Clube dos 100: na contramão dos bancos, cooperativas de crédito expandem presença física
É bem provável que, ao longo dos últimos anos, você tenha passado por ruas da sua cidade e notado que um local onde havia uma agência bancária agora está desocupado. É possível, também, que esse caminho agora conte com um posto de atendimento das cooperativas de crédito.
Esse fenômeno não é uma ilusão da sua mente ou um caso isolado no seu município. As cooperativas de crédito e os bancos têm adotado estratégias diferentes nos últimos anos: enquanto o cooperativismo faz questão de se aproximar de seu público, as instituições financeiras tradicionais retraem os canais de contato presencial.
A recente expansão do cooperativismo de crédito é tão palpável que hoje podemos falar em um “Clube dos 100”, o grupo composto pelas cooperativas singulares com pelo menos uma centena de postos de atendimento. Atualmente, esse clube reúne seis instituições.
Conheça as cooperativas que fazem parte do “Clube dos 100” e entenda qual é a estratégia por trás desse movimento de mercado que vai na contramão dos bancos. Boa leitura!
A multiplicação das cooperativas de crédito
Os números confirmam: o número de postos de atendimento de cooperativas de crédito no Brasil cresce a cada ano. A trajetória ascendente se destaca especialmente nos últimos cinco anos. De acordo com dados do Banco Central, o setor fechou 2024 com 9.467 postos, valor que representa crescimento de 56,09% na comparação com dezembro de 2019 – quando havia 6.065 espaços para atendimento presencial.
A alta é liderada por Sicoob e Sicredi, as maiores cooperativas do setor de crédito no Brasil. Nove das dez singulares com mais postos de atendimento fazem parte de algum desses sistemas – cinco da Sicredi e quatro do Sicoob. A única exceção fica a cargo da Viacredi, uma cooperativa integrante do Sistema Ailos.
O alcance do movimento cooperativista se expande mesmo com a diminuição no número de instituições singulares, que, de acordo com o Banco Central, saiu de 872 em 2019 para 753 em 2024 (queda de 13,64%). Os dados podem parecer contraintuitivos, mas na realidade refletem uma tendência do setor: a unificação e a incorporação de cooperativas é uma prática comum para ajudar cooperativas singulares com dificuldades financeiras e aumentar a eficiência operacional.
Além disso, o aumento na capilaridade do cooperativismo de crédito dá amostra de um setor em franca ascensão. O mais recente relatório do Banco Central sobre o Sistema Nacional de Cooperativas de Crédito, relativo a 2023, mostra que o segmento cresce em ritmo superior ao restante do Sistema Financeiro Nacional, aumentando sua fatia nos ativos totais do mercado pelo quinto ano consecutivo.
A trajetória crescente e consistente ajuda a explicar de onde vêm os recursos para investir em novos postos de atendimento. Mas qual é a motivação por trás desse movimento? Conquistar novos cooperados através da construção da proximidade.
O olho no olho não pode ser substituído
Se o cooperativismo tem como princípio o interesse pela comunidade, é natural que suas instituições busquem a proximidade com o cooperado. Esse contato deve ser genuíno, desenvolvendo uma verdadeira conexão entre o público, o movimento cooperativista e os serviços prestados pela organização.
No setor de crédito, essa busca por uma relação especial se reflete na construção de espaços de contato presencial. Por mais que os avanços tecnológicos do setor financeiro transportem as operações financeiras para a palma da mão, através dos celulares, o cooperativismo aposta na contramão – sem ignorar o progresso da tecnologia, é claro. Sua fórmula para transformar potenciais clientes em cooperados é por meio do atendimento personalizado, com comunicação ágil, disponibilidade e sensação de tratamento especial.
Essa lógica se fortalece quando consideramos que, ao expandir sua capilaridade, o cooperativismo de crédito chega a municípios com pouca ou nenhuma cobertura de bancos. De acordo com dados do banco Central de 2023, as cooperativas são a única alternativa de atendimento presencial em 368 municípios. A atenção e a disponibilidade fidelizam públicos que, por vezes, ainda não estão totalmente habituados aos meios digitais.
