Confiança: o Alicerce Invisível das Cooperativas de Crédito
De 14 a 16 de julho de 2025, a cidade de Estocolmo, na Suécia, está sendo o palco da WCUC 2025 – Conferência Mundial das Cooperativas de Crédito, promovida pelo WOCCU (World Council of Credit Unions).
Durante os três dias de evento, um conceito se destacou transversalmente em painéis, debates e reflexões: a confiança. Em tempos marcados por crises institucionais, desinformação e distanciamento das estruturas tradicionais, esse valor se reafirmou como o principal pilar do cooperativismo de crédito.
Confiança que sustenta o relacionamento com os cooperados.
Confiança que legitima as lideranças.
Confiança que aproxima gerações e fortalece comunidades.
Mais do que uma palavra-chave, confiança se revelou o verdadeiro diferencial competitivo das cooperativas.
A confiança como valor prático e estratégico
Ao longo da WCUC 2025, ficou evidente que nenhuma transformação digital, inovação em produtos ou mudança estratégica terá impacto real se não estiver alicerçada na confiança. Essa é a base sobre a qual se constroem vínculos duradouros com os cooperados, e também o que garante a legitimidade das cooperativas diante dos reguladores e da sociedade.
Essa perspectiva é reforçada por uma frase já clássica de Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura do Brasil e uma das maiores lideranças do cooperativismo mundial:
“Quando as pessoas procuram uma cooperativa de crédito, elas não vêm para depositar seu dinheiro. Elas vêm para depositar sua confiança.”
Juventude, autenticidade e coerência
Entre as reflexões mais contundentes da conferência, destacou-se a fala de Wellington Holbrook, do sistema canadense Vancity, que apontou para a crescente desilusão dos jovens com o futuro e com as instituições convencionais:
“Em tempos de incerteza e descrença nas instituições tradicionais, as cooperativas de crédito são vistas como espaços legítimos de confiança e esperança.”
Ele reforçou que esse reconhecimento exige coerência entre discurso e prática:
“Os jovens sabem identificar autenticidade. Precisamos viver os nossos valores, e não apenas declará-los em estatutos.”
Confiança também se constrói no digital
Outro ponto amplamente discutido foi o desafio de preservar a confiança no ambiente digital. Em um mundo onde interações acontecem por telas e algoritmos, e em que a identidade digital pode ser facilmente manipulada, a confiança deixou de ser apenas relacional e passou a ser também tecnológica.
Ela precisa ser traduzida em segurança de dados, transparência de processos e ética no uso da inteligência artificial — elementos essenciais para garantir que o cooperado continue confiando na cooperativa mesmo quando não estiver frente a frente com um atendente ou dirigente.
Confiança e cultura organizacional
A importância da confiança também foi abordada na palestra de Eric Termuende, especialista em cultura organizacional e liderança. Com uma metáfora provocadora, ele ilustrou a fragilidade da confiança:
“A confiança é como sushi de posto de gasolina. Pode parecer bom, pode estar barato, mas se você não souber de onde vem, não confia.”
Ele destacou que as equipes também funcionam assim: não confiamos em quem não conhecemos. Quanto mais rápido conhecemos quem está ao nosso lado — para além das tarefas e dos cargos —, mais rapidamente conseguimos agir com coesão, engajamento e segurança mútua.
No contexto das cooperativas, essa mensagem reforça o valor da proximidade, da escuta ativa e da construção de laços genuínos, seja com os colaboradores, seja com os próprios cooperados.
Confiança como diferencial competitivo
Em um sistema financeiro cada vez mais automatizado e impessoal, a confiança se tornou um diferencial competitivo das cooperativas de crédito. Enquanto grandes bancos se distanciam do cliente, as cooperativas estreitam laços e reforçam a credibilidade local. Essa proximidade permite não apenas prestar um serviço mais humano, mas também construir relações duradouras baseadas em propósito e reciprocidade — algo que nenhuma tecnologia substitui.
Confiança em momentos de crise
Nos últimos anos, a confiança nas cooperativas ficou ainda mais evidente em contextos de crise — seja durante a pandemia, em desastres naturais ou em períodos de instabilidade econômica. Nestes momentos, as cooperativas não se afastaram: ampliaram crédito, flexibilizaram prazos, intensificaram a presença comunitária e mantiveram a escuta ativa. Essa postura solidária reforçou o sentimento de pertencimento e consolidou as cooperativas como instituições confiáveis nos momentos em que as pessoas mais precisam.
Governança, coerência e pertencimento
No campo da governança, a confiança surgiu como elemento indispensável. Não basta cumprir exigências formais — é necessário inspirar credibilidade, escutar os cooperados e praticar a transparência com regularidade.
Ambientes organizacionais com altos níveis de confiança também estimulam inovação, cultura inclusiva e propósito compartilhado.
Conclusão: confiança como força invisível
Ao final da WCUC 2025, uma certeza se fortaleceu: a confiança é a força invisível que move o cooperativismo. E, ao contrário de recursos materiais, ela não se compra — se conquista, se cultiva e se prova diariamente.
É por meio da confiança que as cooperativas se tornam, de fato, instituições transformadoras. Porque mais do que administrar recursos, elas cuidam de pessoas.
Sobre o WOCCU e a WCUC
O World Council of Credit Unions (WOCCU) é a entidade mundial que representa as cooperativas de crédito. Atua na promoção do desenvolvimento, na defesa institucional e na troca de boas práticas entre países. A World Credit Union Conference (WCUC) é seu principal evento global e, em 2025, chega à 20ª edição, reunindo mais de 2.000 líderes de quase 60 países.
Para mais informações sobre a WCUC:
https://cooperativismodecredito.coop.br/tag/conferencia-mundial-das-cooperativas-de-credito/
Elaborado pelo Portal do Cooperativismo Financeiro.