“O que caracteriza a boa liderança
é a capacidade de fazer seu sucessor ainda em vida
e no auge de sua vitalidade.”
Emerson de Almeida
Em seu livro “A sucessão como ela é”, o autor Emerson de Almeida, cofundador da Fundação Dom Cabral, registra suas experiências, análises e também trocas com outros profissionais, para dar fundamentação ao que entende ser adequado quanto ao tema sucessão. Na visão de Emerson, a sucessão deve ser planejada no auge da carreira do profissional. Defende também a sucessão planejada, evitando trocas abruptas.
Para o autor, a sucessão, “é como os ciclos das árvores, no qual as folhas e frutos desgastados caem e só assim a planta tem energia para o nascimento e crescimento de novas folhas e frutos, e estes podem ser mais viçosos do que os da estação anterior”. Ao referir-se à situações envolvendo o fundador da empresa destaca que “o fundador cria a empresa e, em certas circunstâncias, pode levá-la à destruição … A permanência estendida à frente das operações, quando o élan físico e intelectual dá mostras de fadiga, gera deterioração – às vezes irreversível – ao ritmo da organização”.
“É desejo da maioria dos dirigentes, especialmente dos fundadores, que sua criatura seja eterna, mas Peter Drucker, na sua última entrevista, chamou a atenção para essa dificuldade, expressando sua crença de que a maioria das organizações é feita para durar em torno de 30 anos.”
“Quando a sucessão se dá de maneira abrupta, em função de uma ruptura inesperada ou premeditada, a empresa tende a instabilidade, e os mandatos de presidentes são intermitentes e curtos. Por outro lado, nas sucessões que acontecem em ambientes que inspiram confiança e harmonia e decorrem de um processo contínuo de desenvolvimento de líderes a sequência é de estabilidade e os mandatos são alongados.”
De forma a enriquecer a discussão, o autor traz como exemplos a sucessão não programada da TAM e da Usiminas, que apesar de sua origem e setores tão diferentes, passam por situações semelhantes. “De 2001, quando da morte por acidente de helicóptero do Comandante Rolim Adolfo Amaro, até 2015, a TAM teve 7 presidentes – em média, um a cada dois anos; de 2008, ano em que Rinaldo Campos Soares foi substituído, até agora, foram 5 presidentes na Usiminas – em média, um a cada 18 meses”. “Se em condições normais a troca de um presidente já provoca mudanças significativas na estrutura e estratégia de uma empresa, imagine o que uma prolongada descontinuidade pode provocar em termos de mudanças em cascata, tanto de diretores e chefias quanto de orientações estratégicas e processos de trabalho”. É por conta disto que Emerson enfatiza a “conveniência de um processo programado de sucessão e a importância do desenvolvimento contínuo de gestores como parte da sucessão em geral, pois essa é uma condição básica para o futuro de qualquer organização, e é também uma questão de segurança para o caso de um infortúnio”.
Emerson traz como um de seus aprendizados a hora de “deixar a cadeira de principal executivo, que, em minha opinião, deve ser no auge da vitalidade. Embora controverso, o estabelecimento de uma referência de idade facilita o balizamento.” “O líder consciente encaminha sua substituição no auge da carreira, assumindo papel mais estratégico sem interferência direta na operação ou, quando as circunstâncias permitem, deixando a organização”.
Emerson registra também o sentimento que atinge as pessoas que deixam a empresa: “quando associada à aposentadoria, essa perda lembra a morte, mas não a da finitude de vida, e sim a morte pelo esquecimento, por isso a importância de criar outros interesses além da empresa”, como a casa, a família, trabalho voluntário, atividades lúdicas ou mesmo de natureza empresarial, mas diferentes da anterior. “O jogador de futebol morre duas vezes, sendo que a primeira delas é quando o atleta para de jogar”. “Existem maneiras de minimizar os efeitos dessa perda, e uma delas é a fixação de um limite de idade para a substituição (ideia polêmica e, às vezes, contestada), o que daria tempo para que o ocupante do cargo fosse assimilando gradativamente a ideia de substituição”. Apesar deste sentimento, “a renovação é uma das peças-chave para o processo de vitalidade de uma empresa, e no conceito da renovação estava implícita a ideia de sucessão”.
Ao mencionar o papel dos conselhos, quando da sucessão do principal executivo, Emerson ressalta que “o olhar sobre o processo de sucessão nas diferentes empresas destaca a importância crescente dos conselhos de administração e tendência de torná-los mais profissionais.” “Os conselheiros deveriam se manter atentos à inclinação do executivo de manipular o processo, escolhendo um candidato por ser garantia de continuidade de sua administração e não por representar necessariamente a melhor opção.” E continua, “uma das funções mais importantes dos conselheiros quanto à sucessão: garantir a existência de um programa contínuo de desenvolvimento gerencial em âmbito da empresa, assegurando, assim, a permanente emersão de potenciais candidatos à liderança”. E finaliza, “a melhor fonte de candidatos a presidente é a própria empresa”, lembrando que neste caso a referência é a presidente executivo, ou o principal executivo da empresa.”
Oportuno registrar que “enriquece o processo a empresa que se preocupa em definir com antecedência para onde quer ir – sua futura direção estratégica e sua liderança organizacional -, para depois definir o perfil do candidato.” “Escolher o candidato mais indicado para um momento preciso da empresa é obviamente o objetivo principal, mas não é o único, pois, nesse processo, também é importante preservar os candidatos não escolhidos e de alto potencial para o futuro (para uma próxima sucessão, por exemplo), evitando a síndrome do candidato preterido.”
Por fim, Emerson lembra que “é ilusório imaginar que o caminho é como uma estrada recém-inaugurada, pavimentada e sinalizada, sem curvas nem obstáculos e muito menos veículos conduzidos distraidamente na contramão”. “O processo de sucessão não deve seguir um roteiro unicamente racional”.
“Como a plataforma dessa estação, que é a vida, a permanência no cargo de presidente é transitória e passageira, e a sucessão é como o trem que renova a empresa. Entretanto, cabe aqui lembrar que muitos líderes tem dificuldade de enfrentar o fato de que devem “assim chegar e partir””.
A Sucessão como ela é: de sentimentos a jogos políticos nas organizações é uma obra de Emerson de Almeida, publicado pela Editora Benvirá, 2016
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