“(…) em cada dez moedas conseguidas de qualquer fonte, não gastem mais do que nove”. (CLASON, 1926:43)
Uma das lições dos antigos mais básica sobre como lidar com o dinheiro – e talvez a mais conhecida da população, embora não seguida pela maioria –, é gastar menos do que se ganha. Muitos ditados populares evidenciam essa regra de ouro, tais como “quem come e guarda, duas vezes põe a mesa” ou “quem tem cem mas deve cem, pouco tem”.
O fato, porém, é que a maioria das pessoas hoje sabe muito bem somente como gastar seu dinheiro, o que as faz trabalhar para simplesmente pagar suas contas.
Se perguntarmos, por exemplo, o que faríamos se encontrássemos uma sacola cheia de barras de ouro, a primeira coisa que vem à nossa cabeça é como gastar esse dinheiro. Reformar a casa, comprar um novo carro ou um celular do ano etc. Possuímos um modelo mental que nos direciona a gastar antes de pensar em poupar e em como o dinheiro pode render e se multiplicar.
A primeira lição dos babilônios, no livro “O homem mais rico da Babilônia”, de Clason (1926), vai nessa direção: é preciso guardar dinheiro de forma habitual e fazê-lo render, gerando riqueza para você!
A sabedoria milenar indica que o hábito de poupar de forma constante e consistente é, muitas vezes, mais importante do que o quanto se ganha ou os bens que se possui. Na Babilônia, isso representava a liberdade para realizar novos negócios e obter distinção entre os semelhantes. Na prática, indica a diferença entre ser escravo do dinheiro ou fazê-lo trabalhar para você! O que você prefere?
Assim, essa primeira lição nos traz algo muito importante, que é o fato de que se você não souber lidar com o dinheiro, vai passar sua vida inteira atrás dele, indicando então a necessidade de encarar o dinheiro como algo positivo e que trabalhe para você, não o contrário! Por vezes, existe uma espécie de tabu ou dificuldade em falar sobre dinheiro, negando-se por exemplo o desejo de ficar rico e de acumular riqueza, como se isso fosse algo pecaminoso. A atual crise tem reforçado o argumento de que o equilíbrio financeiro é indistintamente importante para a harmonia na vida das pessoas, das famílias, das empresas e das nações.
Assim, a primeira lição dos babilônios se baseia justamente em inverter a lógica e passar a pensar em como fazer o dinheiro crescer, seja pela redução de suas despesas, aumento de suas receitas, ou por meio de investimentos – ou as três soluções juntas. Para ajudá-lo a visualizar como isso é simples, dividimos essa primeira lição em três regras para fazer seu dinheiro crescer:
1) Gaste menos do que ganha
Apesar de parecer óbvio, poucas pessoas o fazem, devido ao fato de que é necessário saber duas coisas para realizar essa tarefa: o quanto se ganha e o quanto se gasta. Aqui entra então o papel do orçamento pessoal, ferramenta fundamental para descobrir onde está e para onde vai o seu dinheiro.
Isso é tão importante que a segunda lição dos babilônios, no próximo artigo, vai focar nesse ponto. É interessante registrar, por ora, que os antigos babilônios logo descobriram que controlar seu dinheiro e fazer sobrar todo mês era fundamental para a riqueza e para obtenção de maiores honras e respeito perante a sociedade.
2) Guarde pelo menos 10% do que ganha
Decorrência direta da regra anterior, essa dita que você deve guardar pelo menos 10% do que ganha. É fundamental que você guarde esse dinheiro com a mesma determinação com a qual paga suas contas todo mês.
Guardar um montante todo mês terá um impacto positivo impressionante em sua vida, pois você passará a ter uma reserva para eventuais necessidades e para seus projetos. E o melhor é que você deixará de estar sempre preocupado com dinheiro e passará a respirar mais tranquilamente quando esse for o assunto.
E a grande notícia é que esse dinheiro, se investido de forma regular, se multiplica de forma exponencial. Tão importante é essa multiplicação que a terceira lição dos babilônios tem exatamente esse foco.
Caso tenha dívidas, separe um montante fixo também de seu orçamento para quitá-las mais rapidamente, sem tirar dos 10% que estão sendo investidos. O recomendável nesse caso seria 20%.
Os antigos babilônios sabiam que não deviam gastar mais do que 70% de seus ganhos com sobrevivência e estilo de vida, separando sempre 10% para investir e 20% para pagar dívidas ou, caso não as tenha, poupar para sonhos maiores – uma casa nova ou uma viagem, por exemplo.
Esse é o modelo babilônico do 70-20-10. Simples, mas poderoso.
3) Pague a si mesmo primeiro
Ao receber seu salário ou outros rendimentos, você deve separar primeiro aquilo que é para você investir e quitar dívidas e depois você pode gastar o restante.
A maioria das pessoas opta pelo contrário. Pagam todas as contas, faturas de cartão de crédito, luxos eventuais e investem o que sobra, quando sobra. Esse comportamento apenas reforça a atitude de gastar tudo o que ganha e é o motivo da maioria dos brasileiros estarem endividados ou não possuírem reservas. Assim, estão sempre sofrendo com a falta de dinheiro.
Separe o que é seu primeiro! Apenas assim terá a garantia de estar investindo e construindo seu patrimônio de forma consistente com o passar dos anos.
Essa regra é facilitada quando você segue as duas anteriores, ou seja, quando há planejamento. Você sabe exatamente quanto ganha e gasta, consegue guardar pelo menos 10% do que ganha para investir e faz isso logo que recebe seu dinheiro.
Os antigos babilônios sabiam que essa era a receita da riqueza, e por isso eram um povo tão próspero, mesmo habitando em meio a um deserto árido. Esperamos que, da mesma forma, essa primeira lição possa auxiliar você a transformar sua vida financeira, independente das circunstâncias e adversidades, plantando então as sementes da riqueza na sua vida!
(…) certamente é uma lei dos deuses que, para aquele que poupa e não gasta uma determinada parte de seus ganhos, o dinheiro virá mais facilmente. De modo curioso, ele costuma evitar aquele cuja bolsa se mantém sistematicamente vazia”.
(CLASON, 1926:43).
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Elvira é doutora em Administração pela FGV e possui ampla experiência com educação financeira. Chael é doutor em Administração pela UNB e criador do @curtafinancas no Instagram. O conteúdo do artigo é de inteira responsabilidade dos autores, não representando posicionamento da instituição em que trabalham.