Nessas últimas semanas, pensei muito em como começar este texto. Afinal, hoje, 3 de julho, comemoramos o Dia Internacional do Cooperativismo. Bombardeados pelas graves sequelas que o coronavírus deixa em nossa sociedade, especialmente no Brasil, fica difícil falar a palavra “comemoração”.
Mas, enxergando por um outro prisma, vejo que o cooperativismo – especialmente o financeiro – passou por esse obstáculo e saiu fortalecido, mostrando o seu verdadeiro propósito de existência: promover a prosperidade e a justiça financeira nos quatro cantos do país. Em todo o período da crise, pudemos dizer com muita firmeza que não saímos do lado de nossos cooperados. Esse é o motivo da existência do cooperativismo financeiro: gerar impacto social positivo para os nossos cooperados e suas comunidades.
Em um ano (crucial, diga-se de passagem), nós aumentamos em 30% as nossas concessões de crédito. Estudamos, analisamos, nos debruçamos em números e histórias para oferecer um crédito muito sustentável, seja em financiamentos ou empréstimos, com taxas justas e fiéis ao nosso DNA cooperativista.
Só em 2020, o saldo total das operações de crédito do Sicoob ultrapassou os R$ 88 bilhões, sendo que R$ 23 bilhões foram voltados especialmente para micro e pequenas empresas, um dos segmentos mais fortemente impactados pelos efeitos econômicos decorrentes da pandemia da Covid-19. Especialmente para as MPEs, o crescimento foi de 61% em relação a 2019. Vale ressaltar aqui que as MPEs equivalem a aproximadamente 60% de todo o nosso crédito liberado para PJ.
Sabe aquele vendedor de pipoca que viu seu público ser reduzido a zero de um dia para o outro no início da pandemia? E o dono do mercadinho que perdeu seu fluxo de caixa e não tinha mais alternativa para pagar os salários dos funcionários? Nós nos aproximamos desse público, lhe oferecendo condições verdadeiramente favoráveis para atravessar os piores momentos da pandemia.
Não abaixamos a cabeça com as adversidades deste período. Enquanto observamos muitas instituições financeiras reduzindo suas agências para estancar déficits ou aumentar lucros, seguimos abrindo unidades físicas e chegamos à segunda colocação no ranking de instituições com maior número de agências em todo o Brasil. Em mais de 300 municípios, somos, inclusive, a única presença financeira da região.
Imagine que nestas localidades, ao contrário dos grandes centros urbanos – onde o Pix, por exemplo, já está consolidado – alguns comerciantes ainda trabalham com cheques e dinheiro físico. Para compensar este documento, teriam que viajar quilômetros, desperdiçando várias horas, e, no fim das contas, nem poderiam tomar um “cafezinho” com seu gerente porque este estaria com pouco tempo para atendê-lo. Pois no Sicoob a história é diferente. Por sermos uma instituição nascida das comunidades em que estamos inseridos, o fluxo é totalmente o inverso. Sim, também colocamos à disposição do nosso cooperado toda a modernidade e conveniência trazidos pelo atendimento digital. Mas queremos estar perto, simbolizando também que estamos juntos, lado a lado, unindo o melhor dos dois mundos (físico e digital).
Outro ponto importante desta equação foi um estudo realizado pelo Sicoob que mostrou que os cooperados deixaram de gastar R$ 8,3 bilhões em juros, taxas e tarifas somente ao fazer negócios com a sua instituição financeira cooperativa. Nós não visamos lucro. Além desse valor, foram R$ 3,2 bilhões em sobras, ou seja, um valor que retornou aos cooperados.
Dividindo esses valores pela média de cooperados ativos, chegamos a R$ 3,1 mil economizados por cooperado durante o ano de 2020. Valor que, com toda a certeza, foi bem aplicado no cotidiano deles, seja pagando uma conta, o salário de um funcionário ou até investindo em um sonho ou no próprio negócio.
Mais ainda: com o objetivo de promover a educação financeira, um pilar do cooperativismo financeiro, desenvolvemos projetos que foram realizados de forma totalmente digital, como as Clínicas Financeiras Virtuais. Nelas, qualquer pessoa, de qualquer localidade, pode agendar um papo com um de nossos especialistas em finanças pessoais para elaborar, por exemplo, um planejamento para escapar das dívidas e da inadimplência.
Também não posso deixar de citar aqui o apoio que o cooperativismo está tendo do órgão regulador, o Banco Central, materializado pelas ações propostas na Agenda BC#, sobretudo na dimensão “Inclusão”. Sabemos que a capilaridade do Sicoob é grande propulsora para a inclusão financeira, tendo o cooperativismo um papel essencial pela proximidade que possui com seus cooperados, o que proporciona efetividade no cumprimento do propósito cooperativista ao auxiliá-los na administração dos seus recursos.
Esses motivos nos fazem ter a tranquilidade de pensar que, embora a situação seja crítica em todo o mundo e tenhamos incertezas sobre nosso futuro, o cooperativismo é uma parcela de positividade que nos faz acreditar em dias melhores. E, apesar de ainda não podermos comemorar juntos, união e cooperação – sejam elas físicas, digitais ou híbridas – nunca vão faltar por aqui.
Marco Aurélio Almada
Diretor-presidente do Sicoob
Ganhador do prêmio “Influenciador Coop”, concedido pela Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) em 2020.