Em plena crise econômica, com aperto nos financiamentos, taxas de juros elevadas e crescimento da inadimplência, as cooperativas de crédito têm aumentado os empréstimos a clientes, diferentemente dos bancos comerciais.
No terceiro trimestre deste ano, o saldo das operações de crédito das cooperativas avançou 8,5% na comparação com o mesmo período de 2015, segundo dados do Banco Central. Enquanto isso, os bancos viram o volume de empréstimos recuar 3,4% nesse mesmo intervalo.
Algumas das explicações para a alta do crédito cooperativo é que essas instituições não visam o lucro e cobram taxas de juros menores do que a média do mercado.
“O que as diferencia dos bancos é o modelo societário”, afirma Thiago Borba, coordenador de crédito da OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras). “Enquanto entre o cliente e o banco há uma relação de consumo,
nas cooperativas o elo é mais forte, porque o cliente é, ao mesmo tempo, dono do negócio.”
De acordo com Borba, as cooperativas cobram taxas de juros até 80% mais baixas na comparação com os bancos.
O lucro da cooperativa, chamado de “sobra”, é repartido entre os cooperados. Eventuais prejuízos também têm que ser rateados.
De acordo com a OCB, há 1.045 cooperativas de crédito no país, reunindo 8,9 milhões de associados, sendo 90% pessoas físicas. São 5.667 pontos de atendimento, com forte atuação no crédito rural. Em 564 municípios, as cooperativas são as únicas instituições financeiras.
Entretanto, as operações de crédito das cooperativas singulares, ou seja, que prestam serviços diretamente aos associados, representam apenas 2,4% do SFN (Sistema Financeiro Nacional). Incluindo os bancos cooperativos, esse percentual sobe para 3,3%. Em países desenvolvidos, a participação de mercado do sistema cooperativo chega a superar os 30%.
DESACELERAÇÃO
Embora permaneçam na contramão do mercado, as cooperativas não ficaram imunes à crise econômica. Até 2014, o crédito no setor vinha crescendo a um ritmo de 20% ao ano. Em 2015, desacelerou para cerca de 12%.
“Para 2016, projetamos um crescimento de 8% no crédito”, afirma Edson Schneider, superintendente de Estratégia de Crédito do Banco Cooperativo Sicredi.
Outro reflexo da crise é o aumento da inadimplência. No Sistema Unicred, por exemplo, os atrasos acima de 90 dias chegaram a 2,4% em outubro, ante 0,9% no final de 2015, segundo o diretor-executivo Luciano Fantin. Ainda assim, bem abaixo da média do SFN, de 3,9%.
EMPRESAS
Apesar de as empresas serem minoria entre os cooperados, no Sicoob, maior sistema de cooperativas de crédito do país, houve um avanço de 19% no crédito a pessoas jurídicas, basicamente pequenas e médias empresas.
“Como as cooperativas estão mais próximas à comunidade, é possível obter informações mais assertivas dos tomadores para a concessão de crédito”, afirma Hugo Rodrigues Ferreira, gerente de Planejamento do Sicoob.
“A cooperativa conhece melhor o processo de produção da empresa e até mesmo seus fornecedores, que muitas vezes também são associados”, afirma Ferreira.
Magda Calegari, consultora da Unidade de Acesso a Crédito e Serviços Financeiros do Sebrae-SP, afirma que muitas empresas ainda desconhecem a possibilidade de se associar a uma cooperativa e, com isso, ter acesso a taxas de juros mais baixas.
“O crédito cooperativo ainda é pequeno no Brasil, mas tem um enorme potencial de crescimento, sobretudo com o modelo de livre admissão, que é mais recente.”
As cooperativas de livre admissão são aquelas em que não é necessário fazer parte de uma determinada categoria, como de trabalhadores e empresários, para se tornar associado.
Fonte: m.folha.uol.com.br
Boa matéria sobre o aumento (relativo) da oferta de crédito cooperativo na atual crise econômica. Importante acrescentar que ao reduzir a sua oferta de crédito, a banca comercial (pública e privada) atua de forma pró-ciclica, contribuindo para aprofundar a crise que querem evitar…