Atuação das cooperativas no mercado de capitais

Cooperativas no mercado de capitais: oportunidades e desafios para o modelo de negócios cooperativista

O modelo cooperativista vem ganhando destaque como uma alternativa sólida, ética e eficiente dentro do sistema financeiro. Mas como esse modelo pode dialogar com o mercado de capitais, historicamente orientado por estruturas empresariais tradicionais? Essa foi a questão central da mesa-redonda “Oportunidades e desafios para o modelo de negócios cooperativista”, realizada na sede da B3, em São Paulo, em comemoração ao Ano Internacional das Cooperativas.

O debate reuniu representantes de instituições-chave do mercado financeiro: Unicred, CVM, B3 e ANBIMA, que compartilharam experiências, análises regulatórias e propostas para ampliar o acesso das cooperativas ao ambiente de capitais.

A experiência da Unicred com uma DTVM própria

O CEO e diretor executivo da Unicred, Vladimir Duarte, apresentou a experiência da cooperativa com a criação de uma DTVM (Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários), um passo estratégico para oferecer soluções financeiras avançadas aos cooperados.

A iniciativa permitiu à Unicred distribuir produtos de investimento com mais agilidade e controle, mantendo a identidade cooperativa. Segundo Vladimir, essa estrutura possibilita o equilíbrio entre a sofisticação exigida pelo mercado e os princípios de proximidade, confiança e transparência que caracterizam o cooperativismo.

“Conseguimos unir o melhor dos dois mundos: a confiança do relacionamento cooperativo com a sofisticação das ferramentas de mercado.”

O papel da CVM na inclusão das cooperativas no mercado regulado

O superintendente de agronegócios da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), Bruno de Freitas Gomes, defendeu que o avanço das cooperativas no mercado de capitais deve acontecer de forma estruturada e segura.

Segundo ele, a autarquia tem atuado para acomodar a natureza das cooperativas dentro das regras do mercado de capitais, especialmente em operações com CRAs, fundos de investimento e debêntures incentivadas. Ele afirmou que há abertura para flexibilizações e interpretações normativas, desde que respeitados os pilares da segurança jurídica e proteção ao investidor.

“Queremos permitir que as cooperativas acessem o mercado de capitais sem distorcer sua essência, e sem criar fragilidades regulatórias.”

A CVM está aberta ao diálogo com o setor cooperativo, promovendo uma regulação baseada em princípios e adaptada à realidade das instituições associativas.

O compromisso da B3 com o modelo cooperativista

Representando a B3, Fábio Ruh, diretor de relacionamento com clientes, reforçou que o mercado de capitais brasileiro está pronto para receber as cooperativas e que a bolsa tem atuado de forma estratégica para criar ferramentas acessíveis, transparentes e personalizadas para emissores menos tradicionais.

Fábio destacou que as cooperativas, especialmente do setor agropecuário e financeiro, têm se posicionado como atores relevantes na economia brasileira e que a B3 quer ser parceira nesse processo de inserção no mercado de capitais.

“Nosso papel é entender suas particularidades e construir soluções compatíveis com seus valores e estruturas.”

A B3 tem atuado diretamente na estruturação de CRAs, FIDCs e plataformas de financiamento coletivo, e vê no cooperativismo um parceiro confiável para projetos de longo prazo.

A contribuição da ANBIMA na autorregulação e educação financeira

Tatiane Mathieu Itikawa, superintendente da ANBIMA, destacou três áreas principais de atuação da entidade em relação às cooperativas:

  • Autorregulação para garantir segurança e transparência nos produtos financeiros originados ou distribuídos por cooperativas.
  • Educação financeira, tanto para dirigentes quanto para cooperados, preparando o ecossistema para lidar com produtos mais complexos do mercado de capitais.
  • Estruturação de instrumentos financeiros adaptados ao agro e ao cooperativismo, em parceria com agentes do mercado.

“A presença das cooperativas no mercado de capitais não deve ser apenas um movimento tático. É uma construção de longo prazo.”

Tatiane reforçou que o acesso das cooperativas ao mercado de capitais deve ser estratégico e sustentável, sempre respeitando sua base social e princípios democráticos.

Um caminho promissor, mas que exige preparo

A mesa-redonda evidenciou que há um caminho possível e promissor para que cooperativas ampliem seu acesso ao mercado de capitais. No entanto, esse processo requer:

  • Governança robusta e transparente
  • Capacitação contínua de dirigentes e técnicos
  • Apoio regulatório e autorregulatório
  • Parcerias estratégicas com B3, CVM, ANBIMA e OCB
  • Instrumentos financeiros compatíveis com o modelo cooperativo

A sinergia entre os setores está construída. Agora, é hora de avançar com planejamento, prudência e inovação, mostrando que o modelo de negócios cooperativista pode — e deve — ocupar seu espaço também no mercado de capitais brasileiro.


Elaborado pelo Portal do Cooperativismo Financeiro

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