Crédit Agricole comemora 140 anos de história

Crédit Agricole comemora 140 anos de história

França 2025: Crédit Agricole comemora 140 anos de história reafirmando suas raízes cooperativistas, com proximidade e compromisso com a Agricultura.

A França é o berço do maior banco cooperativo do mundo: o Crédit Agricole. Considerado o décimo maior banco global em ativos, é também o principal sistema de crédito cooperativo da França.

Com cerca de 12 milhões de associados e aproximadamente 8.000 agências espalhadas por todo o país, o Crédit Agricole mantém forte presença em todos os 101 departamentos franceses. No crédito rural, sua liderança é absoluta: o Crédit Agricole responde por cerca de 70% de todo o financiamento agrícola do país. Já nas demais operações bancárias, sua participação de mercado gira em torno de 30%, consolidando sua relevância não apenas no setor agrícola, mas em toda a economia francesa.

Crédit Agricole

A França é um país do tamanho de Minas Gerais ou da Bahia

Com uma área de aproximadamente 551 mil quilômetros quadrados (equivalente aos estados de Minas Gerais ou Bahia), a França possui cerca de 34.955 comunas (equivalentes aos municípios no Brasil), que são as menores unidades administrativas do país. Essas comunas variam enormemente em tamanho e população, desde grandes cidades como Paris, com milhões de habitantes, até pequenas aldeias com menos de cem moradores. Essa estrutura reflete a diversidade e a complexidade do território francês. O Crédit Agricole, com suas milhares de agências espalhadas por todo o país, garante uma presença sólida e próxima às comunidades, atendendo desde grandes centros urbanos até as menores localidades rurais. Essa abrangência destaca o compromisso do banco em estar presente em cada canto da França, oferecendo serviços financeiros adaptados às necessidades locais.

O Crédit Agricole é formado por 39 Caixas Regionais

A base da organização do Crédit Agricole está em seu modelo cooperativo federativo, construído de forma ascendente. Ele é composto por 2.512 Caixas Locais, que funcionam como núcleos de delegados — espaços onde os associados participam diretamente das decisões e elegem seus representantes. Essas caixas estão organizadas em 39 Caixas Regionais, que são equivalentes às cooperativas de crédito no Brasil, atuando com autonomia em cada região da França e oferecendo produtos e serviços financeiros adaptados às características locais.

Acima das Caixas Regionais está a Fédération Nationale du Crédit Agricole (FNCA), que representa as Caixas Regionais e o grupo perante as autoridades públicas e outras organizações.

Atuação do Crédit Agricole em nível mundial

No topo da estrutura está a Crédit Agricole S.A., uma sociedade anônima com ações negociadas em bolsa de valores, responsável por coordenar as atividades do grupo em âmbito nacional e internacional. Essa organização permite combinar a proximidade territorial com a força e a estabilidade de um grande grupo financeiro.

Fora da França, o Crédit Agricole está presente em mais de 30 países, incluindo economias da Europa, Ásia, América do Norte e América Latina. Nesses mercados, ao contrário do modelo cooperativo adotado em seu país de origem, o grupo atua por meio de sociedades anônimas e subsidiárias bancárias tradicionais. Essa estrutura internacional permite ao Crédit Agricole oferecer uma ampla gama de produtos e serviços financeiros, especialmente voltados ao financiamento de grandes empresas, comércio internacional, gestão de ativos e operações de mercado. Dessa forma, o grupo combina seu enraizamento local na França com uma presença global estratégica e adaptada às exigências de cada país.

Crédit Agricole comemora 140 anos de história

A origem do Crédit Agricole remonta a 1885, quando foi criada, em Salins-les-Bains, no departamento de Jura, a primeira Caisse Locale de crédito agrícola. A iniciativa liderada por Louis Milcent e Alfred Bouvet surgiu da necessidade de oferecer financiamento acessível aos pequenos agricultores franceses, que até então eram excluídos do sistema bancário tradicional.

