WCUC Conferência Mundial das Cooperativas de Crédito

Bacen participa de painel sobre regulação na Conferência do Woccu na Suécia

Bacen participa de painel sobre regulação na Conferência do Woccu na Suécia

De 14 a 16 de julho de 2025, a cidade de Estocolmo, na Suécia, está sendo o palco da WCUC 2025 – Conferência Mundial das Cooperativas de Crédito, promovida pelo WOCCU (World Council of Credit Unions). O evento reúne autoridades regulatórias e lideranças do cooperativismo financeiro mundial para discutir os desafios e oportunidades diante de um cenário global em transformação.

Entre os painéis de destaque está “Entendendo os Desenvolvimentos Regulatórios Atuais ao Redor do Mundo”, que reuniu representantes de diferentes países para debater os rumos da supervisão cooperativa em tempos de transformação digital, novos riscos e busca por inclusão financeira. Participaram do painel:

  • Carolina Pancotto Bohrer (Banco Central do Brasil)
  • Elaine Byrne (Banco Central da Irlanda)
  • Patrick Kilemi (Ministério das Cooperativas e MPMEs do Quênia)
  • Dave Grace (International Credit Union Regulators’ Network)
  • Moderação: Paul Andrews (WOCCU)

Participação brasileira em destaque

O painel contou com a participação da Carolina Pancotto Bohrer, atualmente Chefe do Departamento de Organização do Sistema Financeiro (Deorf) no Banco Central do Brasil, cargo que ocupa desde 19 de julho de 2021.

Durante sua fala, Carolina destacou o papel estratégico das cooperativas de crédito brasileiras no avanço da inclusão financeira, especialmente em regiões remotas. Citou que atualmente, em 469 municípios do Brasil, as cooperativas são a única alternativa física para acesso a produtos e serviços financeiros, o que reforça seu impacto social e territorial.

Ela abordou ainda o desafio da integração entre presença física e transformação digital, ressaltando que o comportamento do brasileiro exige tanto a conveniência dos canais móveis quanto o acolhimento de um atendimento humano qualificado. Nesse cenário, as cooperativas vêm investindo intensamente em soluções tecnológicas para ampliar seu alcance sem perder o vínculo comunitário.

Outro ponto importante foi o modelo de regulação proporcional e segmentado por risco, vigente no Brasil desde 2014. Essa abordagem permite que as obrigações regulatórias sejam adequadas ao porte e à complexidade de cada cooperativa, criando um ambiente mais justo e equilibrado para o desenvolvimento do setor.

Carolina reforçou ainda que a concorrência é uma aliada da resiliência, pois incentiva as cooperativas a se modernizarem e buscarem eficiência. Nesse sentido, o Banco Central tem promovido ajustes regulatórios para fortalecer a capacidade competitiva das cooperativas, como novas modalidades de captação e aprimoramentos na supervisão.

Por fim, mencionou os desafios da adoção do IFRS 9, reconhecendo o impacto nas provisões e no patrimônio líquido das cooperativas, especialmente neste primeiro ano de transição. O Bacen tem adotado medidas de suavização, com o objetivo de garantir uma implementação técnica responsável e sensível à realidade das instituições.

“Acredito que, com uma regulação financeira forte e concorrência assegurada, as cooperativas desempenham um papel muito importante. Esses são dois lados de uma agenda que tem funcionado bem para a resiliência.” – Carolina Bohrer

Visões internacionais: regulação, fusões e garantias

As contribuições dos demais participantes do painel trouxeram uma visão ampla sobre os desafios e caminhos da regulação de cooperativas de crédito em contextos diversos, com destaque para Irlanda, Quênia e cenários multilaterais acompanhados pela International Credit Union Regulators’ Network.

A representante do Banco Central da Irlanda compartilhou a experiência de seu país com o processo de consolidação do setor, que reduziu o número de cooperativas de crédito por meio de transferências voluntárias entre instituições. A reguladora explicou que, embora o banco central não imponha fusões, ele atua de forma proativa em situações críticas e colaborativa em estratégias de fortalecimento, oferecendo orientações e requisitos para que os processos sejam conduzidos com segurança e governança.

O painel também abordou a importância da existência de fundos garantidores, especialmente em países em desenvolvimento. Foi destacada a situação crítica de muitos membros de cooperativas em países que ainda não contam com sistemas de garantia de depósitos, o que representa um risco à confiança dos cooperados e à estabilidade do setor. O Quênia, por exemplo, está desenvolvendo soluções nessa área, aliadas a plataformas de compartilhamento de serviços e infraestrutura tecnológica, para reduzir custos e ampliar a segurança cibernética.

Outro ponto de atenção global é a busca por marcos regulatórios mais modernos, capazes de acompanhar a rápida digitalização e o surgimento de novas tecnologias. Muitos países ainda enfrentam o desafio de adequar leis antigas à nova realidade, enquanto tentam preservar o modelo cooperativo em sua essência.

Em comum, os países representados destacaram a importância de regulações proporcionais, adaptadas ao tamanho e ao risco das cooperativas, e o papel ativo das autoridades em estimular boas práticas de governança, gestão de riscos e inovação.

Outros desafios globais e oportunidades emergentes

Além dos temas centrais já abordados, o painel também destacou riscos emergentes e oportunidades relevantes para o futuro do cooperativismo financeiro no mundo, com forte impacto na agenda regulatória.

Entre os principais desafios citados, ganhou destaque a cibersegurança, considerada uma das maiores preocupações dos reguladores. A dificuldade das cooperativas menores em investir individualmente em proteção digital reforça a necessidade de plataformas tecnológicas compartilhadas.

Também foi abordada a sustentabilidade e os riscos climáticos, que começam a ganhar atenção crescente nas pautas de supervisão. Reguladores alertam para a necessidade de identificar riscos físicos e de transição que afetem ativos e operações.

A falta de acesso a linhas emergenciais de liquidez por parte das cooperativas e a ausência de seguros de depósitos em diversos países representam lacunas importantes para a proteção dos cooperados.

Do lado das oportunidades, foi ressaltado que as cooperativas têm um ativo poderoso: a confiança da sociedade. Em muitos países, lideram os rankings de reputação entre instituições financeiras. Esse capital simbólico pode ser fortalecido com mais inovação e ampliação da oferta de produtos e serviços.

Também se destacou o papel das entidades representativas, como a OCB no Brasil, na interlocução técnica com os reguladores, contribuindo para a construção de normas mais aderentes e sustentáveis.

Por fim, reforçou-se que o caminho da educação e certificação de dirigentes é indispensável para garantir uma governança qualificada, capaz de enfrentar os desafios de um sistema financeiro em constante transformação.


Elaborado pelo Portal do Cooperativismo Financeiro
🔗 Para mais informações, acesse:
https://cooperativismodecredito.coop.br/2025/07/conferencia-do-woccu-sera-em-estocolmo/

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