Instituições avançam amparadas pela filosofia de contribuir com um mundo mais justo e com oportunidades para todos
“O cooperativismo é um agente ativo e efetivo de inclusão, democratização e desenvolvimento sustentável, não apenas do país, mas principalmente de pessoas. Nosso movimento tem o desafio de pensar o futuro a partir de perspectivas que contribuam para consolidar cada vez mais uma economia social e solidária, centrada no bem-estar e na prosperidade de todos”, descreve Márcio Lopes de Freitas, presidente do Sistema OCB. Referindo-se especificamente ao cooperativismo de crédito, o dirigente ressalta o fato de ele exercer papel fundamental por sua capilaridade e capacidade de distribuição de recursos para as mais diferentes atividades e ações, não apenas de cooperativas e associados, mas para os brasileiros em geral. “As cooperativas de crédito são, ainda, importantes vetores de democratização, educação e inclusão financeiras”, complementa. De acordo com o Panorama do Sistema Nacional de Crédito Cooperativo (SNCC), divulgado na semana passada, em 2021 as cooperativas mantiveram-se em franco crescimento no Sistema Financeiro Nacional (SFN): sua carteira de crédito ativa, por exemplo, aumentou 35,9%, enquanto a do SFN cresceu 15%. Os ativos totais, que incluem não apenas a carteira de crédito, mas os outros bens, totalizaram R$ 459 bilhões, alta de 23,5% no ano, e o estoque de captações de recursos subiu 23,7%, em ritmo superior ao dos outros ramos do SFN. Avançaram também o número de cooperados e de cidades que contam com unidades de atendimento.
Para César Bochi, diretor presidente do Sicredi, o cooperativismo de crédito tem potencial de crescimento no Brasil. De acordo com ele, considerando a população economicamente ativa nacional, a taxa de penetração está próxima de 10%, enquanto nos Estados Unidos ela é superior a 60% e no Canadá ultrapassa os 40%. “Acredito que quanto mais o modelo e seus diferenciais forem assimilados pelas pessoas, mais ele avançará, pois além de toda a atuação social das cooperativas, os associados a elas participam de suas decisões por meio do voto e de seus resultados por meio da distribuição deles, realizada de forma proporcional à utilização de produtos e serviços. Lembro, ainda, que as cooperativas não têm acionistas e que os seus resultados são sempre distribuídos e reinvestidos nas comunidades onde atuamos”, detalha o executivo.
Essas características configuram diferenciais que certamente têm atraído os brasileiros. “No sistema cooperativo todos os participantes são donos do negócio. As decisões são tomadas democraticamente, enquanto parte dos resultados é dividida proporcionalmente à participação de cada associado” enfatiza o diretor executivo da Unicred, Vladimir Duarte. Ele argumenta que o cooperativismo de crédito oferece vantagens para quem quer acessar produtos e serviços financeiros com condições justas e transparentes, e que as instituições, além disso, têm um importante papel social na conscientização financeira. Ainda em relação aos benefícios proporcionados pelas cooperativas de crédito, ele cita o atendimento personalizado e sem viés comercial, e as condições competitivas.
Edson Machado Monteiro, diretor presidente da Cooperativa de Economia e Crédito Mútuo de Funcionários de Instituições Financeiras Públicas Federais – Cooperforte, diz que o cooperativismo financeiro é compreendido, no mundo, como uma solução econômica e social para o crédito, para os investimentos e para a prestação de serviços. Ele também coloca em evidência o fato de as instituições do ramo não terem como objetivo o lucro e que o resultado gerado, apartadas as reservas legais e as estabelecidas pelo regulador, e aquilo que é retido como segurança patrimonial, é distribuído entre os associados. “Então, além de ter a satisfação de uma prestação de um serviço de melhor qualidade, eles participam diretamente dos resultados da eficiência operacional da cooperativa”, diz. Edson vê na frustração de brasileiros com os bancos outro motivo para o crescimento das cooperativas. Afinal, por exemplo, elas têm como característica dar atenção às pessoas, de recepcionálas, de buscarem a ampliação dos pontos de atendimento e de estarem próximas das comunidades, ao contrário de outros tipos de instituições financeiras, cada vez mais recolhidas e acessíveis somente por meio de canais digitais ou telefone. Edson ressalta ainda que as cooperativas, pelo seu modelo de negócios, têm condições de oferecer custos financeiros mais baixos. “As pessoas sentem mais segurança quando encontram ofertas mais vantajosas e, combinado a elas, um atendimento personalizado”, avalia o diretor presidente da Cooperforte.
Para o diretor de Coordenação Sistêmica e Relações Institucionais do Sicoob, Ênio Meinen, as cooperativas estarem sempre presentes na vida das comunidades, mesmo em momentos de adversidade, ajuda a explicar o seu sucesso e o seu avanço. Quando há uma situação de crise, como a de pandemia, instituições financeiras convencionais costumam retira-se de cena, porque aumentam os riscos e elas querem averiguar como ficará o mercado. “As cooperativas, dado o seu propósito de atender seus membros – que são seus donos –, não têm o direito de ficar observando. Então, acabam assumindo até um papel contracíclico, mantendo os seus os canais de fornecimento de recursos para os cooperados. Esse ir ao encontro, o fato de não desamparar os seus associados, acaba também atraindo novas pessoas”, avalia. Ênio reforça como aspecto que explica o êxito das cooperativas a condição de não visarem o lucro. Com isso, via de regra, elas ofertam melhores condições em empréstimos, em pacotes de tarifas, etc., quando comparadas a outros tipos de instituições financeiras. “Hoje, mais do que nunca, considerando a combinação de preparação de pessoal, de estrutura de agências, de tecnologias e de portfólio, e as condições de relacionamento e de preços, as cooperativas financeiras estão preparadas para acolher cidadãos e pessoas jurídicas”, conclui Ênio.