Vale ressaltar que o recorte temporal destacado ao longo deste artigo inclui dois anos (2020 e 2021) inteiramente impactados pela pandemia e pelas restrições de circulação social. Mesmo diante das dificuldades para se estabelecer o contato humano, o cooperativismo permaneceu firme em sua convicção e investiu para a construção de postos de atendimento.
Quem está no “Clube dos 100” das cooperativas de crédito
Ao todo, 545 cooperativas singulares possuem postos de atendimento no Brasil, mas poucas podem dizer que têm uma centena de unidades para interagir e conquistar cooperados. Esse seleto “Clube dos 100” é composto por apenas seis cooperativas, segundo a Coonecta apurou com dados do Banco Central e em com informações das próprias cooperativas.
Durante abril e início de maio, a Coonecta entrou em contato com cooperativas do setor para obter números deste ano e fornecer uma parcial atualizada sobre quais são as singulares que possuem 100 ou mais postos de atendimento. Veja os números e conheça detalhes sobre as instituições que integram o Clube dos 100:
Sicoob Credicitrus
Membro do “Clube dos 100” durante toda esta década, o Sicoob Credicitrus possui 129 postos de atendimento e ocupa o topo do ranking nacional desde 2020. O grande salto ocorreu justamente naquele ano, quando criou 50 postos em apenas 12 meses – de 66 para 116 –, mesmo durante a pandemia.
Sediada em Bebedouro, no interior de São Paulo, a cooperativa também atende mais de 160 mil cooperados em Minas Gerais e no Mato Grosso do Sul. A Credicitrus surgiu em 1983 como uma instituição financeira vinculada à Coopercitrus, cooperativa agropecuária. A singular faz parte do Sistema Sicoob há mais de 15 anos e adotou a atual nomenclatura em 2010.
Sicredi Dexis
A Sicredi Dexis é a singular com menor variação percentual de 2019 para cá (3,67%) dentro do “Clube dos 100”. Mas isso se explica com base na consistência: afinal, é a única cooperativa que alcançou a marca centenária antes de 2020. Eram 109 postos de atendimento em dezembro de 2019 e hoje são 113.
Fundada em 1985, a Sicredi Dexis já surgiu vinculada ao Sistema Sicredi. A cooperativa está sediada em Maringá – onde, inclusive, inaugurou um novo e moderno prédio em 2023 – e atende mais de 300 mil associados em Paraná e São Paulo.
Sicoob UniCentro Br
O Sicoob UniCentro Br é o exemplo mais gritante de como o cooperativismo de crédito almeja ocupar espaços físicos. Em pouco mais de cinco anos, a cooperativa saiu de 32 para 111 postos de atendimento, aumento de 246,88%. O agressivo plano de expansão ajudou a firmar a singular entre as principais do Sistema Sicoob.
O UniCentro Br inicialmente surgiu em Goiânia, em 1982, como uma cooperativa financeira voltada à comunidade médica. Seu escopo de atuação foi se ampliando com o tempo, e hoje são mais de 130 mil cooperados atendidos em Goiás, Distrito Federal, Minas Gerais, São Paulo e Tocantins.
Viacredi
Única cooperativa ‘centenária’ que não faz parte dos sistemas Sicoob ou Sicredi, a Viacredi, que integra o Sistema Ailos, possui 110 postos de atendimento, segundo dados fornecidos pela própria cooperativa. Na contagem do Banco Central referente a dezembro de 2024, eram 115 estabelecimentos. A singular integra o “Clube dos 100” desde 2020.
A Viacredi foi fundada em 1951, em Blumenau, por funcionários da Companhia Hering. A cooperativa se desenvolveu e hoje conta com mais de 966 mil cooperados, atuando em Santa Catarina e Paraná.
Sicoob MaxiCrédito
Após expansão significativa entre 2019 e 2021 – saindo de 76 para 96 postos de atendimento mesmo durante a pandemia –, o Sicoob MaxiCrédito mantém o número de 101 postos desde 2023.
O MaxiCrédito foi fundado por cooperados da Cooperalfa, uma associação agroindustrial, em 1984, sob o nome de Credialfa. A cooperativa de crédito alcançou mercados além de Chapecó, atendendo hoje aproximadamente 270 mil cooperados em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul.
