Banco Central vê cooperativas de crédito como protagonistas do SFN: o sistema financeiro já olha as cooperativas como concorrentes.
A afirmação partiu de Adalberto Felinto da Cruz Júnior, chefe do Departamento de Supervisão de Cooperativas e Instituições Não Bancárias (Desuc) do Banco Central do Brasil, durante o evento Cooptech Crédito 2025, realizado em São Paulo. A fala reflete uma nova realidade: as cooperativas de crédito deixaram de ser consideradas atores marginais e passaram a ocupar um papel central no desenho do futuro do sistema financeiro brasileiro.
A transformação é evidente nos números: a participação do Sistema Nacional de Crédito Cooperativo (SNCC) no volume total de crédito do país saltou de 5,9% em 2015 para 12,9% em 2025 — um crescimento expressivo e consistente, ano após ano. Para o Banco Central, essa trajetória não apenas continuará, como deve se acelerar. A meta projetada é clara: atingir 20% de participação no crédito total e 40% no crédito tomado por cooperados, atualmente em 28,3%.
“As cooperativas já provaram que são capazes de crescer com solidez, fomentar o desenvolvimento regional e entregar melhores condições aos seus associados. O sistema financeiro reconhece isso — e, naturalmente, passa a vê-las como concorrentes diretas.”
— Adalberto Felinto
Inclusão financeira e desenvolvimento regional: o DNA cooperativo
A aposta do Banco Central no cooperativismo de crédito não é ideológica, mas técnica. Estudos da própria instituição mostram que, em municípios onde há presença significativa de cooperativas de crédito, os resultados sociais e econômicos são superiores:
- Taxas de juros mais baixas e maior oferta de crédito a pequenos negócios e produtores;
- Melhores indicadores no Índice Sebrae de Desenvolvimento Econômico Local (ISDEL);
- Estímulo à inclusão financeira, sobretudo em cidades pequenas e médias, onde os bancos tradicionais têm fechado agências.
Além da rede física, o modelo cooperativo se destaca por valorizar o relacionamento, a confiança e a participação democrática, pilares que se mantêm mesmo em ambientes altamente digitalizados.
“O que os bancos chamam de ‘interior’, nós chamamos de casa.”
— Frase recorrente no setor cooperativo, que resume sua lógica de pertencimento e presença comunitária.
Open Finance e inovação: desafios que se transformam em oportunidade
Apesar dos avanços, as cooperativas ainda estão aquém dos grandes bancos no uso pleno do Open Finance, conforme reconhecido por Janaína Pimenta Attie, consultora do Departamento de Regulação do SFN do Bacen.
O Open Finance, parte da Agenda BC#, tem se mostrado um instrumento poderoso para gerar eficiência, reduzir assimetrias de informação e aumentar a competitividade entre as instituições financeiras. Os dados são robustos: de 2023 a 2025, os consentimentos ativos dobraram de 27 para 54 milhões, e os cadastros totais saltaram de 42 para 81 milhões.
Janaína destacou que, embora as cooperativas estejam representadas nos conselhos de governança do Open Finance, ainda enfrentam dificuldades para priorizar os investimentos necessários para avançar com velocidade.
No entanto, os caminhos estão dados:
- Pix automático
- Portabilidade de crédito
- Soluções personalizadas para PJ (Pessoa Jurídica)
- Marketplace de crédito
Todos esses pontos podem beneficiar diretamente o cooperativismo, desde que haja mobilização, foco e visão estratégica.
Finanças sustentáveis: a nova fronteira do protagonismo
A chefe da unidade de sustentabilidade e investidores internacionais do Banco Central, Isabela Damaso, reforçou outro ponto-chave: o papel das finanças sustentáveis no futuro do SFN. A nova visão do Bacen é clara: não basta buscar estabilidade e rentabilidade — é preciso fazer isso com impacto socioambiental positivo.
Isabela destacou o papel que as cooperativas já exercem nesse campo. Exemplos mencionados:
- Sicredi: emissão de letras financeiras sustentáveis e relatórios ESG com padrões internacionais;
- Sicoob: boas práticas de governança ESG e adesão à pauta de finanças verdes;
- Cresol: investimentos em energias renováveis em suas unidades operacionais.
Essas práticas se tornarão ainda mais valorizadas com o lançamento da primeira versão do sistema brasileiro de taxonomia sustentável, previsto para agosto de 2025. O sistema será dinâmico e reconhecerá projetos com alto impacto climático, social e ambiental.
“O cooperativismo está pronto para liderar essa transformação. E o caminho passa por uma governança robusta e estratégica.”
— Isabela Damaso
Governança: o elemento-chave para a perenidade
Se inovação e sustentabilidade são os trilhos, a governança é o motor que impulsiona as cooperativas. O Banco Central enfatiza que o protagonismo futuro do SNCC dependerá da maturidade das suas estruturas decisórias, da transparência na divulgação de resultados, da capacitação transversal das lideranças e da formação de uma cultura organizacional orientada a propósitos e resultados.
A repetição estratégica de objetivos, metas e valores é vista como essencial para consolidar uma identidade cooperativa forte, reconhecida não apenas pelo discurso, mas também pela prática e pelos indicadores.
Um novo tempo para o cooperativismo
A presença destacada do Banco Central no Cooptech Crédito 2025 confirma o que o setor já vem percebendo há anos: as cooperativas de crédito não são coadjuvantes — são protagonistas de uma nova economia, mais inclusiva, justa e resiliente.
Ao conciliar presença territorial, impacto social, inovação e governança, as cooperativas de crédito têm todas as condições para liderar uma transformação que vai muito além do setor financeiro — é uma transformação de sociedade.
Agora, o desafio é acelerar a digitalização, ampliar a visibilidade institucional e manter o propósito cooperativo vivo em todas as suas decisões.
Elaborado pelo Portal do Cooperativismo Financeiro com informações do Coonecta.me