No século XIX, uma época marcada pela Revolução Industrial e suas consequências sociais, emergiu uma figura cujas ideias sobre cooperação e autogestão ainda ressoam nos corredores do movimento cooperativo moderno. Esse homem era William King (1786-1865), um médico e reformador social, nascido em Ipswich, na Inglaterra, que via nas cooperativas uma solução para os males econômicos enfrentados pela classe trabalhadora.
Quem foi William King
William King nasceu em Ipswich, na Inglaterra, em 17 de abril de 1786. Seu pai, o Reverendo John King, era mestre da Ipswich Grammar School, uma instituição renomada que existia desde antes de 1477. A família King tinha uma linhagem de homens robustos de Yorkshire, e John King se mudou para Ipswich vindo de Richmond. William King foi inicialmente destinado a seguir carreira na igreja, mas um conflito entre dever filial e consciência o levou a escolher outro caminho.
Durante sua infância, William King viveu em Whittenshame, perto de Ipswich, onde seu pai se tornou um dos responsáveis pela igreja local. Ele descreveu esses anos como fundamentais para a formação de sua constituição saudável e princípios que o guiariam por toda a vida. Ele adquiriu uma profunda apreciação pela verdade e pela natureza, o que influenciou suas futuras contribuições científicas e sociais.
Formação acadêmica de William King
King se formou em Bacharel em Artes em Cambridge em 1809 e após, em 1812, tornou-se Mestre em Artes e Fellow (um membro de alto nível) do Peterhouse College. Estudou medicina no St. Bartholomew´s Hospital, com orientação de renomados médicos da época. Um dos trabalhos de William King destacava a importância da água mineral artificial como um avanço significativo na medicina, permitindo o tratamento eficaz de várias doenças que anteriormente eram consideradas incuráveis.
Em 1817, William King recebeu uma licença da Universidade de Cambridge para praticar medicina, em 1819, tornou-se Doutor em Medicina (M.D.). No ano seguinte, tornou-se Fellow do Royal College of Physicians. King valorizava muito suas distinções acadêmicas e mantinha um forte vínculo com a Universidade de Cambridge.
Em 1821, King casou-se com Mary Hooker, filha do Dr. Hooker, vigário de Rottingdean. Após o casamento, ele se estabeleceu em Brighton para ficar perto dos parentes de sua esposa e começou a se envolver em assuntos locais. Em 1823, ele ajudou a estabelecer uma das primeiras escolas para crianças na Inglaterra, que foi inicialmente conduzida por um pregador metodista local.
Fundação da Brighton District Society
King tornou-se amigo e colaborador de Elizabeth Fry, uma famosa reformadora social e filantropa, conhecida por seu trabalho na reforma prisional e na melhoria das condições de vida dos pobres. Juntos, eles fundaram a Brighton District Society em 1824, que visava encorajar a indústria e a frugalidade entre os pobres, além de fornecer alívio para a verdadeira necessidade. A sociedade também tinha como objetivo prevenir a mendicância e a impostura.
A Brighton District Society operava através de um sistema de visitas domiciliares, onde voluntários visitavam as casas dos pobres para oferecer assistência e orientação. Eles ajudavam a levantar fundos e organizaram programas de apoio para encorajar os pobres a economizar e melhorar suas condições de vida.
Preocupações com as dificuldades dos trabalhadores
William King via com preocupação as condições de vida e trabalho das classes trabalhadoras e acreditava na capacidade das pessoas de melhorar suas próprias vidas através da união e da cooperação.
Como médico, King estava profundamente ciente das dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores, especialmente em termos de saúde e de bem-estar. Ele viu de perto os efeitos da pobreza e da falta de recursos nas comunidades trabalhadoras.
King estava envolvido em diversas iniciativas para melhorar a educação e as condições de vida das pessoas, em estreita colaboração com Elizabeth Fry e assim como ela se tornou um reformador social dedicado.
King percebeu que os sistemas de caridade e assistência social existentes eram insuficientes para resolver os problemas estruturais enfrentados pelos trabalhadores. Ele viu que a caridade, embora bem-intencionada, muitas vezes não abordava as causas subjacentes da pobreza e da desigualdade.
William King foi atraído pelo modelo cooperativo porque ele oferecia uma maneira prática e sustentável de os trabalhadores melhorarem suas próprias condições de vida.
