“…muitas das ações ainda necessárias para o desenvolvimento do setor [cooperativo] dependem de sua própria vontade, à luz da visão de futuro requerida que permita agir em vez de reagir.” (Henrique Meireles, então presidente do Banco Central do Brasil).
Vamos partir da premissa-matriz, de aceitação geral, de que a viabilidade econômica é condição de existência da cooperativa e, claro, pressuposto para dar as respostas na dimensão humanitária.
Para isso, a densidade ou, em amplitude ainda mais arrojada, fidelidade/centralidade/exclusividade operacional hão de ser uma realidade. Entre as muitas formas de apresentar ou propor o percurso até a opção do cooperado pela solução cooperativa, podemos, em uma perspectiva didática – como um caminho estruturado ou passo a passo –, associar as ações a objetivos representados por vocábulos que iniciam com a letra “e”.
Refiro-me, nessa ordem, a engajamento, economicidade, eficiência, experiência e escolha, aspirações essas que, por sinal, direta ou indiretamente, desde 2010 (Resolução nº 3.859, do Conselho Monetário Nacional – CMN), constituem diretrizes regulamentares, presentemente veiculadas pelas Resoluções CMN nº 5.051/2022 (art. 20) e nº 5.061/2023 (art. 2º).
Engajamento
Engajamento tem a ver com motivação – que reivindica justiça de oportunidades em todos os níveis, sem distinção ou preconceito entre os diferentes perfis demográficos –; compromisso e empenho dos dirigentes e profissionais contratados para bem-servir o quadro social e dar vida à sociedade cooperativa. Para além disso, é desejável o envolvimento ativo dos associados na gestão, que os leva a confiar na entidade, defendê-la e promovê-la.
Economicidade
Economicidade diz respeito ao uso parcimonioso e suficiente dos recursos dos cooperados, alcançando até mesmo as instalações físicas; as estruturas e os componentes organizacionais; a política de remuneração/bonificações/benefícios; as viagens e os eventos corporativos. Tem íntima ligação com a diretriz da utilidade e o princípio da intercooperação (intra e intersistêmica), que remetem a economia de escopo e ganho de escala.
Eficiência
Eficiência, no conceito de Índice de Eficiência Operacional (IEO), por sua vez, resulta da equação que confronta despesas e receitas operacionais da cooperativa. Quanto menor o número (40% para menos é a senha!), melhor – lembrando que o indicador, recomendadamente conjugado com métricas de produtividade, dialoga diretamente com a capacidade competitiva da cooperativa.
Experiência
Experiência que, visando à redução ou eliminação de fricções com os cooperados e potenciais ingressantes, conecta-se, entre outros aspectos, com o grau de satisfação acerca do tratamento/atendimento (presencial ou remoto; durante e após a concretização do vínculo negocial); à completude e qualidade do portfólio; à adequação da oferta ao perfil e à necessidade dos cooperados – âmbito em que se inserem o suitability e o relacionamento consultivo; aos limites operacionais; ao preço e aos processos, abarcando, neste caso, fluidez e agilidade/instantaneidade na entrega do produto ou serviço pela cooperativa.
O almejado impulsionamento do atual ritmo de filiações, sobretudo pela inclusão – prevalentemente por meio dos canais digitais – de uma parcela relevante do público situado nas classes C, D e E (universalização ou plenitude associativa), inevitavelmente passa por aqui.
Escolha
Escolha, que supõe conhecimento da proposta cooperativa, acessibilidade e atitude comercial – requisitos a serem substancialmente aprimorados entre nós –, é o efeito ou corolário do êxito nos quatro fundamentos anteriores, que igualmente reivindicam profunda evolução. Daí a principalidade – alvo de todos os agentes do varejo bancário e especialmente desafiador para o cooperativismo financeiro, que ainda vê seus membros prestigiando fortemente a concorrência.
Eis, portanto, uma ideia-síntese (certamente não a única e, talvez, nem mesmo a mais completa ou mais bem elaborada) de como podemos medir o progresso econômico de uma instituição cooperativa, notadamente do setor financeiro, imperativo para assegurar a continuidade do ciclo histórico de crescimento do segmento, com avanço no market share.
Dando a resposta eficaz sob a ótica empresarial – que há de abranger a maximização da entrega de valor para os donos-usuários – a cooperativa habilita-se ao papel de protagonista nas perspectivas social, ambiental e climática, sem o que não tem razão de ser.
Enfim, a organização cooperativa, para honrar, de modo virtuoso e sustentável, a sua identidade, o seu propósito, deve ser sólida economicamente – cultivando os cinco Es – e, a partir desse alicerce, efetiva nos laços com as pessoas do entorno e com o território que a acolhe, postura esta que renderá empatia e reciprocidade na forma de novos negócios.
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Ênio Meinen, autor de Cooperativismo financeiro na década de 2020: sem filtros! (ed. Confebras, 2020 – na 2ª ed./2023) e diretor de coordenação sistêmica, sustentabilidade e relações institucionais do Sicoob.
Boa tarde caro amigo.É a sintese da acão que garante o sucesso.Abraços
Ótima reflexão. Precisamos reforçar o engajamento para que nossos associados sejam propagadores do sistema cooperativo, entre os milhares que ainda utilizam o sistema bancário tradicional.
Bom dia meu amigo!
Muito boa reflexão, com certeza é o caminho para o sucesso, mas adiciono mais um “E” Empoderamento.
Onde há de fato o Cooperativismo o associado fica empoderado, se torna dono de um “negócio” coletivo usufruindo de todos os benefícios de um “dono”, mesmo com baixo ou nenhum investimento, além da inclusão financeira. Enfim, temos diversos bons motivos para sermos COOPERATIVISTAS, precisamos fazer chegar isso ao maior número de pessoas possíveis.
Forte Abraço.
João Noronha