a alta cúpula das empresas listadas na bolsa para discutir erros de postura que podem minar os objetivos dos conselhos de administração
Desde o ano passado, o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) tem promovido fóruns exclusivos com presidentes de Conselhos de Administração e CEOs das empresas listadas na BM&FBovespa. Os acalorados debates são conduzidos por ninguém menos que Pedro Parente, presidente da catarinense Bunge com o apoio de Sandra Guerra, presidente do Conselho de Administração do Instituto. Eles costumam se reunir pelo menos duas vezes por ano e o limite na mesa não ultrapassa as duas dúzias. A partir de 11 de setembro, Nelson Sirotsky, presidente do conselho de administração do Grupo RBS, cumprirá o mesmo papel de Parente na 1ª Edição do Fórum para presidentes de conselhos de administração (PCA) de empresas não listadas em bolsa de valores.
A nata do empresariado brasileiro tem apontado marcantes problemas nos conselhos de administração no Brasil. Foi assim nos dois primeiros encontros que o IBGC já promoveu – um em setembro do ano passado e outro em fevereiro deste ano. Um dos pecados mais sérios admitidos pelos presidentes é que, Brasil afora, os conselhos de administração contam com profissionais despreparados. Além disso, os próprios conselhos não fazem avaliação do desempenho de seus conselheiros. A diversidade é outra bandeira que é preciso ser desfraldada. As companhias procuram escolher, na maioria das vezes, executivos mais velhos ao redor de 60 anos. Ainda que pese a experiência, falta dar aos conselhos um ar mais jovial. “Os conselhos, infelizmente, são vistos como complemento de renda para alguns fundos ligados ao governo. Nesses casos, eles costumam nomear profissionais aposentados por empresas estatais”, conta Heloisa Bedicks, do IBGC. Na visão da executiva, as recentes manifestações no Brasil mostraram que é vital ter jovens também nos conselhos de administração das empresas, pois eles são o elo com as redes sociais – instrumentos cada vez mais utilizados para a comunicação entre consumidores e empresas.
Outra barreira que ainda não foi demolida é a baixa participação de mulheres nos conselhos. Atualmente, apenas 4% das vagas existentes são preenchidas por executivas. Esse índice é um pouco maior (7,6%) quando entram na conta as mulheres que fazem parte de um conselho por laços familiares com os sócios majoritários ou fundadores do negócio, por exemplo. No que depender da força da lei, essa realidade será totalmente diferente a partir de 2022. Até lá, segundo um projeto que tramita na Comissão de Assuntos Sociais do Senado, os conselhos de administração de companhias onde a União é majoritária serão obrigados a ter 40% das vagas preenchidas por mulheres. Como forma de multiplicar a presença feminina, a presidente Dilma Rousseff – uma das maiores defensoras da ideia – está disposta a estender a orientação para empresas que são fornecedoras do governo federal.
Ainda que conte a favor delas o menor apetite ao risco e a maior assiduidade nas reuniões, o IBGC se coloca contra o caráter impositivo da medida. “Essa política de cotas é desnecessária, pois a profissional deve alcançar o status de conselheira por mérito”, entende Heloisa. Exigir mulheres nos conselhos sem um adequado período de transição pode causar até mesmo uma importação de profissionais do exterior para dar conta da norma legal. Foi o que ocorreu na Noruega, por exemplo, que passou a adotar essa norma a partir de 2003. Lá, 40% das diretorias das empresas de capital aberto são compulsoriamente exercidas por mulheres. A Noruega tem um dos níveis mais elevados de participação feminina em diretorias: entre as empresas estatais e as de capital aberto, o índice chega a 36%.
Lobby pesado
O IBGC, juntamente com outras entidades no Brasil, como a Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca), tem lutado para que companhias fechadas também publiquem balanços anuais. Quando a lei das S/As foi revista no Brasil, o artigo que previa essa exigência foi vetado. “Houve um lobby pesado por parte das empresas fechadas. A maior alegação é que a divulgação dos números faria com que elas perdessem competitividade”, recorda Heloisa, em razão dos custos de publicação. Para superar este obstáculo, o IBGC defende que os balanços sejam publicados nos sites das empresas, dispensando-as de publicar em jornais de grande circulação ou mesmo Diários Oficiais. Heloisa também defende que o Brasil passe a adotar um órgão regulador de empresas fechadas, seguindo o exemplo da Colômbia.
A encruzilhada da sucessão
Na região Sul, o maior desafio das empresas tem sido a sucessão. “Mesmo grandes empresas com controle familiar bem definido tem sofrido com isso“, avalia Robert Juenemann, coordenador do Capítulo Sul do IBGC. Nos encontros que o instituto tem promovido do Paraná para baixo, essa é maior dúvida que sobressalta os fundadores. Outra característica que precisa ser superada é o costume de misturar aquilo que é da empresa com o que é da família. Utilizar um veículo da frota para cumprir compromissos particulares, por exemplo, é algo que deveria ser banido da rotina das empresas familiares. O caminho da profissionalização é a solução para esses práticas. “Não é que tenha que mandar todos os membros da família para casa, mas sim procurar utilizar os bens da companhia em prol da busca de resultados que a façam prosperar”, sugere Juenemann.
Por Marcos Graciani
Fonte: Revista Amanhã
Quanto a divulgação do balanço por empresas de capital fechado, gostaria de saber a opinião dos colegas. Sou adepto da transparência de forma geral, e mais ainda, acredito que a consolidação do capitalismo como um sistema definitivo, forçosamente deve passar por um processo em que a vida financeira das empresas (e dos donos e CEOs) apareça mais.
Acredito em uma sociedade futura em que empresas com alto grau de obscurantismo em suas operações (não estou falando de processos industriais), sejam preteridas em favor de outras onde se percebe um maior comprometimento com responsabilidade social.
Abraços.