A força da cooperação
A abordagem de King era simples: começar pequeno e crescer a partir daí. Ele defendia que os trabalhadores deveriam usar seus próprios recursos para criar lojas cooperativas, garantindo assim produtos de qualidade e preços justos. Ele instigava a formação de pequenas cooperativas locais para combater a pobreza e promovia a ideia de que, através da cooperação e do esforço conjunto, os trabalhadores poderiam alcançar a autossuficiência e melhorar suas condições de vida.
Mitigando o desafio do desconhecimento
William King observou que muitos dos precursores do cooperativismo, como Robert Owen, Thompson e Minter Morgan, utilizavam uma linguagem complexa e filosófica que era difícil de entender para a maioria dos trabalhadores, que geralmente tinham baixo nível de instrução. King acreditava que essa abordagem tornava os princípios da cooperação inacessíveis para aqueles que mais precisavam deles. Ele destacou que os escritos desses pioneiros estavam frequentemente envoltos em “névoas metafísicas e especulações tolas”, o que dificultava a compreensão dos trabalhadores sobre o que significava “cooperação mútua, trabalho unido e igualdade de desfrutes”.
“O saber é a principal origem da verdadeira riqueza e a ignorância a principal origem da miséria. Os ricos acumularam seu enorme capital através de uma supremacia intelectual e os pobres deixaram para os ricos este capital, em vez de usá-lo para eles próprios, por causa de sua ignorância”.
Fundação de cooperativas na Inglaterra
King não era apenas um teórico, ele era um pragmático. Ao perceber que o cooperativismo poderia ser a solução para os problemas enfrentados pelos trabalhadores, sua primeira ação significativa foi a fundação de uma cooperativa em Brighton, em 1827, a Brighton Co-operative Benevolent Fund Association. A cooperativa tinha dois objetivos:
- levantar capital para permitir que pessoas sem condições financeiras ingressassem em sociedades cooperativas;
- difundir o conhecimento do sistema cooperativo.
Faziam parte desta cooperativa alguns ex-alunos do Dr. King que haviam sido inspirados por suas ideias cooperativas e associativas durante suas aulas em Brighton.
No mesmo ano (1827) foi fundada uma associação comercial cooperativa (Cooperative Trade Association), com o objetivo de viabilizar compras coletivas. Entre os associados estavam trabalhadores agrícolas, carpinteiros, pedreiros, marceneiros, jardineiros, padeiros, alfaiates, e tantas outras profissões, que poderiam, unidos, realizar todos os ofícios exigidos em uma comunidade. A iniciativa permitia que esses associados agissem de forma independente em relação aos capitalistas da época.
Difusão do cooperativismo – A Revista The Co-operator
Em 1828, começou a publicar a revista “The Co-operator”, que se tornaria a voz do movimento cooperativo emergente. Este periódico não era apenas um meio de comunicação; era uma ferramenta educacional, um manifesto que articulava uma visão clara e prática para o cooperativismo. Embora tenha sido publicada por pouco mais de dois anos, seu impacto foi profundo, fornecendo um manual prático para aqueles interessados em criar suas próprias cooperativas.
King sabia que a educação era a chave para superar o desconhecimento e a desinformação. Por meio de “The Cooperator”, ele instruiu, unificou e inspirou. Seus escritos eram acessíveis, destinados a serem compreendidos mesmo por aqueles com baixo nível de conhecimento. Ele acreditava que a cooperação era um ato voluntário e que a verdadeira mudança só poderia vir de dentro da comunidade.
Ocorre que os precursores do cooperativismo, que antecederam a King, não tinham uma linguagem fácil que permitisse a pessoas comuns entenderem o que significava cooperação mútua, trabalho conjunto e igualdade de condições. King, logo no início de sua revista, dirigiu-se aos trabalhadores em uma linguagem que todos pudessem entender, demonstrando como eles poderiam melhorar suas condições trabalhando em conjunto.
Algumas reflexões de William King
- União e Força: King frequentemente usava a analogia de que “a união faz a força“. Ele explicava que “muitas mãos fazem o trabalho leve” e que “o que um homem não pode fazer, dois podem“. Ele argumentava que, ao se unirem, os trabalhadores poderiam alcançar objetivos que seriam impossíveis de serem alcançados individualmente.