Louis Micent era professor, jornalista e economista, profundamente envolvido com questões sociais e agrícolas e Alfred Bouvet era funcionário do Ministério da Agricultura e foi o braço técnico e institucional por trás da estruturação legal do sistema.

Inspirado no modelo cooperativo de Friedrich Wilhelm Raiffeisen, da Alemanha, o Crédit Agricole adotou princípios como responsabilidade solidária, autogestão e atuação comunitária. Inicialmente restritas a pequenos territórios, essas caixas locais cresceram rapidamente, graças ao apoio de lideranças locais e à demanda reprimida por crédito no campo.

Expansão das Caixas Locais do Crédit Agricole

Entre 1885 e 1899, o que houve foi um verdadeiro movimento de base. As primeiras Caixas Locais se multiplicaram de forma voluntária, apoiadas por lideranças locais — padres, prefeitos, agrônomos e sindicalistas — que viam no modelo cooperativo uma solução para a exclusão financeira dos pequenos agricultores.

A expansão foi desigual: em algumas regiões, o modelo avançou rapidamente, principalmente onde havia maior organização camponesa e influência do pensamento católico social. Louis Milcent, por exemplo, continuou atuando como articulador e defensor do sistema, promovendo o cooperativismo como uma alternativa ética ao sistema bancário tradicional. No entanto, essas cooperativas enfrentavam sérios obstáculos: não havia regulamentação, os recursos eram escassos, e as garantias oferecidas pelos agricultores eram limitadas. Foi nesse contexto que surgiram pressões para o Estado intervir e apoiar a estruturação do sistema.

Apoio do Governo Francês

Em 31 de março de 1899, o governo francês promulgou a lei que autorizou a criação das Caixas Regionais de Crédito Agrícola. Essa legislação teve um impacto significativo na estrutura do sistema de crédito agrícola francês. O governo, reconhecendo a importância do financiamento agrícola para o desenvolvimento rural, implementou medidas para fortalecer e expandir o modelo cooperativo.

Uma das ações mais notáveis foi a determinação de que o Banco da França fornecesse ao Crédit Agricole um fundo inicial de 40 milhões de francos-ouro, além de um pagamento anual de 2 milhões de francos. Esses recursos foram destinados a apoiar as Caixas Regionais e facilitar o acesso dos agricultores ao crédito necessário para suas atividades.

Além disso, a lei de 1899 estabeleceu uma comissão dentro do Ministério da Agricultura para supervisionar a distribuição desses fundos entre as novas Caixas Regionais. Essa estrutura organizacional proporcionou uma base sólida para o crescimento e a consolidação do sistema de crédito agrícola na França, permitindo que o Crédit Agricole expandisse suas operações e atendesse de forma mais eficaz às necessidades dos agricultores franceses.

Criação da Caisse Nationale de Crédit Agricole (CNCA)

Em 5 de agosto de 1920, foi promulgada a lei que criou o Office National du Crédit Agricole, posteriormente rebatizado como Caisse Nationale de Crédit Agricole (CNCA) em 1926. Essa nova entidade passou a funcionar como um órgão público vinculado ao Estado francês, sob tutela do Ministério da Agricultura.

A missão da CNCA era coordenar nacionalmente as operações das Caixas Regionais, funcionando como central de refinanciamento e garantindo a coesão do sistema cooperativo. A criação da CNCA respondeu à necessidade de dar mais autonomia ao crédito agrícola, padronizar as práticas operacionais e facilitar a circulação de recursos entre as regiões.

A reorganização institucional permitiu ao Crédit Agricole ampliar suas atividades, como o financiamento da eletrificação rural em 1923 e a concessão de empréstimos habitacionais a trabalhadores rurais em 1928, promovendo o desenvolvimento do meio rural e combatendo o êxodo das populações camponesas. Anos mais tarde, em 1988, essa entidade daria origem à atual Crédit Agricole S.A., marcando uma nova etapa na estrutura do grupo.

A grande depressão de 1929

A crise econômica mundial de 1929, conhecida como Grande Depressão, teve reflexos profundos também no meio rural francês. Com a queda dos preços agrícolas, muitos produtores enfrentaram dificuldades para honrar seus compromissos financeiros, o que gerou instabilidade entre as Caixas Locais e Regionais.

