Na última década o cooperativismo de crédito avançou a passos largos, ganhando notoriedade e confiança dos brasileiros em um ritmo acelerado. A mudança de hábito do consumidor, abriu novas oportunidades no mercado financeiro, e as cooperativas puderam conquistar rapidamente, uma parcela de pessoas que antes atrelavam sua vida financeira apenas às popularmente chamadas “instituições financeiras tradicionais”.
Segundo dados recentes, o cooperativismo de crédito passou de 3% de participação no Sistema Financeiro Nacional (SFN) em 2019, para 7% no ano passado. O crescimento, já supera o do mercado tradicional e fica na casa dos 30%.
Em sua maioria, o setor abraça as pessoas físicas, que representam mais de 80% de seus clientes; porém avança em grande ritmo na captação e abertura de contas PJ, principalmente pelo histórico de apoio a micro e pequenos empreendedores. Hoje, já são mais de 15 milhões de associados.
Olhando para os pequenos
Em uma de suas características mais expressivas, as cooperativas de crédito seguem prosperando principalmente em áreas desassistidas pelas grandes instituições bancárias. De acordo com o Banco Central, em 2022 o cooperativismo de crédito expandiu sua presença para mais 174 municípios, enquanto em outras 85 localidades, bancos deixaram de operar fisicamente. Naquele ano, a quantidade de municípios onde a cooperativa de crédito era a única alternativa presencial de serviços financeiros chegou a 331.
As cooperativas de crédito ampliaram sua presença física em 47% nos últimos cinco anos e seguem investindo na proximidade com os clientes para crescer no mercado brasileiro. Apesar de parecer contraintuitivo abrir postos de atendimento quando as transações digitais são quase 80% do total, conforme dados da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), a estratégia tem dado resultados, segundo o diretor presidente do Sicredi, César Bochi. O foco não é buscar eficiência, mas ter um local de “relacionamento, suporte e apoio financeiro”, diz. As instalações são mais simples se comparadas às agências bancárias, já que não armazenam alto volume monetário. “Hoje, a inclusão financeira é muito mais uma questão de letramento financeiro, entendimento e apoio do que de fato acesso à conta. E para isso nós temos que estar próximos”, afirma.
Ênio Meinen, diretor-executivo de coordenação sistêmica e relações institucionais do Sicoob, diz que o regionalismo e a visão comunitária levam as cooperativas a municípios pequenos, no interior do país. “Nossa estratégia de atuação em grandes cidades não é ficar no centro, ao lado dos ‘bancões’. É como se fosse uma comunidade do interior em que você vai avançando dos bairros em direção ao centro, não ao contrário”, diz.
Ativos seguem em crescimento
Com o avanço da presença física e a aposta numa regionalização de suas atividades, as instituições financeiras cooperativas têm observado um crescimento expansivo do volume de ativos. Na comparação entre 2019 e 2023, observou-se um aumento de 163% na carteira de crédito, chegando a para perto de R$ 392 bilhões, segundo dados do Banco Central (BC). A alta foi muito superior à dos bancos comerciais, que têm enxugado a rede de agências e cuja carteira cresceu 60% no mesmo período, para R$ 3,2 trilhões.
Dados do Banco Central apontam que o crescimento dos ativos totais do sistema cooperativo de crédito é de 28,5% ao ano, enquanto no sistema financeiro tradicional, apenas 11%. Com tais números, o avanço das cooperativas em todas as regiões está acendendo uma luz amarela para a concorrência, que busca formas de impedir ou amenizar a evasão de clientes. “Acho que é uma reação de baixo, de alguma região em que algum superintendente de banco foi cobrado porque perdeu share de mercado, e daí alguém pegou isso e construiu essa narrativa de competição desigual, que é ofensiva e não faz sentido”, destaca Manfred Dasenbrock, presidente da Central Sicredi PR/SP/RJ, ao comentar o olhar mais incisivo dos bancos em relação às cooperativas.
Diante deste cenário, é fato que a competitividade do mercado financeiro está apenas vendo os primeiros sinais de um conflito mais expressivo. Agora, o movimento é para impedir que instituições bancárias mais tradicionais, atuem de forma a prejudicar a atuação das cooperativas, principalmente no que se refere à tributação. Em evento sediado em Brasília, o Sistema OCB já deixou claro que a Reforma Tributária seguirá como um dos focos da agenda institucional nos próximos meses, e deve observar uma forte atuação não só da entidade, mas de todo o coop brasileiro.
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Por Redação MundoCoop, com informações de Valor e Gazeta
Fonte: mundocoop.com.br