As instituições financeiras cooperativas devem continuar crescendo no segundo semestre deste ano, apesar da retração econômica no País. A expectativa é do diretor de Operações do Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob), Ênio Meinen, que estima uma elevação da ordem de 10% nos negócios, nos próximos seis meses. Ênio Meinen, autor de vários livros sobre cooperativismo de crédito, esteve no Estado do Espírito Santo para falar sobre o segmento para empresários.
– Que resultados o senhor tem observado nas palestras que vem realizando para associados? Quantas conferências já fez e quantas pessoas foram alcançadas?
Tenho atendido a muitos convites, dos diferentes sistemas cooperativos, para falar a cooperados e para as pessoas em geral, notadamente empresários e lideranças comunitárias. Ultimamente, a academia também tem evidenciado um grande interesse pelo tema do cooperativismo, por isso fizemos conferências em eventos de universidades abertos ao público e ministramos aulas em cursos de pós-graduação (a exemplo da USP). Creio que, nos últimos 18 meses, tenham sido alcançadas cerca de 10.500 pessoas, em 70 encontros.
O resultado dessa divulgação é uma melhor compreensão e aceitação do cooperativismo financeiro (a exemplo do Sicoob), para cuja solução, definitivamente, a sociedade está despertando.
– Analisando a conjuntura política e econômica do País, quais são as perspectivas para o cooperativismo financeiro no segundo semestre e em 2018?
Apesar da baixa dinâmica econômica, as instituições financeiras cooperativas devem continuar avançando no mercado bancário. Aliás, é na crise que o cooperativismo financeiro mais se desenvolve, como tem demonstrado o Sicoob no estado do Espírito Santo. Estimo, portanto, um crescimento da ordem de 10%, pelo menos, nos próximos seis meses. As razões desse avanço estão relacionadas, em especial, à melhor precificação dos produtos e serviços oferecidos pelas cooperativas, que já dispõem de um portfólio operacional equivalente ao dos grandes bancos brasileiros; à retração do sistema bancário tradicional na concessão de crédito e ao atendimento diferenciado, digno do que se confere a quem é dono do empreendimento cooperativo. A esses fatores podemos adicionar a circunstância de um maior domínio da sociedade sobre a natureza cooperativista e os seus múltiplos benefícios, notadamente de ordem econômica.
– Como as cooperativas de crédito se situam no atual ambiente financeiro, que já adquiriu fortes características digitais?
As cooperativas financeiras constituem, hoje, uma alternativa real no âmbito da indústria bancária, fortemente concentrada e hostilizada pela sociedade. Além de oferecerem um conjunto completo de produtos e serviços financeiros – que vão de aplicações financeiras diversas a todas as linhas de crédito; de cartões à adquirência bancária (vendas por meio de cartão de crédito e débito); de consórcios a seguros -, asseguram aos seus cooperados todas as facilidades digitais que os clientes acessam nos grandes bancos do País. Isso considerando que o orçamento para TI e processos das cooperativas, embora significativo, representa uma pequena parcela das dotações de que dispõem os gigantes do setor bancário. Nas cooperativas, que operam com uma margem de contribuição muito baixa, trabalha-se com a máxima de fazer bem mais com muito menos, valorizando o dinheiro do associado.
Ressalto que, embora as cooperativas, por seu nível de inovação digital, já sejam instituições “high tech”, elas não deixaram e não deixarão de ser “high touch”, pois muitos cooperados ainda valorizam o contato pessoal. Por isso, enquanto os bancos fecham agências, as cooperativas mantêm e até mesmo ampliam os seus pontos físicos.