- Trabalhar para Si Mesmo: King incentivava os trabalhadores a “trabalharem para si mesmos” em vez de para os patrões. Ele explicava que, ao trabalhar para outros, os trabalhadores recebiam apenas uma pequena parte do valor do seu trabalho. No entanto, se trabalhassem para si mesmos, poderiam reter todo o valor produzido.
Ensinamentos por meio de uma forte reflexão
King destacou em sua revista que as condições de vida vividas à época estavam elevando os níveis de criminalidade, esclarecendo que não eram crimes como homicídio e falsificação que estavam ocorrendo, mas crimes relacionados com baixos salários e dificuldades do dia a dia. Segundo King a sociedade estava sendo assolada pelos maiores males que existem: miséria e criminalidade. Ao mesmo tempo ele afirmava que estes males podiam ser curados e que “o remédio está em nossas próprias mãos”. O remédio, segundo King, era a cooperação.
“Cooperação significa, literalmente, “trabalhar juntos”. A união é a força em todos os casos, e sem exceção. Muitas mãos tornam o trabalho curto. O que um homem não pode fazer, dois podem. O que é impossível para poucos, é fácil para muitos. Mas antes que muitos possam trabalhar, eles devem se unir; devem conhecer seu objetivo e sentir um interesse comum e um vínculo comum. No momento, trabalhamos uns contra os outros – quando um de nós consegue trabalho, outro o perde; e parecemos inimigos naturais uns dos outros. A simples razão disso é que trabalhamos para os outros, não para nós mesmos. Portanto, comecemos a trabalhar para nós mesmos, e não inteiramente para os outros.” William King
Na revista, King propunha a criação de sociedades, onde seriam acumulados fundos, formados por depósitos semanais, que assim que fossem grandes o suficiente serviriam para comprar mercadorias, que seriam armazenadas em um depósito comum, onde todos os membros comprariam os produtos que necessitassem. Com o lucro das negociações seria formado um capital comum que seria novamente utilizado para a compra de mercadorias. Desta forma, haveria duas fontes de acumulação de capital: os depósitos semanais e o lucro obtido nas negociações.
King estimulou também que à medida que as sociedades crescessem, elas poderiam encontrar emprego para alguns de seus membros e mais adiante para todos, evitando que houvesse membros ociosos ou desempregados. Quando um membro ficasse doente ele receberia atendimento médico às custas da sociedade. Com o contínuo crescimento da sociedade ela poderia comprar terras, onde os membros poderiam morar e trabalhar, produzindo todos os alimentos, roupas e casas. A sociedade cooperativa passaria então a se chamar de comunidade.
A reflexão que William King propunha era clara: assim como os pais querem o melhor para a educação de seus filhos e, portanto, seriam os melhores administradores de uma escola, os trabalhadores seriam os mais interessados no sucesso de suas lojas.
“Todos os dias nós precisamos ir a uma loja para comprar comida e outras necessidades – então por que nós não vamos na nossa própria loja? Nós precisamos enviar nossos filhos para a escola – por que não temos a nossa própria escola, onde poderíamos educar nossos ofícios úteis e torná-los bons trabalhadores e homens sóbrios?” William King
Ele acreditava que, se as pessoas pudessem operar suas próprias lojas, elas garantiriam que os produtos fossem de boa qualidade e vendidos a preços justos, beneficiando a comunidade como um todo. Da mesma forma, se os pais gerenciassem suas próprias escolas, eles garantiriam que a educação fornecida fosse da mais alta qualidade e relevante para as necessidades de seus filhos.
Essa analogia destacava a crença de King de que a autogestão e o controle comunitário não apenas melhorariam os serviços e produtos, mas também fortaleceriam os laços comunitários e promoveriam a responsabilidade e o envolvimento direto das pessoas em questões que afetam suas vidas diárias.
Foi dessa forma, com uma linguagem simples e acessível que William King inspirou a formação de inúmeras cooperativas de consumo nos anos seguintes, defendendo a ideia de fazermos nós mesmos e da ajuda mútua. No período de 1826 a 1835 surgiram pelo menos 250 cooperativas de consumo, das quais 50 só em Londres, chegando em 1835 a um total de 300 cooperativas.
