“A cooperativa de crédito não é um negócio financeiro ordinário… É a expressão no campo da economia de um ideal social elevado.” (Alphonse Desjardins, líder-precursor do cooperativismo financeiro na América)
No empreendedorismo cooperativo o fim social se confunde com os desígnios econômicos. Tal reunião de propósitos – uma espécie de “dois em um” – foi bem traduzida pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em seu pronunciamento na cerimônia de abertura do evento Rio Cooperativo 2.000: “a cooperativa, como uma empresa, caracteriza-se por aliar diretamente, na mesma organização cooperativa, dois aspectos fundamentais do desenvolvimento sustentável: a racionalidade econômica e o sentido da solidariedade social. Um híbrido de empresa e organização do terceiro setor, uma empresa com coração.”
Em vista disso, as cooperativas são empresas reconhecidamente comprometidas com o seu público (cooperados) e respectivas comunidades. Representam, assim, arranjos peculiares, constituindo o modelo precursor e o cerne do que se convencionou chamar atualmente de economia colaborativa, compartilhada ou ainda de rede, prestigiada e difundida ao redor mundo.
As novas formas de empreender apresentam, com efeito, um conjunto de características convergentes com a doutrina e a prática cooperativistas, destacando-se:
1) a comunhão de interesses de uma coletividade de pequenos empreendedores;
2) o intercâmbio de soluções por meio da ajuda mútua (ex.: quem tem empresta, mediante expectativa de justa remuneração, para quem não tem);
3) o desenvolvimento pela soma de esforços e não pela competição (construção conjunta: “a união faz a força”);
4) a ausência de hierarquia entre os empreendedores (propriedade comum, com gestão democrática);
5) a flexibilidade e a busca de soluções personalizadas e tempestivas de acordo com a demanda dos usuários;
6) a autonomia e empoderamento dos destinatários das soluções (usuários/cooperados no centro das decisões);
7) a transparência na condução dos empreendimentos;
8) o compartilhamento de estruturas e de outros recursos, otimizando investimentos, reduzindo impactos ambientais e gerando economia para os usuários;
9) o partilhamento dos resultados.
A reputação e a confiança são outros dois aspectos-chaves comuns a ambas as iniciativas. Daí, também, a legitimidade e a conveniência do emprego das locuções: economia da cooperação ou economia da mutualidade.
O consumidor também vem tornando-se mais seletivo, acentuando a busca de motivações para as suas escolhas. Cada vez mais, as pessoas têm procurado identificar organizações que tenham uma causa ou que defendam uma bandeira do bem. O protagonismo na formatação das soluções e na sua precificação é outro anseio que cresce, progressivamente, entre os usuários. Ora, o cooperativismo, como uma causa do bem e que reúne em um mesmo ator os papéis de empreendedor e consumidor (proprietário e usuário) – eliminando o intermediário -, acolhe, legitimamente, as expectativas da nova sociedade.
Em síntese, nas palavras de Robert J. Shiller (Nobel de Economia em 2013), “o movimento cooperativo constitui uma inovação essencial para uma boa e nova sociedade. É, portanto, uma iniciativa sempre atual para esse propósito, uma vez que, embora reconheça a livre iniciativa, não tem o lucro como objetivo.” Arrematando, sentencia: “cooperativismo é sinônimo de boa sociedade.” (Segunda Cúpula Mundial do Cooperativismo. Quebec, Canadá, 7 de outubro de 2014).
*Ênio Meinen, advogado, pós-graduado em direito (FGV/RJ) e em gestão estratégica de pessoas (UFRGS), e autor/coautor de vários artigos e livros sobre cooperativismo financeiro – área na qual atua há 33 anos -, entre eles a obra “Cooperativismo financeiro – virtudes e oportunidades: ensaios sobre a perenidade do empreendimento cooperativo” (referência para este artigo). Atualmente, é diretor de operações do Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob).
Fonte: Revista Rumos
É isso aí, Hilário! Grato. Vamos em frente com a (ampla) difusão dos méritos da nossa causa!
Caro Dr. Enio Meinen.
Parabéns pelo livro, o Cooperativismo é a solução de muitos problemas brasileiros e mundiais, não tão somente no setor financeiro, mas acredito que é possível em cooperação através de práticas cooperativistas, resolver muitos problemas da humanidade, em seus diversos setores como: educação, saude, trabalho, lazer etc….
Cooperativismo um belo desafio de nós todos Seres Humanos, em difundir a sua essencia em sua simplicidade e praticidade em praticar, é preciso que as pessoas conheçam mais, tenham a oportunidade em divulgar atráves dos meios de comunicação, tão deturpada por interesses de uma minoria. mas é preciso nao desistir. Perseverança e otimismo com atitude e exemplos.
parabéns Enio pela dedicação em prol de um mundo melhor. Hilario Dalcim.