Co criação, 5, orientação forte por propósito, e o usuário no centro. Estas premissas estão entre as principais de qualquer movimento de inovação. Mas bem poderiam ser também a definição do que é ser uma cooperativa.
Partindo desta analogia, deduzimos rapidamente que a cooperativas tem em seu DNA, premissas importantes para a inovação. Possuem atributos naturais pra enfrentar este mundo frágil, ansioso, não linear e incompreensível – mundo BANI – criado por Jamais Cascio, futurista americano, em 2018, em contraponto ao mundo VUCA, que já se tornava ultrapassado, pela aceleração ocorrida na pandemia. Haja vista que as cooperativas via de regra cresceram mais que seus concorrentes tradicionais durante a crise pandêmica.
De fato, a pandemia acelerou praticamente tudo, inclusive o olhar das empresas para a real necessidade de seus usuários. Pois o cenário caótico que se viveu especialmente nos primeiros meses da pandemia, exigiu um forte reposicionamento da grande maioria das organizações em torno do mundo, num forte exercício de empatia, tentando ser parte da solução e não mais um problema em meio ao avanço do coronavírus.
Este reposicionamento passou por cada vez mais entender pra atender o usuário, pois não havia tempo, e talvez nem orçamento no futuro, pra se tentar criar necessidades que não conversassem com as dores insurgentes que assolavam a humanidade a partir de março de 2020. Era imperativo, que já, e agora, soluções sanassem dores surgidas pelo afastamento social, quer sejam estas dores financeiras, físicas ou emocionais.
Algumas destas inovações foram simples mudanças na forma de atender reclamações de clientes, como a criação de áreas específicas ou novos canais digitais para cuidar da experiência do usuário. Outras inovações foram um pouco mais incrementais, como adoção do home office, naturalização das reuniões digitais, a explosão do e-commerce, e a ampliação absurda dos serviços de tele entregas. E houve ainda algumas inovações mais disruptivas como a proliferação da telemedicina. Mas todas elas, menores ou maiores, com mais ou menos tecnologia aplicada, se referem a melhorar ou transformar a jornada do usuário. Ou seja, as pessoas estão no centro de todas as mudanças.
E cooperativas são sociedades de pessoas, como consta no artigo 4º da Lei Federal 5764 que regula o cooperativismo no país. Que nasceram pra atender necessidades comuns de um grupo de pessoas. Necessidades estas que estão mudando conforme a Humanidade vai evoluindo e reaprendendo a viver e conviver em sociedade. Mudanças que também foram aceleradas pela pandemia. É um movimento consciente e mais transcendental de buscar uma existência mais centrada no ser do que no ter; mas também é um movimento pragmático, impulsionado pelas inovações das últimas décadas como internet, robótica, smartphone, inteligência artificial. A revolução industrial cedendo espaço para revolução digital. As cooperativas nasceram no limiar da Revolução Industrial, e agora adentram a Revolução Digital, cheias de desafios mas também de oportunidades.
Todos estes elementos novos surgidos na Revolução Digital, mais a forte orientação pelo propósito que é intrínseco ao cooperativismo, nos induzem ao entendimento que cooperativas são negócios inovadores por vocação, e que por esta mesma vocação, potencializada pelas necessidades humanas em evolução, se manterão inovando nos futuros imaginados, em busca da manutenção da relevância junto aos seus associados.
Mas por que mesmo assim, via de regra as cooperativas ainda inovam pouco? Ainda estão pouco conectadas ao ecossistema de inovação? Ainda não adotaram a inovação aberta num nível maior?
Várias são as causas, e variam desde postura conservadora dos dirigentes, passando por aspectos culturais, restrição orçamentária, chegando até a visão menos clara sobre o futuro que também chegará nas cooperativas.
O modelo de negócios das cooperativas, fortemente baseado em relações humanas e humanizadas, tende a crer que somente este forte elo emocional seja suficiente pra sustentar as cooperativas no mercado.
E é fato inquestionável que o relacionamento é o principal, ou está entre os principais diferenciais de uma cooperativa. Mas a transformação digital coloca em xeque este modelo ou pelo menos exige que se ressignifique relacionamento através de dispositivos como um smartphone.
Por isto é importante que as cooperativas adotem boas práticas de inovação, acompanhadas de uma mudança cultural que não pune o erro, que está aberta a ouvir todos, que seja menos hierárquica, que incentive o surgimento de novas ideias, que aprenda a correr riscos. Podemos e devemos mudar tudo nos próximos anos, somente temos que preservar a nossa essência.
Há um fato irrefutável: a empresa cooperativa se transformará por necessidade. E uma necessidade inegociável: a filosofia cooperativista precisa permanecer. E inclusive, ser potencializada pelo mundo digital que já está entre nós.
Solon Stapassola Stahl – Novembro 2021