A importância da educação cooperativa
King acreditava firmemente que a educação era a chave para o sucesso do movimento cooperativo. Em suas cartas, ele enfatizava a necessidade de educar os trabalhadores não apenas em habilidades práticas, mas também em princípios cooperativos e econômicos. Ele argumentava que, sem educação, os trabalhadores não poderiam entender plenamente os benefícios da cooperação e, portanto, não poderiam se comprometer com o movimento de maneira eficaz.
Desafios e críticas a William King
Apesar do sucesso inicial, King enfrentou desafios e críticas. Alguns críticos acusaram-no de infidelidade e sedição, e houve resistência de alguns setores da sociedade, incluindo a igreja. No entanto, King permaneceu firme em sua convicção de que a cooperação era a chave para a emancipação dos trabalhadores.
Em 1829, William King e Robert Owen trocaram cartas discutindo os princípios do cooperativismo e as experiências práticas de King em Brighton. Essas correspondências abordavam a importância da educação, a necessidade de um fundo comum e a gestão democrática das sociedades cooperativas. King compartilhava os desafios e soluções encontrados na Brighton Co-operative Benevolent Fund Association, enquanto que Owen oferecia conselhos baseados em sua vasta experiência.
Um dos desafios enfrentados por King era a retirada de recursos dos membros das cooperativas para investir em iniciativas privadas que rendessem mais para os membros, como a construção de um barco de pesca.
Em 1830, quando a Brighton Co-operative Benevolent Fund Association já não existia mais e outras cooperativas locais também havia desaparecido, William King decidiu por interromper a publicação da revista “The Co-operator”. Naquele momento ele afirmou que cerca de trezentas sociedades cooperativas haviam sido formadas como resultado direto de seus ensinamentos, entendendo que os objetivos iniciais da revista haviam sido atingidos.
Resistências e perseguição
Em algumas cartas trocadas com outras lideranças da época, William King revelou a resistência de alguns setores da sociedade, incluindo a igreja e os proprietários de fábricas, que viam o movimento cooperativo como uma ameaça ao status quo. King também enfrentou críticas de dentro do próprio movimento, com alguns argumentando que suas ideias eram utópicas e impraticáveis.
A igreja, em particular, foi uma das instituições que mais resistiu às ideias de King. Robert Owen, frequentemente atacava as organizações religiosas, o que levou a uma associação entre as ideias de Owen e King. Como resultado, muitos clérigos e ministros de várias denominações começaram a pregar contra a cooperação, acusando King de promover princípios “horríveis” e de ser um “infiel”.
Essas acusações e a resistência da sociedade tiveram um impacto significativo nas perspectivas profissionais de King como médico. Ele tinha uma família crescente para sustentar e sua defesa da cooperação já havia lhe custado muito. As críticas públicas e as acusações de infidelidade e sedição prejudicaram sua reputação e, consequentemente, sua prática médica. King foi forçado a equilibrar sua paixão pela cooperação com a necessidade de manter sua carreira e sustentar sua família.
King não era um homem rico e não podia arcar com novas edições quando sua revista esgotava. No entanto, algumas pessoas tiveram a sabedoria de encadernar suas cópias, que continuaram a servir como uma espécie de livro-texto para o movimento. Uma dessas cópias foi estudada pelos Pioneiros de Rochdale, que foram fortemente influenciados pelas ideias de King quando formaram sua sociedade em 1844.
O movimento cooperativo iniciado por Dr. William King e promovido através de “The Co-operator” teve um impacto profundo e duradouro na sociedade. Através de seus ensinamentos e da disseminação dos princípios da cooperação, King ajudou a transformar a vida de muitos trabalhadores, proporcionando-lhes uma maneira de alcançar a independência econômica e social.
Os desafios e críticas enfrentados por Dr. William King destacam a resistência que muitas vezes acompanha a introdução de novas ideias e mudanças sociais
Inspiração para os Pioneiros de Rochdale
O legado de King é imenso. As sementes que ele plantou em Brighton e através de “The Co-operator” floresceram em Rochdale, onde os Pioneiros de Rochdale formaram a primeira cooperativa moderna de negócios em 1844, adotando muitas das práticas que King havia defendido.
A história dos Pioneiros de Rochdale (Rochdale Equitable Pioneers’ Society), fundada em 1844, provavelmente não seria a mesma se os Pioneiros não tivessem lido The Co-operator e se beneficiado dos ensinamentos do Dr. King. Os Pioneiros estavam familiarizados com a história da cooperação em Brighton. James Smithies – quase o primeiro cooperador a prever o comércio atacadista e a propriedade de navios – possuía um volume encadernado de The Co-operator, posteriormente colocado na Biblioteca dos Pioneiros, que foi lido por Samuel Ashworth (seu primeiro lojista) e outros dos Pioneiros.
