O cooperativismo, como conhecemos hoje, é profundamente influenciado pelos Pioneiros de Rochdale, mas suas raízes remontam a um período anterior e a uma série de pensadores influentes. Este texto explora os eventos e as ideias que pavimentaram o caminho para a fundação da Sociedade dos Pioneiros de Rochdale em 1844.
Antecedentes Históricos – A Revolução Industrial
A Revolução Industrial marcou a transição de uma economia agrária e artesanal para uma economia industrial e mecanizada. Isso resultou em mudanças significativas nas relações de trabalho e nas condições de vida dos trabalhadores. A introdução de máquinas, como a máquina a vapor, aumentou a produtividade, mas também levou à substituição de trabalhadores por máquinas, resultando em desemprego e redução de salários.
Naquele momento, os salários dos trabalhadores diminuíram ao longo do tempo, e muitos trabalhadores enfrentavam dificuldades para sustentar suas famílias. A redução dos salários e o desemprego levaram ao aumento da pobreza e do crime. Trabalhadores que não conseguiam sustentar suas famílias muitas vezes recorriam ao crime como meio de sobrevivência. Trabalhadores, incluindo mulheres e crianças, eram frequentemente obrigados a trabalhar longas horas em condições insalubres e perigosas.
Exemplificando o ambiente da Revolução Industrial
Durante a Revolução Industrial, os trabalhadores das fábricas de cerâmica em Staffordshire, na Inglaterra, enfrentavam condições extremamente difíceis, com salários diferenciados e longas jornadas de trabalho. Homens casados trabalhavam seis dias completos e quatro noites por semana, recebendo entre sete e onze xelins, enquanto os trabalhadores mais rápidos ganhavam até treze xelins por semana, trabalhando de quinze a dezesseis horas por dia. Jovens de dezesseis a vinte anos trabalhavam quinze horas diárias, ganhando entre dois e três xelins por semana, e mulheres na mesma faixa etária recebiam entre dois e três xelins e seis pence, trabalhando de doze a quinze horas por dia.
As condições de trabalho eram insalubres, com fábricas cheias de fumaça, enxofre e gases tóxicos, causando doenças e sofrimento prolongado. A necessidade de trabalhar longas horas devido aos baixos salários agravava ainda mais essas condições. O ambiente de trabalho prejudicial resultava em sérios problemas de saúde, com muitos trabalhadores sofrendo de doenças devido à exposição constante a ambientes tóxicos e à falta de tempo para descanso e recreação.
Experiências Cooperativas Anteriores
Antes dos Pioneiros de Rochdale, existiram várias iniciativas em forma de cooperativas. Por exemplo, a Sociedade dos Tecelões de Fenwick, fundada em 1769, que é considerada a primeira cooperativa documentada. Embora muitas dessas primeiras cooperativas não tenham sobrevivido, elas forneceram lições valiosas para o futuro.
Raízes do Cooperativismo: Pensadores Influentes
Vários pensadores influenciaram de forma decisiva o movimento cooperativo. Conheça abaixo a a história de dois grandes nomes do cooperativismo.
- Robert Owen (1771-1858): Amplamente considerado o pai do movimento cooperativo, Owen era um ativista trabalhista e empresário bem-sucedido. Suas ideias sobre uma sociedade mais justa e igualitária inspiraram muitos, incluindo os Pioneiros de Rochdale.
- William King (1786-1865): Um defensor do cooperativismo, King criou a Revista “The Co-operator”, uma publicação mensal que divulgava as ideias cooperativas e instruía sobre como formar e administrar cooperativas.
Links para a história detalhada destes dois precursores:
Os Princípios de Rochdale
Os Pioneiros de Rochdale não foram os primeiros a formar uma cooperativa, mas foram os primeiros a adotar um conjunto de princípios que se tornariam universais para o movimento cooperativo. Esses princípios incluíam a venda de mercadorias a preços justos, a distribuição de excedentes entre os membros e a promoção da educação.
Por Márcio Port, autor do livro “Cooperativismo Financeiro, uma história com propósito, publicado em 2022, e coautor dos livros “Cooperativismo de Crédito Ontem, Hoje e Amanhã”, publicado em 2012 e “Cooperativismo Financeiro: percurso histórico, perspectivas e desafios“, publicado em 2014 e presidente da Central Sicredi Sul/Sudeste.