Fusão de dois bancos de cooperativas pode criar instituição maior que o Credit Suisse e o JP Morgan no País – Matéria da Isto É Dinheiro

Apenas dez quilômetros separam a lavoura de Vitório Scolar de seu banco, na pequena Getúlio Vargas, na região norte do Rio Grande do Sul. É na unidade de atendimento do Banco Cooperativo Sicredi que o agricultor de 61 anos consegue financiamento para a produção dos 40 hectares plantados com soja e milho. No ano passado, ele entrou em um consórcio para adquirir um imóvel no município de 16 mil habitantes onde mora. A mais de 900 quilômetros dali, no município paulista de Jaú, vive o comerciante José Roberto Pena, que investe em fundos e paga as contas de sua loja pelo Bancoob. Em um futuro próximo, Scolar e Pena poderão ter algo em comum: o mesmo banco.

É que o Bancoob, que integra o Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil, e o Sicredi têm conversado sobre a fusão de suas operações, que criaria a 12ª maior instituição financeira do País, com R$ 43,5 bilhões em ativos em setembro. Com isso, ele ficaria à frente das filiais brasileiras de gigantes como Credit Suisse e JP Morgan. “O que falta é sentarmos para analisar as sinergias, mas sabemos que o primeiro passo é a ‘mesa de cavalheiros’ e isso já foi feito”, afirma Marco Aurélio Almada, presidente do Bancoob. “A fusão está no radar, volta e meia nossos acionistas conversam com os sócios do Sicredi.”


Individualmente, as duas instituições apresentaram o maior crescimento em ativos do sistema financeiro nacional nos últimos cinco anos
. O Bancoob teve um salto de 255%, enquanto o Sicredi avançou 209%. Mal comparando, o gigante Bradesco cresceu 113%. As duas instituições querem repetir a dose em 2014. “Esperamos um crescimento de 20% a 25% nos ativos totais”, afirma Almada, do Bancoob. No ano passado, segundo prévia dos resultados, o banco de Brasília lucrou R$ 46,8 milhões e os ativos atingiram R$ 18,1 bilhões, 22% a mais que em 2012. A carteira de crédito cresceu 32%, para R$ 6,68 bilhões, e os depósitos avançaram 18,7%, para R$ 15,4 bilhões.

No gaúcho Sicredi, os resultados preliminares indicam que os ativos totais somaram R$ 38,41 bilhões, avanço de 22,7% ante 2012. O patrimônio líquido chegou a R$ 5,3 bilhões, mais do que o dobro do registrado em 2009, e as operações de crédito alcançaram R$ 21,9 bilhões, 160% a mais do que cinco anos antes. “Representamos 49% dos ativos do cooperativismo brasileiro”, diz Ademar Schardong, presidente do Sicredi, referindo-se à rede integrada. Rede que, por sinal, não para de crescer. Em janeiro, a cooperativa Unicred do Rio de Janeiro, que reúne 12,3 mil médicos e enfermeiros, se uniu ao Sicredi.

“Não estava prevista a expansão para o Rio no curto prazo, mas havia sinergia”, diz Schardong. O próximo passo será desenvolver um plano estratégico para os próximos cinco anos. “Vamos fazer a migração de todo o sistema de atendimento e a expectativa é de que, em três meses, os cooperados do Rio possam ter acesso aos nossos produtos.” Com esse casamento, o Sicredi passa a atuar em 11 Estados. Em 2014, o foco das duas instituições será investir em cartão de crédito e financiamento imobiliário. O Bancoob saiu na frente. Em janeiro, anunciou a parceria com a empresa de tecnologia First Data, para atuar no mercado brasileiro de adquirência.

“Vamos gerir todos os fluxos – seja de cooperados ou não – e o investimento em tecnologia será feito pela First Data”, explica Almada. “Esperamos que, após os primeiros cinco anos, de 10% a 15% da nossa receita venha dessa operação”, diz ele, acrescentando que a nova marca da adquirente deve ser lançada ainda no primeiro semestre. A meta é capturar 5% das transações em cinco anos. Para Luis Miguel Santacreu, analista da Austin Rating, o crescimento acelerado do Bancoob e do banco Sicredi se deve à proximidade aos cooperados, principalmente aos que participam de cooperativas de agronegócio.

