Após onda de fechamento de agências nos últimos anos, bancos repensam estratégia e projetam espaços menores, que incluem até cafés.
Depois de um movimento que fechou 7% das agências bancárias do País nos últimos dois anos, capitaneado por BB e Bradesco, as instituições financeiras estão lançando mão de uma nova estratégia em um momento em que o atendimento presencial perde espaço para os meios digitais. De olho na visibilidade de suas marcas, os bancos agora optam por reduzir o tamanho dos pontos de atendimento. Para ocupar o espaço ocioso, vale trazer novos serviços – como espaços de coworking – e até instalar um café onde antes ficavam caixas eletrônicos.
A redução das agências – seja em número absoluto ou pela diminuição do espaço ocupado por cada uma delas – é uma forma de os bancos reduzirem custos com aluguel ou liberarem imóveis próprios para venda. Há duas semanas, por exemplo, o BB anunciou o leilão de 26 propriedades onde antes funcionavam agências. O Bradesco, por seu turno, já reduziu à metade duas agências na Avenida Paulista – uma cedeu parte de sua área ao espaço cultural Japan House e outra, a uma loja da rede americana Starbucks.
Após essas duas experiências, o Bradesco está preparando um estudo para identificar outros espaços que possam ser locados a terceiros, segundo Josué Augusto Pancini, vice-presidente do banco. No Itaú, a tendência de redução de espaços também é clara, diz o executivo Tadeu Sassi. Atualmente, nos planos do banco, uma agência padrão precisa de 250 a 300 metros quadrados de área. Há cinco anos, o espaço projetado variava de 1 mil a 1,5 mil metros quadrados. Ele descarta, porém, um processo significativo de encerramentos: “A agência vai continuar no mesmo local, só que menor.”
O Santander diz não querer reduzir seu número de agências – entre os principais bancos do País, o espanhol é o menos pulverizado, com 2,26 mil pontos. O modelo que o banco vem adotando é o de “sala de visitas”, define Paschoal Pipolo Batista, sócio da Deloitte, referindo-se à tendência de criação de espaços de convivência pelos bancos. “Antes, todas as agências eram iguais. Agora, são testados novos formatos, que permitem alguma personalização.”
Em uma agência do Santander da Avenida JK, em São Paulo, há espaço para coworking, com internet grátis, salas de reunião e até um café da rede Havanna totalmente integrado ao ponto de atendimento. Segundo Ede Viani, diretor executivo do Santander Brasil, estão previstos mais 15 espaços parecidos nas principais capitais do País dentro dos próximos dois anos. A rede Havanna anunciou no fim do mês passado que fechou um acordo para abrir outras cafeterias em parceria com o banco espanhol.
Enquanto alguns bancos descartam a criação de agências especializadas, o Santander tem investido fortemente nesse tipo de conceito. No Centro-Oeste, a instituição vem testando um modelo de pequenas lojas, voltadas ao agronegócio, que funcionam em espaços muito mais enxutos do que os de uma agência comum, em imóveis de 50 a 80 metros quadrados. O banco já tem 12 espaços do tipo e está com 8 em fase de implantação.
A Caixa Econômica Federal, que recentemente implantou um plano para ampliar sua rentabilidade, não tem em vista um fechamento relevante de agências, afirma Nelson Antonio de Souza, presidente do banco público. Ele diz que a instituição tem hoje menos de 4 mil agências e que tem obrigações que não se aplicam a outros bancos, como o pagamento de benefícios sociais e de FGTS, que exigem o atendimento presencial. “Só vamos fechar agências que estejam próximas uma da outra, desde que não haja prejuízo para o cliente.”
Cortes de custos. O Banco do Brasil, que fechou cerca de 700 agências nos últimos 18 meses, se viu com um número considerável de imóveis em mãos. Procurado, o banco não deu entrevista, mas informou, por meio de nota, que, dos pontos encerrados, 80% eram alugados e 20% eram próprios.
Enquanto no caso dos espaços locados basta devolver o imóvel ao proprietário, a advogada Larissa Lancha Arruy, do escritório Mattos Filho, explica que a situação das agências próprias é um pouco mais complicada. Segundo ela, o Banco Central proíbe que as instituições financeiras mantenham imóveis em sua carteira que não sejam para uso próprio. Logo, depois que as propriedades deixam de abrigar agências, é necessário criar um cronograma de venda para não descumprir a legislação.
Além de aliviar os gastos dos bancos com imóveis, o movimento de fechamento ou redução de agências tem causado demissões, diz Juvandia Moreira Leite, presidente da Contraf-CUT, sindicato que reúne os trabalhadores do setor financeiro. “O que a gente percebe é que, além de as agências terem sido fechadas, as que permaneceram funcionando têm um grande déficit de funcionários para atender o público.”
Fonte: estadao.com.br