“Posicionar as cooperativas como arquitetas de sustentabilidade”. “O futuro pertence às empresas que investem em valor partilhado”.
Os tradicionais modelos de empresa atravessam uma crise de sustentabilidade, em termos econômicos, sociais e ambientais. A crise financeira tem sido um exemplo épico dos perigos de valorizar ganhos de muito curto prazo em detrimento de viabilidade a longo prazo. O modelo dominante de capitalismo das últimas três décadas foi ainda acompanhado de crescentes níveis de desigualdade, transformados em menores níveis de “capital social” e bem estar. Entretanto, a procura de “valor para os acionistas” das sociedades implica muitas vezes sacrificar a proteção ambiental, como o demonstra o caso da maré negra da BP no Golfo do México.
Estas crises derivam, todas, de um modelo de empresa que coloca o retorno financeiro à frente das necessidades humanas, um modelo que procura privatizar os lucros e socializar as perdas. Como o demonstra o guru da Harvard Business School, Michael Porter, o futuro pertence às empresas que investem em ‘valor partilhado’, isto é, que têm em conta corretamente o seu impacto nos clientes, ambiente, empregados e no futuro.
As cooperativas sempre atuaram de forma a permitir às pessoas que acedessem aos bens e serviços sem serem exploradas. Ao centrarem-se nos valores humanos, as cooperativas respondem às crises de desenvolvimento sustentável de hoje e oferecem uma forma distinta de “valor partilhado”. As cooperativas procuram ‘otimizar’ os resultados para todos os intervenientes, sem procurar ‘maximizar’ os benefícios de um só deles. Construir um desenvolvimento econômico, social e ambiental sustentável deveria constituir uma das motivações e justificações principais para o crescimento do setor cooperativo.
Em termos simples, as cooperativas são mais eficazes, se tomarmos em conta uma amostra maior de custos e benefícios (presentes e futuros), que os tradicionais modelos de empresa.
.
O Objetivo:
Embora existam exceções locais, sustentabilidade não é um termo que esteja universalmente associado às cooperativas. Isso tem de mudar até 2020 – posicionar as cooperativas como arquitetas da sustentabilidade. O setor cooperativo precisa demonstrar convincentemente que a sustentabilidade está na natureza intrínseca das cooperativas, e que a empresa cooperativa contribui positivamente para a sustentabilidade de três maneiras:
- ECONÔMICA: Está largamente provado que a diversidade de formas de propriedade contribui para um setor financeiro mais estável no seu conjunto. A empresa detida por investidores esteve no cerne da crise financeira, com dirigentes agindo no seu próprio interesse e no de um pequeno grupo de acionistas. Fora dos setor dos próprios serviços financeiros, constata-se uma crescente inquietude de que a promoção do ‘valor para o acionista’ não comprometa o potencial produtivo a longo prazo das sociedades. As cooperativas têm neste ponto numerosas mensagens a partilhar. Primeiro, as instituições financeiras cooperativas agem no interesse dos seus membros e não no dos acionistas. Segundo, atuam com horizonte de longo prazo e não apenas no hoje. Além disto, os indicadores financeiros não são o principal indicador de uma boa gestão.
-
SOCIAL: Entre as externalidades negativas geradas pelo capitalismo contemporâneo, que o Estado é muitas vezes chamado a tratar, encontramos
os problemas sociais associados ao individualismo e à desigualdade. Alguns deles envolvem desnecessariamente sofrimento humano, tal como o medem crescentemente economistas da felicidade e os inquéritos sobre o bem estar. Outros geram custos financeiros para os governos, quando se manifestam sob forma de problemas de saúde e criminalidade. O estudo do ‘capital social’ sugere que as sociedades com elevado nível de associações de membros têm uma melhor situação econômica, e gozam de mais altos níveis de confiança e participação democrática. As cooperativas contribuem para a reserva de “capital social” de uma nação, em proporções que as empresas privadas não conseguem igualar.
- AMBIENTAL: Enquanto organizações participativas, preocupações sobre futuros resultados econômicos simplesmente podem ser veiculadas democraticamente pelos membros, sem ser necessário fazer contas em termos de retorno do investimento. Segundo, quando as cooperativas possuem interessados múltiplos, diminui a capacidade das empresas em produzir efeitos negativos sobre o ambiente (como dejetos e poluição), se comparadas com um investidor particular.
No centro desta estratégia tem de estar um esforço concentrado de recolher e publicar dados corretos sobre as cooperativas, considerando-se principalmente o fato das cooperativas já atuarem de forma ambientalmente correta, embora sem a preocupação de demonstrar isto de forma clara.
Fonte: Plano de Ação para uma Década Cooperativa