“Em geral, instituições privadas dão mais atenção aos grandes produtores e, além disso, o trabalho do Banco Central na regulamentação e fiscalização desses bancos foi decisivo.” Não é para menos. Na década de 1990, o Banco Nacional de Crédito Cooperativo (BNCC) foi liquidado por má gestão. Para completar, foi criado, em novembro do ano passado, o Fundo Garantidor do Cooperativismo de Crédito (FGCoop), que protege os clientes em caso de intervenção ou liquidação extrajudicial, nos mesmos moldes do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), dos bancos comerciais.

A contribuição mensal das instituições associadas ao FGCoop será de 0,0125% dos saldos das obrigações garantidas. Para Almada, a explicação para o crescimento do Bancoob vai além. Segundo ele, nos bancos de cooperativa, a remuneração dos executivos é conservadora e o que se busca é o desenvolvimento local e não lucro por lucro. “Com isso, não investimos em títulos podres nem nos globalizamos, daí que crescemos quando os bancos encolhem devido a crises financeiras”, diz. “As nossas portas continuam abertas e, como há muitos lugares no País onde a economia continua pujante, tem muita gente querendo entrar.”

Por Natália FLACH – Isto É Dinheiro

44 Comentários

  1. Muito adequada essa discussão. Tem muito espaço a ser conquistado pelo cooperativismo. Podemos ser melhor e maior.

  2. MEUS PARABÉNS AOS AMIGOS ALMADA, SHARDONG E TODOS OS OUTROS QUE ESTÃO ENVOLVIDOS NESTE PROCESSO.PARA O SISTEMA COOPERATIVO NÃO SERIA UM AVANÇO, MAIS SIM UM SUPER, SUPER AVANÇO, POIS TRARÁ GRANDES BENEFÍCIOS A TODOS COOPERADOS E TAMBEM A NÃO COOPERADOS USUARIOS DA REDE BANCÁRIA.É UMA EXCELENTE INICIATIVA EM BEBEFÍCIO DE TODOS. O QUE ME DA ORGULHO, É QUE NOVAMENTE O COOPERATIVISMO DA EXEMPLO DE ORGANIZAÇÃO E SIMETRIA ENTRE AS INSTITUIÇÕES.

  3. Muito boa noticia, é o sonho do Cooperativismo. Não temos motivos para ficar dividindo as mesmas cidades com instituições financeiras cooperativas, precisamos sim arregaçar as mangas e fazer do sistema de crédito cooperativo a maior instituição Financeira do Brasil. Tenho 25 anos de sistema, e acredito que meus filhos e netos participarão deste momento (ser maior e melhro instituição Fiinanceira do Brasil). Confio nas pessoass que estão a frente de cada ssistema para que juntos possamos ser mais fortes. Parabéns.

  4. O verdadeiro sentido do cooperativismo é a união de esforços individuais em busca de melhores resultados para o grupo. Essa é a tônica que fez crescermos tanto até aqui. Esse sinalizador de união nacional que tantos de nós queremos aponta um caminho para que o cooperativismo de crédito faça a grande diferença na economia deste país!

  5. Uma fusão traria também uma maior expressividade no mercado financeiro nacional, uma abordagem sistêmica para o segmento, ampliação de mercado e a consolidação de um único sistema mais forte e gerador de progresso com foco no desenvolvimento econômico do pais.

  6. O cooperativismo financeiro está crescendo muito no Brasil. Com esta parceria, dará um salto que o tornará conhecido da sociedade em geral. Sabendo das vantagens desse sistema em relação aos bancos, a população vai migrar para ele, e a expansão será enorme!

  7. FUSÃO , REESTRUTURAÇÃO de NÍVEIS, para aumento na competitividade em respostas direta aos COOPERADOS. A UNIDADE de ATENDIMENTO é a CÉLULA de relacionamento direta com as receitas( SOBRAS), portanto deverão tornar-se cada vez mais eficazes

  8. A evolução e o futuro do cooperativismo de crédito dependem desta união estratégica, que trará beneficios infinitos as estruturas, associados e sociedade, afinal, quanto mais sólido o Banco Cooperativo, mas forte serão as “cooperativas de crédito” no mercado financeiro nacional e internacional.

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