Sicredi Vale do Piquiri Abcd PR/SP
A Sicredi Vale do Piquiri Abcd PR/SP é a mais nova integrante do “Clube dos 100”. Após fechar o último relatório do Banco Central com 97 unidades de atendimento, a cooperativa manteve sua expansão gradual e chegou a 100 postos. O centésimo foi inaugurado em Palotina (PR).
A cidade paranaense é, inclusive, o berço da história da Sicredi Vale do Piquiri Abcd PR/SP. A cooperativa surgiu em 1988 como uma forma de estimular o desenvolvimento econômico da região. Atualmente, são 57 postos de atendimento no Paraná e 43 em São Paulo à disposição dos mais de 260 mil associados.
O que explica o ‘sumiço’ dos bancos
A marca alcançada pelas cooperativas do “Clube dos 100” já seria significativa por si só, sendo uma amostra da força do cooperativismo no mercado financeiro. Entretanto, o movimento do setor é especialmente chamativo por ir na contramão da estratégia adotada pelos seus principais concorrentes, os grandes bancos.
Sob basicamente qualquer recorte, incluindo o valor dos ativos das instituições, os cinco principais bancos do país são Itaú, Banco do Brasil, Bradesco, Caixa e Santander. Segundo dados do Banco Central, a cobertura presencial – incluindo agências e postos de atendimento – dessas instituições somadas caiu 20,88% entre dezembro de 2019 e dezembro de 2024, saindo de 24.075 unidades para 19.048. Com exceção da Caixa, a queda na capilaridade de cada uma dessas organizações foi superior a 15%.
Há uma tendência compartilhada em enxugar o número de agências. Nas instituições ligadas ao Governo Federal, os cortes são mais brandos, com redução de 3,38% na Caixa e 8,25% no Banco do Brasil. Já nas organizações privadas, a redução é significativa, chegando a 48,26% no Bradesco e 34,14% no Itaú.
Nota-se que Caixa e Itaú foram os únicos a elevar a quantidade de postos de atendimento. Esses espaços são subordinados a agências, possuem estrutura simplificada e não oferecem produtos bancários mais sofisticados. O Itaú, por outro lado fechou 2024 com 1.115 postos, 24,72% a mais do que possuía em 2019. Já a Caixa alcançou a marca de 918 postos (alta de 19,84%), impulsionando o banco a ser o único dos cinco gigantes a ocupar mais espaços presenciais em 2024 do que em 2019 (4.179 contra 4.141).
Cooperativas de crédito na contramão
A troca de agências por postos de atendimento, portanto, indica o grande motivo por trás da tendência: corte de custos. A redução de despesas com estrutura e pessoal justifica a redução da cobertura presencial, especialmente em um contexto de crescente digitalização dos serviços bancários.
Atualmente, é possível fazer grande parte das transações através de aplicativos e do internet banking. A importância dos meios digitais acabou ressaltada pela pandemia, que obrigou todos, mesmo quem prefere ir a agências, a resolver suas questões financeiras virtualmente.
Diante de um cenário em comum, bancos e cooperativas de crédito têm respondido de formas diferentes. Ao não abrir mão dos benefícios do contato presencial, o cooperativismo se posiciona como uma oposição à tendência.
Em meio às inovações e aos novos hábitos, as cooperativas de crédito têm trabalhado para desenvolver soluções tecnológicas e oferecer praticidade ao associado virtualmente. Porém, para quem não deseja fazer tudo online, sente necessidade do olho no olho e quer atenção especial, o cooperativismo tem se mostrado a melhor alternativa.
Conclusão: os melhores insights sobre as cooperativas de crédito
Se você chegou até aqui, certamente possui interesse em conhecer as tendências e as novidades que circundam o cooperativismo de crédito. Diante disso, a Coonecta está organizando o evento ideal para você: o Cooptech Crédito!
O evento reunirá palestrantes de destaque no setor e terá como tema principal a expansão e a consolidação das cooperativas de crédito sob o viés da prosperidade. O Cooptech Crédito acontecerá entre 21 e 22 de maio, no Amcham Center, em São Paulo-SP. Clique aqui e aproveite, os últimos ingressos ainda estão disponíveis!
Fonte: coonecta.me