Márcio Port

Reconhecer que não fazemos nada sozinhos, por Márcio Port

Ao longo da história, o cooperativismo tem se mostrado uma das mais poderosas formas de organização social e econômica já criadas — não por ser um modelo impositivo, mas por nascer do espírito genuíno de colaboração entre pessoas comuns. São gerações de cooperados, muitas vezes anônimos, que se dedicaram com generosidade e coragem para construir, juntos, um mundo mais justo, próspero e solidário.

Tomemos como exemplo as cooperativas centenárias, que resistiram ao tempo enfrentando guerras, crises econômicas, transformações sociais, pressões normativas, repressões políticas e mudanças climáticas. Em nenhuma dessas situações as pessoas desistiram. Ao contrário, muitas doaram boa parte de suas vidas à causa cooperativista, firmes na convicção de que a união é o melhor caminho para enfrentar as adversidades. É impossível não se emocionar com a dimensão desse legado.

Todos nós somos herdeiros desse esforço coletivo. Cabe à nossa geração reconhecer esse patrimônio histórico, honrar os que vieram antes de nós e assumir a responsabilidade de preparar o terreno para os que virão depois. Assim como plantar uma árvore é um ato de fé no futuro, o cooperativismo é construído com o esforço de diferentes gerações, que plantam hoje as sementes para que as próximas possam colher os frutos e aproveitar a sombra. Essa analogia representa o legado de cooperação e o compromisso com um futuro mais próspero e sustentável, onde cada contribuição, por menor que pareça, faz parte de uma construção maior que atravessa o tempo.

Vivemos hoje um dos melhores momentos de reconhecimento do cooperativismo financeiro pela sociedade, ocupando com eficiência e sensibilidade espaços que os bancos têm deixado, especialmente em pequenos municípios e comunidades mais afastadas dos grandes centros. Estamos presentes onde muitos preferem não estar, oferecendo mais do que serviços financeiros: oferecemos pertencimento, participação e desenvolvimento local.

E é justamente por conta dessa união de forças e do trabalho conjunto que o cooperativismo se mostra um modelo forte, moderno e resiliente para enfrentar os desafios do mundo contemporâneo. Em tempos de instabilidade econômica, transformações tecnológicas aceleradas e crescentes desigualdades sociais, o cooperativismo atua como um verdadeiro mitigador das dificuldades econômicas e sociais, promovendo inclusão, equidade e oportunidades reais para todos.

Neste ano em que celebramos o Ano Internacional das Cooperativas, reforçamos os valores universais que sustentam nosso movimento: ajuda mútua, solidariedade, equidade, democracia e intercooperação. Valores que não apenas resistem ao tempo, mas se tornam cada vez mais relevantes diante dos desafios do presente.

“Todos os dias nós precisamos ir a uma loja para comprar alimentos e outros artigos — por que não poderíamos ir à nossa própria loja? Precisamos mandar nossos filhos para a escola — por que não podemos ter a nossa própria escola, onde possamos educá-los em ofícios úteis e formá-los como bons trabalhadores e jovens responsáveis? […]
Se continuarmos como fazemos agora, a cada ano tornará nossa situação mais angustiante e aproximará nossos filhos da miséria e do crime. Se nos unirmos, como tenho mostrado que podemos fazer, seja em uma sociedade ou em uma comunidade, em poucos anos teremos capital, conforto e independência.”

— William King, Revista The Co-operator – Inglaterra, 1828

Essa frase de William King expressa com clareza o que muitos de nós sentimos ao fazer parte do cooperativismo: o orgulho de integrar algo maior do que nós mesmos com o objetivo de alcançar prosperidade e construir um mundo melhor. Um movimento que nos envolve, nos responsabiliza e nos inspira.

Reconhecer que não fazemos nada sozinhos é reconhecer que, quando caminhamos juntos, vamos mais longe. E que o legado que deixamos hoje será a base sobre a qual as próximas gerações construirão um mundo ainda melhor.

Que possamos hoje nos orgulhar de estarmos plantando as sementes que permitirão que nossos filhos e netos colham e vivam em um mundo melhor, mais justo e mais próspero.

Parabéns e obrigado a todos que fazem do cooperativismo este modelo econômico e social cada vez mais moderno e presente na vida das pessoas.

Que neste Dia Internacional do Cooperativismo, comemorado sempre no primeiro sábado do mês de julho, possamos falar sobre o cooperativismo para um número ainda maior de pessoas.


Márcio Port, é presidente da Central Sicredi Sul/Sudeste e autor do livro “Cooperativismo Financeiro, uma história com propósito, publicado em 2022, e coautor dos livros “Cooperativismo de Crédito Ontem, Hoje e Amanhã”, publicado em 2012 e “Cooperativismo Financeiro: percurso histórico, perspectivas e desafios“, publicado em 2014.

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