Para enfrentar esse cenário, o Estado francês reforçou o papel da CNCA como central de estabilização do sistema, ampliando o volume de recursos públicos destinados ao refinanciamento das cooperativas.

Em 1935, foi criado um fundo de garantia conjunto entre as Caixas Regionais, com o objetivo de oferecer segurança ao sistema como um todo e evitar que quebras pontuais contaminassem outras regiões. Esse mecanismo de solidariedade financeira entre cooperativas fortaleceu ainda mais o modelo mutualista, que demonstrou resiliência diante da crise.

Segunda Guerra Mundial e a criação da Fédération Nationale du Crédit Agricole

Após a Segunda Guerra Mundial, assim como já tinha feito durante a Primeira Grande Guerra, o Crédit Agricole desempenhou um papel crucial na reconstrução da França. Com a necessidade de modernizar a agricultura e financiar a reconstrução rural, o banco intensificou a coleta de depósitos para complementar os recursos estatais.

Durante as duas guerras mundiais, a área rural da França foi duramente atingida, com áreas produtivas destruídas, agricultores mortos ou incapacitados, com escassez de recursos para a reconstrução da fazendas, recuperação do solo e compra de animais, resultando em um país empobrecido. O Crédit Agricole reafirmou seu compromisso com o meio rural e ganhou papel central no financiamento agrícola, passando a atuar como pilar estratégico para a segurança alimentar da França.

As Caixas Regionais expandiram significativamente, aumentando de 1.000 em 1947 para 2.259 em 1967. Além disso, em 1948, foi criada a Fédération Nationale du Crédit Agricole, que representou as Caixas Regionais perante o governo e a CNCA, e atuou na formação de pessoal e ampliação das competências do banco.

Em 1959, um decreto permitiu ao Crédit Agricole financiar empréstimos imobiliários para residências principais em áreas rurais, independentemente do status do proprietário, incluindo não-agricultores. Essas ações foram fundamentais para a modernização do setor agrícola francês no pós-guerra.

Transformação estratégica do Crédit Agricole

A década de 1960 marcou o início de uma transformação estratégica no Crédit Agricole, acompanhando as mudanças que ocorriam no campo francês. Com o avanço da mecanização agrícola, a diminuição da mão de obra no meio rural e o crescimento das cidades, o banco passou a ampliar seu escopo de atuação para além da agricultura.

Em 1966, o Crédit Agricole obteve autorização para oferecer crédito habitacional a não agricultores, especialmente em zonas rurais. Essa medida foi fundamental para fixar populações no interior e apoiar a melhoria da qualidade de vida fora dos grandes centros. Foi também nessa década que o banco começou a oferecer serviços financeiros mais diversificados, como contas-correntes, cartões e seguros, dando os primeiros sinais de que se tornaria, progressivamente, um banco de uso amplo, e não apenas agrícola.

Crédit Agricole: “O bom senso perto de você”

Nos anos 1970, o Crédit Agricole consolidou sua imagem como um banco próximo das pessoas, com forte presença territorial. Em 1976, lançou seu emblemático slogan ‘Le bon sens près de chez vous’, que em português significa ‘O bom senso perto de você’.

Essa frase refletia não apenas a identidade do banco, mas também sua estratégia: reforçar a proximidade com os clientes em todas as regiões da França, oferecendo soluções financeiras simples, compreensíveis e adaptadas ao cotidiano das famílias. Durante essa década, o banco intensificou sua presença em zonas semiurbanas e passou a dialogar mais diretamente com pequenos comerciantes, trabalhadores e aposentados, ampliando sua base de clientes além do setor agrícola.

A transformação da CNCA em uma sociedade anônima

A década de 1980 marcou um ponto de inflexão na estrutura institucional do Crédit Agricole. Até então, a Caisse Nationale de Crédit Agricole (CNCA) funcionava como uma entidade pública sob a tutela do Estado. Em 1988, como parte de um amplo movimento de modernização do setor bancário francês, a CNCA foi transformada em uma sociedade anônima.

