Objetivos globais definidos para o grupo de trabalho
Três frentes de atuação principais foram estabelecidas pelo grupo, com o intuito de fortalecer a identidade cooperativa em escala global:
- Promoção internacional de sítios cooperativos
Inicialmente, locais históricos — físicos e simbólicos — vêm sendo identificados como parte do esforço para valorizar a herança cooperativa. Tanto edifícios, arquivos e sedes fundadoras, quanto práticas culturais e modos de vida baseados em princípios cooperativos, estão sendo considerados. - Estímulo à troca de experiências entre iniciativas históricas
Além disso, a formação de redes entre museus, fundações, universidades e cooperativas com atuação cultural ativa está sendo promovida. Esse intercâmbio de saberes pretende fomentar a educação cooperativa e fortalecer os vínculos entre gerações. - Construção de parcerias e busca de reconhecimento institucional
Por fim, a atuação do grupo contempla a busca por alianças estratégicas com instituições como a UNESCO, objetivando o reconhecimento da cultura cooperativa como patrimônio imaterial da humanidade.
Brasil contribui como mentor estratégico da iniciativa
O Brasil foi reconhecido por sua contribuição técnica e institucional ao ser nomeado mentor do grupo de trabalho. Essa função é desempenhada por Márcio Lopes de Freitas, presidente do Sistema OCB, cuja liderança tem sido fundamental para a estruturação da proposta.
Não por acaso, a proposta de criação do grupo foi apresentada por representantes brasileiros durante a Conferência Global da ACI, em Nova Delhi, no ano de 2024. Desde então, a experiência brasileira tem sido valorizada como modelo inspirador para o movimento global. Um dos exemplos emblemáticos citados é a Sicredi Pioneira RS, a cooperativa de crédito mais antiga da América Latina.
Participação da Sicredi Pioneira RS
O protagonismo brasileiro conta com a presença de Tiago Luiz Schmidt, presidente da Sicredi Pioneira RS, sediada em Nova Petrópolis/RS, entre os membros do grupo. A atuação de Schmidt é vista como representativa da conexão entre o legado histórico do cooperativismo e as iniciativas contemporâneas de preservação cultural.
Em Nova Petrópolis/RS a manutenção do Memorial Padre Amstad está sob a responsabilidade da Casa Cooperativa, com fomento do roteiro histórico em Linha Imperial (Nova Petrópolis), que têm sido reconhecido internacionalmente como modelo de valorização da memória cooperativa.
Representatividade global do grupo
O grupo de trabalho foi estruturado com representantes das diferentes regiões do mundo, conferindo diversidade e legitimidade ao processo. Estão incluídos:
- Ebun Akin-Falaiye (Nigéria – África)
- Rohit Gupta (Índia – Ásia-Pacífico)
- Andreas Wieg (Alemanha – Europa)
- Aicha Errifaai (Marrocos – Europa/Oriente Médio)
- Tiago Luiz Schmidt (Brasil – Sicredi Pioneira RS)
- Márcio Lopes de Freitas (Brasil – Sistema OCB)
- Erbin Crowell (EUA – DotCoop / NFCA)
- Liz McIvor (Reino Unido – Cooperative Heritage Trust)
A coordenação geral está sob responsabilidade de Jeroen Douglas, Diretor-Geral da ACI.
Reunião inaugural realizada em Rochdale
A primeira reunião presencial do grupo foi realizada no dia 30 de junho, em Rochdale, Inglaterra — local considerado berço do cooperativismo moderno. Durante o encontro, representantes de 12 países participaram da definição dos critérios que nortearão a seleção de 25 locais e práticas históricas cooperativas, que serão destacados em um mapa digital mundial. Até o momento 16 locais já foram mapeados.
Esse mapa, que está sendo desenvolvido com apoio da National Cooperative Development Corporation da Índia e da DotCoop, será lançado em novembro de 2025, durante o encontro do Conselho Global da ACI, previsto para ocorrer no Brasil. Junto ao lançamento, uma convocação global para indicações de novos sítios será promovida.
Cultura cooperativa: preservação, educação e futuro
Durante os trabalhos, foi reforçada a importância da preservação cultural aliada à educação. Além do engajamento de jovens e instituições de ensino, foram debatidas estratégias de financiamento, comunicação e alinhamento com plataformas já existentes. O objetivo é garantir que a herança cooperativa seja reconhecida, vivenciada e transmitida.
Um dos exemplos apresentados foi o da cooperativa Coop Ardelaine, da França, que há mais de quatro décadas preserva saberes têxteis tradicionais, promove oficinas culturais e atrai milhares de visitantes em uma experiência de imersão cooperativa.
Integração com a agenda global da UNESCO
Como parte de sua estratégia de longo prazo, a ACI está articulando a inclusão do cooperativismo na pauta da próxima edição da Conferência Mondiacult, promovida pela UNESCO em Barcelona. O objetivo é reforçar o papel das cooperativas como agentes de inclusão social, diversidade cultural e desenvolvimento sustentável.
É importante destacar que, desde 2016, a própria UNESCO já reconheceu práticas cooperativas como patrimônios culturais imateriais, com destaque para:
- as cooperativas de pesca na Ilha de Jeju (Coreia do Sul);
- as cooperativas femininas de óleo de argan no Marrocos;
- os sistemas agrícolas preservados por cooperativas na Noruega.
Um bem cultural da humanidade
A criação do Grupo de Trabalho sobre Patrimônio Cultural Cooperativo representa uma resposta concreta à necessidade de preservar a identidade cooperativa, valorizando sua contribuição histórica e projetando seu papel para as futuras gerações.
Com apoio técnico, institucional e cultural de diversas partes do mundo, a ACI constrói, junto a seus membros, um legado coletivo. Nesse processo, o Brasil tem se destacado não apenas como exemplo histórico, mas também como liderança propositiva e ativa, contribuindo para que o cooperativismo seja cada vez mais reconhecido como um bem cultural da humanidade.
Elaborado pelo Portal do Cooperativismo Financeiro