O sistema cooperativista já é responsável por 54% da originação agrícola no Brasil, ou seja, mais da metade daquilo que é gerado pelo agro é proveniente do cooperativismo.
A informação foi divulgada pelo presidente do Sistema OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras) e membro titular da Academia Nacional de Agricultura da SNA, Márcio Lopes de Freitas, em recente entrevista online concedida ao também acadêmico e coordenador do Centro de Estudos do Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas (FGV Agro), Roberto Rodrigues.
Atualmente, o Sistema OCB conta com cerca de 1.200 cooperativas agropecuárias e quase um milhão de produtores cooperados no setor. Em diversos segmentos, incluindo o agro, o número de cooperados, segundo Lopes, continua a crescer 10% ano ano.
Para o executivo, o aumento é motivado principalmente pela melhoria da gestão. “A cooperativa agrega valor para o negócio, dentro de um planejamento estratégico”.
Outro resultado proporcionado pela gestão e também pela eficiência comercial, observou Lopes, é o aumento das vendas externas das cooperativas. “A estimativa é de que as exportações diretas, este ano, cheguem a US$ 10 bilhões.”
Para Lopes, a grande ‘âncora’ do cooperativismo brasileiro é a agropecuária. “As cooperativas têm percepção de mercado e conseguem dar respostas que atendem às necessidades dos produtores da nova geração, garantindo modernização, gestão cada vez mais profissional, muita capacitação e treinamento de equipe”.
Assistência técnica
Na área de qualificação, números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), citados por Lopes, mostram que somente 24% dos produtores brasileiros têm assistência técnica. No entanto, no cooperativismo, o número de produtores com assistência cresce para 84%.
“Extensão rural é algo fundamental. Hoje há oito mil extensionistas (técnicos que levam a inovação tecnológica para o produtor), com curso superior, dentro do movimento cooperativista. É uma das maiores redes de extensão rural do mundo”, destacou o presidente da OCB.
“O extensionista é a figura que faz a primeira ligação entre o cooperado e a cooperativa, é o meio de comunicação mais eficiente que existe nesse sentido. Tecnologia é um insumo caro e no cooperativismo ela chega em melhores condições.”
Crédito
Outro segmento que vem crescendo de forma notável, segundo Lopes, são as cooperativas financeiras. “Elas atuam no mercado com regras disciplinares do Banco Central idênticas a de outros bancos. Nasceram ligadas às cooperativas agrícolas e hoje são abertas e atendem à sociedade em geral”.
Em nota divulgada recentemente, o Banco Central informou que, no ano passado, em plena pandemia, houve um crescimento médio de 26% entre as 900 cooperativas de crédito do País, enquanto que o sistema financeiro bancário cresceu somente 7%.
“No mesmo período, houve ainda um aumento de 46% no atendimento dessas cooperativas às micro e pequenas empresas”, acrescentou o presidente da OCB, que também destacou o avanço do cooperativismo no setor de transporte de cargas.
Logística
“Os caminhoneiros estão se organizando cada vez mais em cooperativas. Números que estão sendo trabalhados pela OCB junto à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), estimam que pelo menos 40% das cargas no País são movimentadas por cooperativas”, disse Lopes.
“Amazon e Mercado Livre, por exemplo, estão utilizando a logística de transporte de produtos da Coopmetro para realizar suas entregas. Hoje há também parcerias de empresas com cooperativas de taxistas focadas somente nos serviços de entrega.”
ESG
Lopes ressaltou ainda que as ações de sustentabilidade se tornaram um eixo para o Sistema OCB. Nesse sentido, ele lembrou que o conceito ESG (ambiental, social e governança) – tendência mundial entre empresas e instituições – é inteiramente aplicável ao cooperativismo. “O setor precisa ter boa governança, boa gestão, integridade e também sustentabilidade em sentido amplo. E já temos boas iniciativas nesse sentido.”
Ainda segundo o executivo, o cooperativismo tem se mostrado competente na mitigação dos efeitos de caráter socioeconômico provocados pela Covid-19, por meio de ações e atividades no Dia Internacional do Cooperativismo e Dia C – de Cooperar (ambos comemorados em 3 de julho).
“As cooperativas tem grande participação nesse movimento. Elas têm vocação solidária. Em 2020, 20 milhões pessoas foram beneficiadas com iniciativas de doações e prevenção à Covid, por meio de quatro mil cooperativas. Esse ano, nosso foco foram os excluídos sociais e os desempregados”, disse Lopes.
Fonte: MundoCoop – FGV Agro / Equipe SNA