Esse processo, conhecido como mutualização, significou que as cooperativas — que já eram donas de sua estrutura local — passaram a ser também donas da estrutura central, que manteve o nome CNCA, mas que passou a atuar como sociedade anônima. Assim nasceu o que mais tarde passou a ser o Crédit Agricole S.A. (CASA), controlada majoritariamente pelas Caixas Regionais. A nova organização trouxe mais agilidade à gestão, ampliou o acesso ao mercado de capitais e fortaleceu a posição do grupo diante das exigências de um sistema financeiro cada vez mais competitivo.

Ampliação da diversificação

Na década de 1990, o Crédit Agricole consolidou seu processo de diversificação e expansão no mercado financeiro francês. A partir da mutualização da CNCA, o grupo passou a operar com maior liberdade no ambiente urbano e industrial, ampliando sua presença entre o público não agrícola.

O portfólio de produtos cresceu com a oferta de soluções para empresas, investimentos, previdência e seguros, enquanto novas agências foram abertas em grandes cidades. Em 1990, foi criada a Pacifica, subsidiária especializada em seguros patrimoniais e de responsabilidade civil, fortalecendo ainda mais a atuação do grupo no segmento de bancassurance. Essa transição permitiu ao Crédit Agricole posicionar-se como um banco universal, sem perder sua identidade cooperativa e seu compromisso com o desenvolvimento territorial.

A holding Crédit Agricole S.A. (CASA)

Nos anos 2000, o Crédit Agricole avançou em sua estruturação como grupo financeiro de alcance global. Em 2001, foi formalmente criada a holding Crédit Agricole S.A. (CASA), com ações listadas na bolsa de Paris, consolidando sua presença nos mercados de capitais.

Essa nova configuração permitiu ao grupo captar recursos com maior eficiência, ampliar suas operações internacionais e desenvolver áreas estratégicas como gestão de ativos, banco de investimento e serviços corporativos. Apesar da abertura de capital, a governança permaneceu ancorada no modelo cooperativo: as Caixas Regionais continuaram controlando a maior parte das ações com direito a voto, garantindo que os princípios mutualistas seguissem guiando as decisões centrais do grupo.

Maior atuação do Crédit Agricole internacionalmente

A partir de 2010, o Crédit Agricole intensificou sua atuação internacional e sua transformação digital. O grupo passou a investir fortemente em canais digitais, aplicativos bancários, inteligência de dados e soluções para atender tanto clientes urbanos quanto agricultores conectados ao agronegócio moderno.

Paralelamente, reforçou seu compromisso com as finanças sustentáveis, posicionando-se como um dos primeiros grandes bancos europeus a adotar metas de redução de emissões e financiamento de projetos com impacto ambiental e social positivo.

Em 2019, o grupo reformulou sua missão institucional para se definir como ‘um banco útil e universal’, comprometido com a prosperidade dos territórios, a inclusão financeira e o desenvolvimento sustentável. Essa nova abordagem reafirma a identidade do Crédit Agricole como um banco cooperativo de relevância global, sem abrir mão de seus princípios fundadores.

Em 2025, o Crédit Agricole celebra 140 anos de uma trajetória marcada pela proximidade com as pessoas, pela inovação contínua e pela fidelidade a seus princípios cooperativos. O que começou em uma pequena comunidade rural do leste da França transformou-se no maior sistema bancário cooperativo do mundo, com presença sólida em todos os territórios franceses e atuação internacional estratégica.

Ao longo de sua história, o grupo provou que é possível aliar escala e eficiência com compromisso social e territorial. Em um mundo cada vez mais desafiador, o Crédit Agricole segue firme em seu propósito: agir a serviço de todos e do futuro da agricultura, mantendo viva a essência do cooperativismo que o originou.


Texto e pesquisas por Márcio Port em colaboração com o Portal do Cooperativismo Financeiro (cooperativismodecredito.coop.br

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