Os objetivos dos Pioneiros de Rochdale eram quase indistinguíveis dos de seus predecessores, mas os métodos que adotaram eram diferentes. Enquanto os primeiros cooperadores restringiam a adesão às suas sociedades a um pequeno número de pessoas que concordavam em princípio, os Pioneiros de Rochdale convidavam todos a se juntarem à sua sociedade. Eles também dividiam periodicamente quase todo o dinheiro economizado pelas compras conjuntas entre os membros que compravam em sua loja, enquanto os primeiros defensores da cooperação sustentavam que todas as somas assim economizadas deveriam ser adicionadas ao capital indivisível de propriedade coletiva da sociedade.
Os Pioneiros de Rochdale adaptaram os ensinamentos de Dr. William King às necessidades de seu tempo, incorporando partes essenciais da organização de Brighton, mas introduzindo práticas inovadoras. A prática de distribuição de sobras ajudou a popularizar a cooperação de consumidores, tornando-a mais atraente para um público mais amplo e incentivando a lealdade dos membros.
Reação de William King
William King ficou extremamente satisfeito ao saber que os Pioneiros de Rochdale haviam adotado a prática de distribuir as sobras entre os membros da cooperativa. Ele reconheceu que essa adaptação era uma inovação crucial que poderia garantir o sucesso e a sustentabilidade das cooperativas. King acreditava que a distribuição proporcional das sobras aos membros, com base em suas compras, incentivava a lealdade e a participação ativa na cooperativa. Ele viu essa prática como uma aplicação prática e eficaz dos princípios cooperativos que ele havia promovido em suas publicações e iniciativas.
King também ficou contente ao ver que outras variações e adaptações de suas ideias estavam sendo implementadas pelos Pioneiros de Rochdale. Ele considerava essas adaptações como um sinal de que os princípios cooperativos estavam evoluindo e se adaptando às necessidades da época, o que aumentava as chances de sucesso do movimento cooperativo.
O sucesso dos Pioneiros de Rochdale não apenas validou as ideias de William King, mas também ajudou a popularizar o movimento cooperativo em todo o mundo. Em menos de vinte anos após a abertura da primeira loja pelos Pioneiros de Rochdale, quase trezentas e cinquenta sociedades foram estabelecidas. As atividades dessas sociedades foram registradas em um novo “Co-operator”, publicado por Henry Pitman em junho de 1860.
Sementes plantadas para o futuro
As ideias de King sobre o cooperativismo eram fundamentadas na crença de que a cooperação era um ato voluntário e que todo o poder do mundo não poderia torná-lo obrigatório. Ele defendia que o cooperativismo não deveria depender de qualquer poder além do seu próprio. Essa filosofia ajudou a moldar o movimento cooperativo moderno e continua a influenciar o setor até hoje.
Hoje, as cooperativas são uma força global, promovendo não apenas o bem-estar econômico, mas também a responsabilidade social e a sustentabilidade. E embora o nome de William King possa não ser amplamente reconhecido fora dos círculos cooperativos, seu impacto é inegável. Ele nos mostrou que, juntos, podemos construir não apenas uma loja ou uma escola, mas uma sociedade melhor.
A relação entre William King e os Pioneiros de Rochdale é um exemplo claro de como ideias inovadoras podem ser adaptadas e implementadas para criar mudanças significativas na sociedade. Através de suas publicações e iniciativas, King plantou as sementes do movimento cooperativo, que foram cultivadas e aprimoradas pelos Pioneiros de Rochdale. Juntos, eles estabeleceram as bases para um modelo cooperativo que continua a inspirar e beneficiar comunidades ao redor do mundo até hoje.
Por Márcio Port, autor do livro “Cooperativismo Financeiro, uma história com propósito, publicado em 2022, e coautor dos livros “Cooperativismo de Crédito Ontem, Hoje e Amanhã”, publicado em 2012 e “Cooperativismo Financeiro: percurso histórico, perspectivas e desafios“, publicado em 2014 e presidente da Central Sicredi Sul/Sudeste.